Duque de CAXIAS - LÍDERES

Caxias do alto de uma colina comanda as suas tropas durante a Batalha do Avaí na Guerra do Paraguai



Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, nasceu a 25 de agosto de 1803, na fazenda de Taquaru, próxima à vila de Porto de Estrela, onde hoje é o Parque Histórico Duque de Caxias, no município de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro. Seus ascendentes, todos militares e políticos, desempenharam funções de relevo na vida pública do país, fator este, provavelmente, de grande influência na trajetória de sua carreira.

Luís Alves de Lima e Silva, o famoso Duque de Caxias.

Seu avô paterno, José Joaquim de Lima e Silva, nascido em Portugal, transferiu-se para o Brasil em 1783, como capitão do regimento de Bragança, no Rio de Janeiro, atingindo o posto de marechal-de-campo. Do casamento de José Joaquim com Joana Maria da Fonseca Costa, nasceram filhos que se
destacaram na carreira militar, entre eles, Francisco de Lima e Silva, pai de Caxias.

Casado com Maria Cândida de Oliveira Belo, Francisco de Lima e Silva, pai de Caxias, desempenhou importantes funções. Comandou a expedição militar contra a Confederação do Equador (1824), assumiu a presidência de Pernambuco e exerceu o Comando de Armas, primeiro em São Paulo e depois na Corte. Foi, ainda, membro das duas regências trinas e eleito para uma cadeira vitalícia no senado do Império,  como representante da província do Rio de Janeiro.

A carreira militar de Luís Alves de Lima e Silva iniciou-se aos cinco anos de idade, quando foi titulado Cadete de 1ª classe, no 1º Regimento de Infantaria de Linha do Rio de Janeiro, em cumprimento ao Aviso de 20 de novembro de 1808, época em que a Família Real Portuguesa transfere-se para o Brasil. Cursou, com distinção, a Academia Real Militar durante o período de 1818 a 1821, tendo dedicado especial atenção à engenharia militar, cujo proveito se mostrou evidente nos campos de batalha.

Com a Proclamação da Independência do Brasil, D. Pedro organiza, pessoalmente, em outubro de 1822, no Campo de Sant’Ana, a Imperial Guarda de Honra e o Batalhão do Imperador, tropa de elite, integrada pelos melhores homens, cabendo ao Tenente Luís Alves de Lima e Silva receber, na Capela Imperial, das mãos do Imperador D. Pedro I, a bandeira do Império recém-criada.

Em 1823, o jovem tenente marchou para a Província da Bahia, como ajudante do Batalhão do Imperador, para expelir as tropas portuguesas, comandadas pelo General Madeira de Mello, que se opunham à Independência do Brasil. Em sua primeira experiência de combate, deu mostras de sua bravura ao lançar-se, impetuosamente, com sua espada desembainhada, à testa de sua companhia, ao assalto de uma casaforte guarnecida por caçadores portugueses. Tomados pelo exemplo daquele jovem oficial, seus comandados investiram com coragem e determinação, conquistando o objetivo. Sua conduta lhe valeu, como justa recompensa, o “Hábito do Cruzeiro”, conferido pelo Governo e considerado, na época, a mais alta distinção militar. Esta foi a condecoração de que mais se orgulhou Caxias, em toda a sua carreira.

Ao retornar para o Rio, Caxias é promovido ao posto de capitão, com apenas vinte anos de idade. Sua promoção precoce foi motivo de comentários, mas logo se espalharia a fama de suas virtudes militares e dos exemplos de abnegação e bravura que dera mostras em sua campanha na Bahia. Enviado para Montevidéu, em razão da revolta da Província Cisplatina, em 1825, deu outros exemplos de bravura. Em uma de suas ações audaciosas, liderando um grupo de
militares, atravessou a cavalo as linhas inimigas e apoderou-se de um navio corsário guarnecido por cerca de cinqüenta homens que zombavam, acintosamente, das armas imperiais.

Em outra surtida fulminante, saiu de Montevidéu durante a noite e, numa ação rápida sobre uma linha de postos avançados inimigos, fez mais de trinta prisioneiros. Pela coragem demonstrada, o fato foi citado em Ordem do Dia. Cessada a guerra com aquela Província, em virtude do tratado de paz firmado com o governo argentino, retornou ao Rio de Janeiro, tendo sido promovido a major e assumido o comando do Batalhão do Imperador até a abdicação de D. Pedro I, em 1831.

Após a constituição da regência trina provisória, da qual seu pai fazia parte, passou a defender o novo governo, combatendo eficazmente os diversos movimentos que irromperam no Brasil. Colaborou, também, com o ministro da Justiça Diogo Antonio Feijó, depois regente, e atuou de maneira decisiva na sufocação da Abrilada, em 1832, período de desenfreada anarquia no Rio de Janeiro.

Naquele período, em contraste com os diversos motins ocorridos e apesar do envolvimento da maioria dos oficiais com grupo políticos, Caxias era visto como um soldado que nunca se revoltava. Sua participação na Bahia e na Cisplatina, além de sua brilhante passagem pelo Batalhão do Imperador, revelaram o seu equilíbrio e um rígido espírito de lealdade e disciplina. Diante da crise de confiança que assolava o País, inclusive o Exército, considerado um conglomerado
que reunia homens díspares e heterogêneos, foi criado, em 1831, o Batalhão Sagrado, formado somente por oficiais cuidadosamente selecionados. O General João Manuel de Moraes foi escolhido comandante e o Major Caxias seu segundo comandante, apesar de se terem alistados vários generais. O Batalhão Sagrado foi dissolvido em 1833.

