GUERRILHA E CONTRA-GUERRILHA NO ARAGUAIA - ANOS 1970


Esta é uma história ainda envolta em muito nevoeiro. Muitas das informações são contraditórias ou insuficientes, mas é um tema que deve ser abordado mesmo assim por seu valor histórico, político e militar. As informações aqui contidas foram colhidas de várias fontes na internet, e tentamos montar um quadro geral do que de fato aconteceu na época.

 


 

No Brasil as forças do governo enfrentaram uma guerrilha do Partido Comunista do Brasil (PC do B) na região do rio Araguaia que abrangia uma área em torno de sete mil quilômetros quadrados, indo da cidade de Xambioá até no sul do Pará, nas proximidades de Marabá. A guerrilha foi combatida pelo Exército brasileiro a partir de 1972, quando vários de seus integrantes já haviam se estabelecido na região há pelo menos seis anos.

O combate a guerrilha foi travado debaixo de uma forte censura pois segundo os militares, se notícias sobre essa luta de guerrilha se espalhassem poderiam surgir outros movimentos semelhantes em várias regiões do Brasil, e isto ocasionaria uma eclosão de violência na região rural, o que poderia vir a gerar uma desestabilização do país.

Os guerrilheiros

Os guerrilheiros do PC do B começaram o seu treinamento ainda no ano de 1964, quando os primeiros elementos iniciaram a sua formação político-militar na China, visto que o Partido adotou a linha de guerra popular prolongada de inspiração maoísta, avesso as outras organizações de esquerda armada que advogaram a opção  guevarista e se aproximaram de Cuba (como a ALN, MR-8, MOLIPO e VPR, esta também com apoio argelino). Nesta guerrilha 70% dos guerrilheiros eram oriundos da classe média e tinham profissões liberais como médicos, dentistas, advogados e engenheiros. Havia também bancários e comerciários. Sabe-se que menos de 20% eram camponeses, e que estes eram recrutados na região do Araguaia. A quantidade de operários que participavam do movimento guerrilheiro mal chegava aos 10% do total. Em média, a idade predominante era em torno de trinta anos. Em maio de 1972, eram cerca de 80 guerrilheiros, dos quais cerca de 15 eram mulheres. O movimento era organizado em um Birô Político, uma Comissão Militar e três Destacamentos, cada um com três Grupos de 8 a 10 guerrilheiros.

Montagem com fotos 3x4 de alguns dos guerrilheiros

A Força de Guerrilha do Araguaia (FOGUERA), como se auto-intitulou o movimento revolucionário, foi patrocinada por grande soma de recursos proporcionados pelo Movimento Comunista Internacional, a maioria dos quais provenientes da Albânia. O comprometimento do Partido Comunista da Albânia com a FOGUERA era de tal ordem que todos os dias, às 21:00 h, hora local de Xambioá, um programa com uma hora de duração, em língua portuguesa, ia ao ar pelas ondas curtas da Rádio de Tirana. Tratava-se de uma programação especificamente dirigida ao movimento do Araguaia, e os fatos mais recentes ocorridos na área eram transmitidos sempre dando uma conotação heróica à atuação da guerrilha. Havia uma rede rádio de longo alcance integrando a força de guerrilha, uma estação intermediária e Tirana. Desmantelar esta conexão rádio foi um dos primeiros desafios superados com sucesso pelos órgãos de informações e segurança.

Na medida em que iam chegando à região, adquiriam a confiança dos moradores agindo como agricultores, farmacêuticos, curandeiros, pequenos comerciantes, donos de pequenas vendas de beira de estrada, além de outros tipos de ocupações comuns no interior do Brasil. Nunca conversavam entre si, e nunca moravam próximos uns dos outros. Integravam-se às comunidades onde agiam, participando de todos os eventos, sendo desta maneira absorvidos por estas. Não atuavam e não influíam nas políticas locais, não se envolviam em discussões políticas para evitar o despertar de desconfianças. Suas atividades principais se baseavam no ensino do trabalho comunitário, voluntariado e assistencialismo. Quando podiam, ajudavam os moradores com medicina, odontologia, ajudavam nas escolas, davam aulas, ensinavam a população como organizar e realizar mutirões. Agindo da forma descrita, aos poucos o grupo foi ganhando respeito e admiração da população local.

A FOGUERA era na realidade uma força de guerrilha em estágio inicial, ainda incipiente. Seu armamento se resumia a armas curtas, armas de caça e alguns fuzis Mauser M98 1908, em calibre 7 mm obtidos de ações isoladas contra postos da Polícia Militar do Pará.

Entre as organizações de esquerda que participaram da luta armada, apenas o Partido Comunista do Brasil tinha capacidade militar para combater na selva. Alguns de seus integrantes haviam sido treinados na China. No trecho acima, explica-se que a escolha da selva para operações guerrilheiras havia dado bons resultados no Vietnã, na Malásia e em Angola

Porque essa região?