Em 6 de janeiro de 1833, casou-se com D. Anna Luiza de Loreto Carneiro Vianna (Marquesa de Caxias), com quem viveu 41 anos e teve um filho, herdeiro do nome do pai, e duas filhas: Luiza de Loreto Carneiro Vianna de Lima e Maria de Loreto Vianna de Lima. Iniciada a revolta dos Balaios, no Maranhão, em 1839,
foi promovido a Coronel e nomeado, por seu descortino administrativo e elevado espírito disciplinador, Presidente da Província do Maranhão e Comandante das Forças Imperiais, de modo que as providências civis e militares emanassem de uma única autoridade. Sua atuação destacada na derrota dos balaios, trazendo a pacificação das províncias do Maranhão e do Piauí, permitiu que lhe fosse conferido o título de Barão de Caxias, em 1841.

Em 1842, foi nomeado Comandante das Armas da Corte e, no mesmo ano, eleito, por unanimidade, deputado-geral pela Província do Maranhão. No entanto, praticamente não exerceu o mandato em razão da dissolução da Câmara alguns dias após sua posse. Porém, ao romper a revolução liberal em
São Paulo e em Minas Gerais, foi nomeado Comandante-em-Chefe das Forças em operações naquelas províncias, pois D. Pedro II temia que o movimento se alastrasse e pudesse se fundir com a Revolta Farroupilha, que ocorria no sul. Rapidamente, Caxias abafou completamente as revoltas e pacificou as Províncias. Como reconhecimento aos relevantes serviços prestados, foi promovido ao posto de Marechal-de-Campo, quando não contava sequer quarenta anos de idade.
Ao ser nomeado presidente da Província do Rio Grande do Sul, que se encontrava conflagrada desde 1835, cargo que desempenhou simultaneamente com o de comandante das Armas da Corte, reorganizou as Forças Imperiais e infligiu séria derrota aos rebeldes em Ponche Verde, em 1843.

Ao ver assegurado o domínio da situação, ofereceu imediatamente a paz aos adversários, em condições honrosas, insistindo na necessidade de fortalecer a união nacional em razão das ameaças externas. Os esforços do general vitorioso foram coroados com a anistia geral dos rebelados e a pacificação completa da província, permitindo-lhe ser indicado para figurar, em primeiro lugar, na lista tríplice na eleição para a vaga de senador pelo Rio Grande do Sul. Escolhido pelo imperador, em 1º de agosto de 1845, teve a oportunidade de exercer o mandato juntamente com o pai.

Em 1851, é nomeado Comandante-em-Chefe das Forças no Sul para atuar na campanha contra o ditador argentino Juan Manuel Rosas e seu aliado uruguaio Manuel Oribe. Fixando-se em Montevidéu, Caxias executou seu plano militar simultaneamente às ações diplomáticas desencadeadas pelo plenipotenciário brasileiro Honório Hermeto Carneiro Leão, depois Marquês do Paraná.

Após o final da campanha, é promovido a tenente-general e passa a ocupar importantes funções, como a de Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra e Presidente do Conselho de Ministros. Foi elevado a marquês em 1862 e, no mesmo ano, atingiu o posto de Marechal do Exército. A difícil crise surgida em 1866, na guerra do Paraguai, após a derrota de Curupaiti, levou o governo, chefiado por Zacarias de Góis e Vasconcelos, a apelar para o prestígio e a experiência de Caxias. Assumindo o Comando em Chefe das Forças Brasileiras, utilizou longo período de preparação visando fortalecer a disciplina e reorganizar a tropa.

O afastamento de Bartolomeu Mitre, comandante das forças aliadas pelo tratado da Tríplice Aliança, ampliou a ação de Caxias. A famosa manobra do Chaco, na qual foram empregadas, pela primeira vez em operações militares, as aeroestações, balões cativos de reconhecimento e observação das posições inimigas,
exigiu da parte do Exército Brasileiro, especialmente da engenharia militar, esforços extraordinários, e consagrou Caxias como estrategista.
A campanha final, conhecida como “A Dezembrada”, com as vitórias fulminantes de Avaí e Lomas Valentinas, tirou as últimas possibilidades de resistência de Francisco Solano López, mas esgotou fisicamente Caxias. O general brasileiro, já com 65 anos de idade, entrou vitoriosamente em Assunção a 5 de janeiro de 1869, mas a saúde se abalara. Ao retornar ao Rio de Janeiro, em 23 de março de 1869, recebeu o título de duque, fato inédito, pois foi o único concedido a
um brasileiro.

Homenageado pela Câmara de Minas Gerais pelo desempenho na Guerra do Paraguai, Caxias reafirma, da seguinte forma, o seu respeito e admiração pelo Exército: “O Exército Brasileiro que eu tanto me orgulho de haver comandado e dirigido em combates na Guerra contra o Paraguai, muito merece da pátria por seu valor, por sua intrepidez e abnegação, e eu me regozijo ao ter tão bem apreciado seu heróico comportamento, tanto mais que eu fui testemunha de
seus valorosos feitos e compartilhei de seus extraordinários sofrimentos. [...] Como militar eu cumpri o meu dever servindo ao meu soberano e à minha pátria. E apesar de minha avançada idade e de alquebrado pelas fadigas de uma rude campanha, estarei sempre pronto para obedecer ao chamado do Governo Imperial, quando o país carecer de meus serviços militares e civis, até onde chegarem as minhas forças.”

Caxias ainda retornou à política sendo nomeado Conselheiro de Estado em 20 de outubro de 1870. Assumiu, mais uma vez, a chefia do governo, como Presidente do Conselho e Ministro da Guerra, cabendo-lhe a tarefa de encerrar a Questão Religiosa, com a concessão da anistia aos bispos. Cansado
e com a saúde debilitada, retirou-se para sua fazenda Santa Mônica, em Desengano, hoje Juparanã – RJ, onde faleceu em 7 de maio de 1880. Sua última vontade foi satisfeita: “Seis praças de bom comportamento, para colocar-me no fundo da sepultura” .

As Principais Campanhas Militares
Dentre outras participações importantes de Caxias na resolução de conflitos, destacam-se: a Balaiada, a Farroupilha, a Guerra contra Oribe e Rosas e a Guerra da Tríplice Aliança, brevemente abordadas, a seguir.

Balaiada
Iniciada na Província do Maranhão, a Balaiada foi uma insurreição de graves proporções, embora de origens aparentemente humildes. Com suas atenções voltadas para as lutas de maior envergadura que ocorriam no Sul, a Regência não aquilatou imediatamente a sua verdadeira dimensão. Apesar do aspecto lusófobo, o movimento foi também alimentado por motivações sociais e políticas, embora de maneira não bem definida. A região, compreendida entre
os Vales do Parnaíba e do Itapecuru, era a mais rica da Província onde as fazendas dedicadas à lavoura e à pecuária dispunham de mais de 20.000 escravos, sendo este outro fator de apreensões. Soldados remanescentes das lutas pela independência aliaram-se às causas de seus antigos oponentes e se organizaram em bandos que semearam o terror e a morte pelo sertão, configurando-se em precursores do cangaço. O líder Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, conhecido sob a alcunha de Balaio, emprestou seu nome ao movimento que passou ser chamado de Balaiada.

Iniciou-se com o levante ocorrido na Província do Maranhão, em 1838, quando o vaqueiro Raimundo Gomes Vieira Jutaí, o Cara Preta, libertou os presos da cadeia. O levante transformou-se numa vingança coletiva contra fazendeiros e proprietários. Inicialmente, a revolta obteve o apoio da ala exaltada do Partido Liberal sendo, posteriormente, condenada pelos moderados face aos excessos praticados pelos revoltosos, como depredações e assassinatos. A adesão de escravos fugitivos mostrou claramente o aspecto não apenas social e econômico, mas também racial da balaiada, já que reuniu pretos e mulatos, que, aliados a índios e cafuzos, uniram-se contra os portugueses e seus descendentes que constituíam a classe dominante.

Passados dezoito meses de luta, a situação era insustentável, uma vez que as tropas provinciais haviam sido batidas em todos os encontros. Balaio já contava com um exército de cerca de 12.000 homens, com perspectivas de grande crescimento, em razão do número de escravos na região. Para dominar o levante, que se estendera ao Ceará e ao Piauí, e manter a unidade e sobrevivência do Império, o regente Pedro de Araújo Lima, futuro marquês de Olinda, enviou ao Maranhão o coronel Luís Alves de Lima e Silva, nomeando-o Presidente da Província e Comandante das Armas, em 7 de fevereiro de 1840.

Com características diplomáticas, inteligentemente, Caxias alia o seu dom político às suas qualidades de chefe militar, lançando ao povo a seguinte mensagem:
“Maranhenses! Mais militar que político, eu quero até ignorar os nomes dos partidos que, por desgraça, entre vós existem. Deveis conhecer as necessidades e as vantagens da paz, condição de riqueza e prosperidade dos povos, e confiando na Divina Providência, que tantas vezes nos têm salvado, espero achar em vós tudo o que for mister para o triunfo da nossa santa causa.”

Ao mesmo tempo em que atuava politicamente, traçou estratégias para quebrar o moral dos “balaios”, organizou as tropas, iniciou o processo de moralização
da administração pública, refreou abusos, trouxe melhorias aos seus subordinados, elevando-lhes o moral e ganhando a confiança de todos. Sabendo que não enfrentaria um exército regular, providenciou a abertura de vias de penetração para o interior, de modo que pudesse contar com mais mobilidade. Com o apoio das províncias vizinhas, guarneceu as fronteiras e colocou em operação um novo exército, disciplinado e motivado. Com movimentos rápidos e bem coordenados, passou a reconquistar posições, ao mesmo tempo em que um segundo escalão de suas forças cuidava da ocupação e do apoio à população. A
cidade de Caxias é retomada, assim, como as demais localidades em poder dos rebeldes, após sangrentas disputas. Em janeiro de 1841, Caxias havia cumprido integralmente sua missão pacificadora das províncias conflagradas, o que valeu ao comandante a promoção ao generalato e o título de Barão de Caxias.

Farrapos
A revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, estendeu-se por dez anos, entre 1835 e 1845, no Rio Grande do Sul, constituindo-se na mais longa revolução da história do Brasil. Combatentes gaúchos esfarrapados deram o nome ao movimento que representou, na época do Império, séria ameaça à integridade territorial do País.