A área escolhida para a implantação da guerrilha foi o “Bico do Papagaio”, no Estado de Tocantins, limitado, ao sul, pelo paralelo que passa pelo município de Araguanã; pelo rio Araguaia, a oeste; e pelo rio Tocantins, ao norte e leste. Genericamente chamado de Araguaia pelas partes conflitantes, o palco de operações, forrado por exuberante floresta equatorial, reunia excelentes condições para o esforço do PC do B na conquista do apoio da rarefeita população de cerca de 20 mil habitantes, em aproximados 7.000 km2, historicamente esquecida por todas as esferas governamentais e vítima de graves carências sócio-econômicas. Os conflitos de terra e a pobreza eram motes valiosos para o trabalho de massas, assim como qualquer paliativo que viesse trazer alívio aos efeitos das deploráveis condições médico-sanitárias existentes.

A área geográfica apresentava características favoráveis para os guerrilheiros. A topografia de planalto cortada pelo rio Araguaia que nela cavou sua planície de inundação era mascarada pela vegetação de floresta ainda densa. A Serra das Andorinhas apresentava-se como área mais elevada e serviu como refúgio dos guerrilheiros e local de abrigo para os camponeses em busca de terra. Se a Guerrilha não tivesse sido derrotada ainda no início, aquela serra poderia ter seu destino semelhante ao da Serra Maestra para os guerrilheiros cubanos.

 Serra das Andorinhas, no que tange a vegetação e um terreno montanhoso, desenvolve densas florestas capazes de limitar a visão a 3 ou 4 metros de distância, obrigando sempre a abertura de picadas. Nestas condições, o uso dos mapas torna-se quase improdutivo porque não se consegue visualizar o que está contido nele. Normalmente se usasse a bússola como instrumento de orientação. Ela foi utilizada tanto pelos guerrilheiros quanto pelas Forças Armadas. Uma questão limitante, no entanto, é com relação ao fato de não ser esta uma área de fronteira. Na maioria dos países, naquela época e, inclusive atualmente, as guerrilhas têm como característica comum a sua localização na fronteira, principalmente quando o e/ou países, do outro lado da fronteira, mantêm relações litigiosas provenientes, em alguns casos, de reivindicações a determinadas áreas e/ou algum outro tipo de interesse estratégico, tais como, localização geográfica e a existência de preciosas fontes de matérias-primas. Essa contradição era e é explorada por etnias e grupos políticos que vêem na guerrilha, única alternativa de ação política para atingir seus objetivos.

Mas a o local era uma região central, com enormes chances de cerco total à área por parte das forças militares governamentais e de povoamento recente e cuja massa camponesa não me parece, ter tido até à época, uma tradição de luta organizada menos porque viviam sob o domínio de relações semi-servis do que pelo desenvolvimento de uma consciência crítica acerca de suas condições de trabalho e, sobretudo, da ausência de um instrumento organizacional que forjasse, nessas pessoas, um sentimento de solidariedade política comum, relativa à solução de sues mais candentes problemas. Os guerrilheiros, em que pese terem consciência desse fato, jamais teriam tido tempo suficiente para penetrar na cultura camponesa da região.

Armas da guerrilha

As armas da guerrilha de um modo geral não eram boas e seu poder de fogo bem pequeno. Os guerrilheiros estavam armados principalmente com espingardas e revolveres. Enquanto davam um tiro, os militares com seus fuzis FAL podiam disparar 20 em rajadas de três tiros. Depois os guerrilheiros conseguiram alguns fuzis Mauser M98. Os soldados tinham a orientação de atacar em resposta um tiro que recebesse em vez de procurar se proteger, isto porque possuíam armas automáticas e o guerrilheiro perderia tempo em remuniciar sua arma. Também faltava aos guerreiros explosivos, pólvora, dinamite, etc. o que impediu que eles fabricassem minas. O uso de minas poderia ter criado sérias dificuldades aos soldados. A pouca pólvora que tinham, em geral, era reservada para os cartuchos de espingarda. Poucas foram as armas que conseguiram no curso da luta. Na verdade cada guerrilheiro tinha um revólver com quarenta balas. O conjunto dispunha ainda de quatro metralhadoras, duas de confecção doméstica, e mais de 25 fuzis e rifles. Era menos de uma para cada dois guerrilheiros. Somando-se a elas trinta espingardas e quatro carabinas, as armas longas eram 63. Faltavam oito para que cada combatente tivesse a sua.

Fuzil Mauser M98 1908



A tática dos guerrilheiros para com a população local

Eles tratavam a ocupação valendo-se da linha de Ernesto Guevara, ou seja, tentando conquistar a população com atitudes assistencialistas, posto que o estado era ausente na região. Após um ano de atuação os grupos lá estacionados, já julgavam possuir condições de articulação da população em curto período com mobilização para defesas, baseadas nas táticas empregadas por Ho Chi Min no Vietnã e em Cuba, por Fidel Castro. Ocorre que, contrariamente ao esperado, os guerrilheiros não encontraram o apoio necessário na população local, bem como de seus próprios pares em outras regiões do país, ficando praticamente isolados na selva, lutando quase sem recursos.