A Guerra dos Farrapos

Estancieiros liberais separatistas, conhecidos como chimangos, vislumbravam a possibilidade de criar um estado republicano e, para atingir tal objetivo com o apoio das camadas populares, opuseram-se aos adeptos da monarquia, chamados de caramurus. Tendo como mentor intelectual o jornalista Tito Lívio Zambeccari, carbonário italiano exilado, e chefiada por Bento Gonçalves da Silva, a Revolução Autonomista foi desencadeada em reação à pesada taxação
imposta ao charque e aos couros e à suspensão do pagamento das dívidas do Governo Imperial. A revolta eclodiu em setembro de 1835, quando os revolucionários, entre outras vitórias, tomaram Porto Alegre e expulsaram as autoridades legais.

Um ano após, proclamaram um estado republicano, denominado República de Piratini ou Farroupilha, que pretendia constituir uma federação com as províncias brasileiras que a ela aderissem. As lutas prosseguiam e os farroupilhas conquistavam novas vitórias em Rio Pardo e Caçapava, em 1837, estendendo-se à Santa Catarina. Lá, os revoltosos proclamaram, em 22 de julho de 1839, em Laguna, a República Juliana, de curta duração. Mais de dez Presidentes de Província e Generais sucederam-se desde o início da luta, porém sem êxito. As forças governamentais aumentaram a pressão a partir de 1840, mas só em 1842, com a nomeação de Luís Alves de Lima e Silva, barão de Caxias, para Presidente da Província e Comandante das Tropas Imperiais, foi selada a
sorte dos rebeldes.

Logo ao chegar a Porto Alegre, Caxias fez um apelo aos sentimentos patrióticos dos insurretos: “Lembrai-vos que a poucos passos de vós está o inimigo
de todos nós — o inimigo de nossa raça e de tradição. Não pode tardar que nos meçamos com os soldados de Oribe e Rosas; guardemos para então as nossas espadas e o nosso sangue. Abracemo-nos para marcharmos, não peito a peito, mas ombro a ombro, em defesa da Pátria, que é a nossa mãe
comum.”

Porém, os rebeldes, reforçados pelo pacto firmado em Quaraí com o general-chefe do Exército uruguaio, José Fructuoso Rivera, ainda conseguiram importantes vitórias em 1843, mas acabaram neutralizados pelos êxitos de Caxias, no ano seguinte. Concretizada a vitória, Caxias cuidou de atender algumas das mais urgentes reivindicações republicanas dos revolucionários, concernentes à instrução pública e às comunicações terrestres. Em fevereiro de 1845, Bento
Gonçalves se dispôs a negociar o armistício. Um conselho de guerra farroupilha aceitou as condições propostas pelo Governo Imperial. No dia 29 do mesmo mês foi assinada a ata de pacificação. Os chefes revolucionários conseguiram anistia, incorporação às forças do Exército, liberdade para os escravos que lutaram do lado rebelde e a concessão de patente de oficial para os líderes do movimento.

Guerra contra Oribe e Rosas
As mais importantes lutas travadas pelo Brasil-Colônia e pelo Brasil-Império ocorreram na região platina, face à sua importância política e econômica. O choque das correntes colonizadoras hispano-lusitanas foi também alimentado pela cobiça de franceses e ingleses, por interesses diversos de ordem política e econômica. O desmembramento do Vice-Reinado do Rio da Prata, integrado pelos territórios hoje pertencentes à Argentina, ao Uruguai, ao Paraguai e à Bolívia,
criou novas tensões. Em 1811, o Paraguai emancipou-se; o Uruguai, anexado ao Brasil com o nome de Província Cisplatina, surgiu como Estado independente em 1828, como conseqüência da solução política entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, depois da batalha do Passo do Rosário.
Em 1829, apoiado pelos federalistas que desejavam exterminar os unitaristas, D. Juan Manuel Rosas foi eleito Governador da Província de Buenos Aires, posição que manteve por 23 anos, subjugando os governantes das demais províncias.

No Uruguai, o Presidente Rivera, eleito em 1830, transmitiu o cargo ao seu sucessor, Manuel Oribe, após quatro anos de governo. Rivera retomou o poder em 1838, após derrotar Oribe na Batalha do Palmar. Com o objetivo de recompor o antigo Vice-Reinado do Prata, Rosas se constituía em séria ameaça à soberania e integridade do Brasil , do Uruguai e do Paraguai. Rivera aliou-se, então, aos unitaristas anti-rosistas da Província de Corrientes.

Em 1845, Rivera é deposto pelo general argentino Urquisa, que invadiu o Uruguai a mando de Rosas. Oribe, integrantedo Partido Blanco e aliado de Rosas, passa a dominar o Uruguai, exceto a cidade de Montevidéu, principal reduto do Partido Colorado, que ficou sitiada. Em 1850, o Brasil assinou com o Paraguai um tratado de aliança para fazer frente ao objetivo de Rosas de incorporar o Paraguai. Na área do Rio Grande do Sul, ao lado de medidas políticas e econômicas, a movimentação era intensa para o preparo de forças para a guerra iminente.

Em 1851, Rosas resolveu investir contra a Província de Entre Rios, então governada pelo Gen Urquisa e sede de movimentos anti-rosistas. Antigo aliado de Rosas, Urquisa, rebelou-se e se dispôs a colaborar com o Brasil. Os colorados uruguaios ainda permaneciam cercados em Montevidéu. Mediante ações diplomáticas, o Brasil uniu-se aos argentinos que lutavam contra Rosas, conferindo-lhes a chefia da luta.

O então Conde de Caxias foi, novamente, nomeado Presidente do Rio Grande e Comandante das forças brasileiras para fazer frente a Rosas e Oribe, em aliança com Urquiza e Virasoro, este último governador de Corrientes. Os objetivos da aliança eram a defesa dos limites do Brasil com o Uruguai, a manutenção da independência do Uruguai e do Paraguai e a defesa da livre navegação no Rio da Prata.

Em Caçapava do Sul foi construída uma enorme base logística, com o objetivo de aproximar o apoio às operações militares. Caxias acelerou a concentração de suas forças na fronteira Brasil-Uruguai, com o grosso em Santana do Livramento e uma divisão em Jaguarão. Ao Gen Urquiza caberia atravessar o rio Uruguai, sob a proteção da Esquadra Brasileira, operando junção com as forças brasileiras no rio Negro.

Urquiza, tirando proveito da cobertura das forças terrestres brasileiras e da Esquadra, marchou para o sul, sem cumprir o plano pré-estabelecido com Caxias. Obteve êxito na manobra, incorporou a vanguarda e prosseguiu sem se distanciar, porém, das tropas de Caxias que também avançavam pelo Uruguai percorrendo 500Km de terreno difícil, agravado pelo mau tempo.

Oribe enfrentou Urquiza nas proximidades de Montevidéu, mas rapidamente estabeleceram negociações. Urquiza aceitou, com exagerada tolerância, a capitulação de Oribe, sem consulta prévia aos aliados. Porém, o acordo não se restringia a um ato militar, pois traria outras repercussões no campo político.

Em 15 de Outubro de 1851, Caxias operou junção com Urquiza, assinalando o término da guerra contra Oribe e assinalando as bases das futuras operações contra Rosas. Em 21 de Novembro de 1851, foi estabelecido um acordo entre os aliados (brasileiros, uruguaios e argentinos) contra Rosas e não contra a
Argentina. Urquiza comandaria o Exército de Invasão destinado a combater Rosas; Caxias permaneceria no Uruguai, mais especificamente em Colônia do Sacramento; o Brasil contribuiria, ainda, na invasão com uma Divisão e com sua Esquadra.

Sob o pomposo nome oficial “Exército Grande da América do Sul”, os aliados partiram em marcha para Buenos Aires. No dia 3 Fev 1852, teve lugar a vitoriosa batalha de Morón ou de Monte Caseros, na qual a 1ª Divisão Brasileira, destacada das tropas de Caxias, teve marcante atuação ao atacar o centro da posição inimiga, que era o ponto mais forte – El Palomar e Caseros. A vitória sobre Rosas definiu os limites Brasil-Uruguai, confirmou as independências do Uruguai e do Paraguai e permitiu ao Brasil o direito à livre navegação no Rio da Prata.

Guerra da Tríplice Aliança
Maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a guerra do Paraguai, transcorrida entre 1864 e 1870, foi o desfecho inevitável das lutas travadas durante quase dois séculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as repúblicas hispano-americanas pela hegemonia na região do Prata.

O soldado de um Batalhão de Engenharia durante a Guerra do Paraguai. Ele usa uniforme de campanha e equipamento completo. Essa foi a primeira farda usada pelos engenheiros de combate do Exército Brasileiro.

Na época do conflito, o Império do Brasil emergia como a nação mais influente e bem organizada da América do Sul, cuja posição havia sido fortalecida no continente após o período de lutas contra Rosas e Oribe. O marechal paraguaio Francisco Solano López, que sucedera ao pai no poder no momento em que arrefecera a rivalidade entre a Argentina e o Brasil, pretendia tornar o Paraguai uma potência platina, capaz de competir igualmente com a Argentina e o Brasil, os dois pólos de poder do continente. Sob a alegação de que ações diplomáticas de seus vizinhos prejudicavam seu comércio e traziam ameaças à integridade e à soberania de seu país, López desejava criar uma confederação das populações hispânicas do interior, reunindo o Paraguai, as províncias argentinas de Entre
Ríos e Corrientes, o Uruguai, o Rio Grande do Sul e a parte meridional do Mato Grosso.

Diante da inviabilidade de seu plano por meios diplomáticos, López preparou sua nação para a guerra e, já em 1864, em flagrante contradição com os recursos de que dispunha, o Paraguai surgia como a principal potência militar do Prata. A captura do navio mercante brasileiro Marquês de Olinda, que subia o rio Paraguai, deu início ao confronto. Outras ações se sucederam, com a invasão da província de Mato Grosso, onde foram dominados: o Forte Coimbra,
Albuquerque, Corumbá, Dourados, Nioaque, Miranda e, por último, Coxim, em abril de 1865. López visava iludir o Exército Brasileiro no norte do Paraguai para decidir a guerra no sul.

Com a recusa do presidente argentino Bartolomeu Mitre de autorizar que tropas paraguaias cruzassem seu território para atuar no sul do Brasil, López declarou guerra à Argentina. A conseqüência imediata foi a formação, em 1º de maio de 1865, da Tríplice Aliança, que reunia o Brasil, a Argentina e o Uruguai. Uma expedição de cerca de 2.500 homens partiu para combater os invasores em Mato Grosso. Porém, a tropa desgastada só atingiu as regiões atacadas quando as mesmas já estavam abandonadas. Rumando, a seguir, para o território paraguaio, foi rechaçada pelo inimigo em Laguna, sendo perseguida e obrigada a recuar, ação que ficou conhecida como a “Retirada da Laguna”.

A expressiva vitória da esquadra brasileira, comandada por Francisco Manuel Barroso da Silva, em 11 de junho de 1865, na Batalha do Riachuelo, mudou os rumos da guerra, pois impediu o avanço de López, obrigando-lhe a recorrer, a partir de então, à defensiva. Simultaneamente, as tropas imperiais repeliam o exército paraguaio que invadira o Rio Grande do Sul. Com a rendição de Estigarribia, comandante paraguaio, as forças aliadas partiram para a ofensiva.
Com o apoio da esquadra imperial, o General Manuel Luís Osório transpôs o rio Paraná, conquistando Passo da Pátria.

Em Tuiuti, ocorreu a mais sangrenta batalha já realizada na América do Sul, mas as tropas aliadas conquistaram expressiva vitória, apesar de inicialmente surpreendidas por um ataque paraguaio. O caminho para Humaitá, onde estavam postadas as tropas paraguaias, entretanto, não fora desimpedido.
Para atingir tal objetivo, o comandante Mitre decidiu atacar as baterias de Curuzu e Curupaiti. Entretanto, apesar de conquistarem Curuzu, as tropas aliadas foram dizimadas pelo inimigo em Curupaiti.

A partir de novembro de 1866, o Marquês de Caxias, passa a assumir o comando das forças brasileiras e, em seguida, assume também o comando das forças aliadas, quando Mitre se vê obrigado a retornar ao seu país em razão de uma crise interna. Caxias dedicou-se de imediato à reorganização do Exército, que começava a sofrer os perigos da desagregação, devido ao insucesso de Curupaiti e da crise de comando que se seguira ao conflito. Constituiu, ainda, um corpo de saúde não só para recuperar o grande número de feridos, mas para deter os progressos da cólera que grassava nos dois campos.

A ofensiva foi retomada em julho de 1867, com a marcha de flanco sobre a ala esquerda das fortificações paraguaias, na direção de Tuiu-Cuê. Embora bem-sucedida, López já havia fortalecido a sua posição. Em 1º de agosto, Mitre retornou ao comando dos aliados e ocupou, em 15 de agosto, Curupaiti, mas foi detido diante dos poderosos canhões de Humaitá. A derrota causou novas dissensões no alto comando aliado, uma vez que os brasileiros consideravam imprudente e inútil prosseguir, enquanto não se concatenassem ataques terrestres para envolver Humaitá. A proposta brasileira foi, desta vez, aceita e ações
simultâneas foram desencadeadas, acompanhadas de sucessivas vitórias. Com o afastamento definitivo de Mitre, que retornou à Argentina, Caxias reassumiu o comando geral dos aliados. Em 19 de fevereiro, a esquadra imperial forçou a passagem de Humaitá que, totalmente cercada, caiu em 25 de julho de 1868.

Com a ocupação de Humaitá, Caxias concentrou as forças aliadas na região de Palmas, fronteiriça às novas fortificações inimigas. Situadas ao longo do arroio Piquissiri, essas fortificações barravam o caminho para Assunção, apoiadas nos dois fortes de Ita-Ibaté (Lomas Valentinas) e Angostura, este à margem esquerda do rio Paraguai. Reconhecimentos efetuados deram conta de forte esquema defensivo paraguaio, impossibilitando ataque frontal. O comandante brasileiro idealizou, então, a mais brilhante e ousada operação do conflito, com o objetivo de envolver as tropas paraguaias de norte para sul: a manobra do Piquissiri.

O fuzil Minié francês foi adotado pelas forças brasileiras

Em vinte e três dias fez construir uma estrada de onze quilômetros através do Chaco pantanoso que se estendia pela margem direita do rio Paraguai. Executou-se, então, a manobra: três corpos do Exército Brasileiro, com 23.000 homens, foram transportados pela esquadra imperial de Humaitá para a margem direita do rio, percorreram a estrada do Chaco, reembarcaram em frente ao porto de Villeta, e desceram em terra no porto de Santo Antônio e Ipané, novamente
na margem esquerda, vinte quilômetros à retaguarda das linhas paraguaias do Piquissiri. López foi inteiramente surpreendido por esse movimento, tamanha era sua confiança na impossibilidade de grandes contingentes atravessarem o Chaco. As vitórias em Itororó, Avaí, Piquissiri, Lomas Valentinas e Angostura, que constituíram os episódios da “Dezembrada”, permitiram a ocupação de Assunção em 1º de janeiro de 1869.

Prosseguindo na resistência, López ainda refez um pequeno exército de 12.000 homens e 36 canhões na região montanhosa de Ascurra-Caacupê-Peribebuí. Caxias, por motivo de saúde, regressou ao Brasil. Em abril de 1869, assumiu o comando geral das operações, o marechal-de-exército Gastão d’Órléans, conde d’Eu, genro do imperador, que empreendeu a chamada campanha das cordilheiras, chegando à vitória final em Cerro-Corá, onde López, cercado pelas
tropas brasileiras, foi morto após recusar-se à rendição, em 1º de março de 1870.

Em 20 de junho de 1870, Brasil e Paraguai assinaram um acordo preliminar de paz. O tratado definitivo de paz entre Brasil e Paraguai, assinado somente em 9 de janeiro de 1872, consagrava a liberdade de navegação no rio Paraguai e as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra. Em 1943, o Brasil perdoou a dívida de guerra paraguaia, estipulada por esse tratado.

Caxias, Estrategista e Líder Militar
Como chefe militar, Caxias sempre se preocupava com todos os detalhes das operações, sob todos os aspectos. Estudava o inimigo, preparava o terreno, reorganizava as forças de que dispunha e procurava conhecer a capacidade de seus homens. Agia no lado psicológico, além de desenvolver, paralelamente, ações nos campo político e diplomático. Notabilizou-se como estrategista máximo no continente ao utilizar, pela primeira vez em operações militares,
as aeroestações, e ao realizar a manobra de flanco de Piquissiri, através do Chaco, desembarcando na retaguarda do inimigo. Empregando com inteligência o Princípio da Surpresa, surpreendeu o adversário, abreviando a duração do conflito. Com extraordinária visão, Caxias distribuía as suas forças e atacava com grande mobilidade e vigor, no momento exato. As decisões eram rápidas e precisas, como em Itororó, Avaí e Lomas Valentinas, batalhas empenhadas,
simultaneamente. Os estudos preliminares e o planejamento eram sempre realizados meticulosamente, com especial atenção ao apoio logístico.

Como líder militar, um grande momento a ser lembrado foi em Itororó. No instante em que suas tropas estavam acuadas e diante da indecisão de seus comandados, Caxias, já com 65 anos de idade, desembainhou a sua invencível espada de cinco campanhas e, erguendo-a, bradou com determinação: “Sigam-me os que forem brasileiros!”. Sem vacilar, avançou em seguida sobre a ponte com o seu cavalo,  arrastando com entusiasmo todo o seu Exército, para colher
expressiva vitória.

A Contribuição Política
Caxias havia assumido a Presidência das Províncias do Maranhão e do Rio Grande do Sul, motivado pela necessidade de pôr fim aos conflitos naquelas regiões, embora julgasse a ocupação de um cargo político incompatível com a função militar.

Entretanto, após o sucesso alcançado na pacificação daquelas províncias, viu-se seduzido pela carreira política, espelhando-se na trajetória do pai. Assim, Caxias ocupou a cadeira de senador do Rio Grande do Sul, abrindo-lhe horizontes até então desconhecidos. Entretanto, mesmo como senador, conservou-se sempre general e sua presença no Senado foi útil ao Exército, uma vez que mostrou-se sempre atento aos interesses da Força. Destacou-se pela oratória, em
especial pela maneira clara com que expunha suas idéias e deixou perene o seu trabalho, como estadista e intelectual, por meio do Manifesto de Cartagena, da Carta da Jamaica e a primorosa oração do Congresso do Panamá.

Filiado ao Partido Conservador, enquadrou os deveres do mandato à disciplina militar, projetando-se no cenário nacional como atuante legislador. Três vezes Presidente do Gabinete de Ministros, foi também Ministro da Guerra por mais de seis anos, descontínuos, sendo respeitado pelos mais ardorosos adversários.

Quando Ministro da Guerra, tratou de reorganizar o Exército, introduzindo profundas mudanças, inclusive na doutrina, considerando sempre as características de nosso povo e a natureza de nossos conflitos, afastando-se dos modelos preconizados por Portugal e França. Criou as repartições do Quartel Mestre General, órgão encarregado da Logística, e a do Ajudante-General, que passou a assumir o comando direto sobre os Comandos das Armas das Províncias e sobre o Comando das Armas da Corte. Anteriormente, todos os negócios do Exército eram conduzidos pelos Ministros da Guerra, figuras geralmente
políticas e pouco conhecedoras dos problemas militares. A criação de uma repartição estável e apolítica, comprometida com os interesses da Força, constituiu-se em significativo avanço.

Foram construídos os fortes de Uruguaiana, Corumbá e Tabatinga, com reflexos na defesa da fronteira e na Geopolítica Brasileira. Criou, no Rio Grande do Sul, o Corpo de Transportes, os Cursos de Infantaria e de Cavalaria. Reformulou e criou novos regulamentos, alterou os critérios de promoções, trabalhou para a criação do serviço militar obrigatório, e para a criação das Colônias Militares, que se constituíam em grande avanço no tocante à expressão geopolítica. As Colônias Militares visavam disseminar núcleos políticos nacionalizadores em vazios demográficos, junto às nossas fronteiras.

Em tais núcleos eram aproveitados militares reformados, com a dupla missão de ocupar política e economicamente aquelas áreas e defendê-las, se necessário, como ocorreu em Dourados, sob a liderança do Ten Antônio João e seus comandados. Entre muitas outras ações, destacam-se, ainda, a criação da Escola Militar da Praia Vermelha e o do Quartel Central do Exército, no Campo de Santana.

Pacificador e Consolidador da Pátria
A extraordinária biografia do glorioso Duque de Caxias coincide com um dos ciclos mais turbulentos e importantes da História do Brasil: o da consolidação da unidade política de nossa Pátria.

Alguns autores afirmam que o Brasil só se tornou Nação quando Caxias se fez soldado. Esta afirmação se deve ao fato de que a sua espada assegurou não só a unidade nacional, mas também a integridade do País, ameaçada por países vizinhos. Por ter sufocado conflitos internos, foram atribuídos a Caxias os títulos de Pacificador e de Libertador, pois ao mesmo tempo em que combatia as idéias e os movimentos que visavam retaliar o território brasileiro, buscava sempre
afastar a incômoda interferência estrangeira. Sua atuação firme, eficaz e, ao mesmo tempo, conciliadora, consolidava não só a Independência, mas também o Império, e criava um forte espírito de coesão e de nacionalismo.

Antes de agir com a força nos movimentos internos, Caxias sempre apelava para os sentimentos patrióticos do povo ou buscava uma solução política. Assim, em São Paulo, escreveu uma carta ao comando da resistência, representado pelo ex-regente Feijó, que se unira aos revoltosos, contendo os seguintes dizeres:
“Que pretende? Quer V.S. empunhar as armas contra o governo legítimo de nosso Imperador? Não o creio porque o conheço de muito tempo, sempre trilhando o caminho do dever e da honra [...]. Acabo de chegar da Corte munido de autoridade para tudo aplanar. Não tenho sede de sangue dos meus patrícios, porém não deixarei de cumprir os meus deveres como militar. Ainda é tempo, não ensangüentemos o solo que nos viu nascer e não acendamos a guerra civil nesta bela província para não a vermos reduzida ao estado do Rio Grande de São Pedro do Sul e sua vizinha. (Santa Catarina). Responda-me e não se deixe fascinar por vinganças alheias.”

Não atendido em seu apelo, Caxias teve de cumprir seu dever com firmeza. Caxias não pode ser considerado apenas um sufocador de revoluções, mas um militar voltado para os objetivos maiores da Nação e um estadista que influenciou, diretamente, os rumos da nossa História. Pacificador do Brasil, foi também libertador do Uruguai, da Argentina e do Paraguai.

A participação na “Balaiada” firmou a reputação de Caxias não somente no campo militar, como estrategista e condutor de homens, mas também no campo político e administrativo, sabendo muito bem utilizar elementos essenciais, do psicológico ao tático.

Em Farrapos, Caxias não conquistou apenas a Província, mas conquistou, também, o seu povo, pacificando-a para sempre. Assim como na Balaiada, ao
empossar-se Presidente da Província, dirige apelo ao povo gaúcho, exortando-o a um esforço comum pela paz e, quando à frente das tropas, prepara inicialmente o terreno para depois atacar com rapidez e energia.

Vale lembrar que o sucesso obtido por Simon Bolívar com a emancipação da Venezuela, arrastou outras colônias da Espanha, desmoronando e fragmentando
um poderoso Império. Ao se notar o caráter separatista do movimento no Rio Grande do Sul, o Brasil, diante da competente atuação de Caxias, não só se manteve coeso como se viu fortalecido em sua posição no Continente.

Reconhecimento
Pelos seus serviços, Caxias recebeu todas as honrarias de que dispunha o Império. Foi o único brasileiro a atingir o ducado e a merecer a grã-cruz da Ordem de Pedro I, Fundador do Império do Brasil.

Em 1923, o Exército consagra sua data natalícia como “Dia do Soldado” e, em 1953, por ocasião do sesquicentenário de seu nascimento, institui a Medalha do Pacificador. Em 1962, pelo decreto 51.429, de 13 de março, o governo brasileiro proclama-o “Patrono do Exército Brasileiro”. Sua escolha como patrono constitui uma justa homenagem àquele que dedicou à Pátria e ao Exército mais de 60 anos de relevantes serviços, sendo sempre lembrado, não só pelos
seus feitos, mas também por suas irretocáveis qualidades morais. De seus feitos militares marcantes, venceu todas as seis campanhas que participou: as campanhas internas pacificadoras da Balaiada, de São Paulo, de Minas Gerais e a Revolução Farroupilha; as externas, das guerras contra Oribe
e Rosas e da Tríplice Aliança contra o Paraguai, além de haver dirigido o Exército, de forma marcante, como Ministro da Guerra, por três períodos.

Seus restos mortais, solenemente trasladados do cemitério de São Francisco de Paula, no bairro carioca do Catumbi, jazem no panteão erguido em frente à antiga sede do Ministério da Guerra. Para lá se transferiu também a estátua eqüestre de autoria de Rodolfo Bernadelli, antes inaugurada no Largo do Machado.

Em várias cidades do Brasil erguem-se monumentos em sua homenagem. Em mais uma justa homenagem ao maior de todos os soldados do Brasil, desde 1931 os Cadetes do Exército, da Academia Militar das Agulhas Negras, portam como arma privativa, o Espadim de Caxias, cópia fiel, em escala, do glorioso e invicto sabre de campanha de Caxias que, desde 1925, é guardado como relíquia pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Pela Lei nº 10.641, de 28 de janeiro de 2003, o nome do Duque de Caxias foi inscrito no “Livro dos Heróis da Pátria” existente no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília, juntamente com o de Tiradentes. A importância de Caxias para a Nação Brasileira não se restringe aos seus feitos heróicos em ações de combate. O alcance de suas ações é muito mais amplo e significativo, pois foi ele Pacificador e Libertador. Coube a Caxias a obra patriótica de preservar a nossa unidade geográfica e política. Hoje, considerando-se o território sul-americano, o Brasil ocupa a metade de suas fronteiras e encerra mais da metade
de sua população. Este é o legado de Caxias, para orgulho de todos os brasileiros!

Fonte: Military Review l 4o Trim 2003


 

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