Reação do governo federal

A ação de repressão da força legal pode ser dividida em três fases, quais sejam: a 1ª Fase, de abril a outubro de 1972; a 2ª Fase, de abril a agosto de 1973; e a 3ª Fase, de setembro de 1973 a março de 1975.

O governo brasileiro soube das ações do PC do B por duas fontes. Pedro Albuquerque (Peri) e sua mulher abandonaram o PC do B, em 1971, e, em janeiro 1972, ele foi preso em Fortaleza. Ele falou sobre a montagem da guerrilha. A segunda fonte foi Regina, mulher de Lúcio Petit da Silva, que morreu junto com dois irmãos em combate. Doente, Regina saiu da região do Araguaia e, “pressionada pela família, revelou ao Exército aquilo que sabia da ‘área prioritária’”, conta o jornalista Elio Gaspari.

Um dos mais graves equívocos cometidos pelas forças federais foi iniciar as operações contraguerrilha desencadeando ações que são normalmente efetuadas contra forças de guerrilha já nos seus estágios finais de organização e construção, quando já prontas para seu emprego em combate.

A 1ª Fase

A primeira tropa chegou no dia 12 de abril de 1972. Os militares promoveram manobras de reconhecimento, integradas basicamente por conscritos, recrutas de 18 e 19 anos. Houve várias missões de reconhecimento, batizadas com nomes como Operação Peixe, Ouriço e Olho Vivo.

Na verdade para os militares quase tudo deu errado. Eles mobilizaram 170 homens e foram embora em 40 dias. Os guerrilheiros comemoraram a vitória. Os militares, então, começaram a ocupar a região com operações de apoio social à população abandonada, enviando médicos, dentistas e sanitaristas. Batizaram essas ações de Operação Presença.

Destacamento de conscritos do Exército possam para foto ao lado de um helicóptero UH-1H da FAB durante a Operação Papagaio

Até esse ponto, os fatos teriam ocorrido dentro da normalidade de uma guerra convencional — até onde se pode considerar “normal” uma guerra fratricida e desproporcional em contingentes, humanos e materiais. Mas as Forças Armadas ainda combatiam com tropas fardadas. Enterravam nos cemitérios de Xambioá e Marabá os guerrilheiros que morriam em combate, ainda que sem identificação. Todos os prisioneiros dessas duas fases voltaram vivos para as cidades.

A Operação Papagaio envolveu cerca de oitocentos homens. Seu poder de fogo concentrava-se nas tropas profissionais e de elite. Do Rio de Janeiro vieram 26 combatentes das forças especiais da Brigada Pára-Quedista.

A Operação Papagaio começou mal. No primeiro choque com a guerrilha uma patrulha desfez-se. Na tarde de 5 de maio, uma ‘turma de informações’ foi emboscada na beira de um riacho. Os guerrilheiros dispersaram a tropa, feriram um tenente, um sargento e mataram o cabo Odílio Cruz Rosa, da 5ª Companhia de Guardas, de Belém. Num novo choque, um soldado teria sido morto e um sargento, ferido. Um guia, o camponês China, escondeu-se por dois dias num brejão e sumiu.” China disse: “Os soldados não entendiam nadinha de mato”.

Esta foi uma fase onde foram cometidos muitos erros. Um dos principais foi o entendimento errado do estágio da guerrilha. Os militares acreditavam que a FOGUERA estava na fase de Exército de Libertação Nacional, planamente formada como força combatente, e então se adotou erroneamente ações de contra-guerrilha do tipo "martelo-bigorna", "pistão-cilindro", etc.Uma das primeiras operações efetuadas na área foi uma ação de vasculhamento na única serra existente na região, a serra das Andorinhas, que se caracterizava por não ter cobertura vegetal. Após ser bombardeada com napalm pela Força Aérea, a serra foi objeto de uma vigorosa ação de cerco e busca efetuada por um grande efetivo. E o resultado foi nulo porque os guerrilheiros nunca lá estiveram. Por outro lado, no terreno de selva, as patrulhas se deslocavam com um efetivo de pelotão, 35 a 40 homens, pelas trilhas, enquanto os grupos da guerrilha se deslocavam através selva, com um efetivo de 5 a no máximo 10 elementos. Dessa forma as ações iniciais se mostraram extremamente ineficazes.

Outro problema foi a falta de unidade de comando provocada, sobretudo, pelo fato de que a base de combate de Marabá estava sob o controle do Comando Militar da Amazônia, enquanto a de Xambioá estava sob o do Comando Militar do Planalto (CMP). Uma simples solicitação de evacuação aeromédica provocava um complexo problema de coordenação.

A inteligência foi muito deficiente nesta fase. Não se conhecia o dispositivo e a composição da FOGUERA. As informações sobre o valor eram extremamente difusas. Com relação às atividades recentes e atuais, e peculiaridades e deficiências, praticamente nada. As tropas federais também não conheciam bem a região, faltavam mapas e fotos do teatro de operações, por isso os militares tinham que recorrer à orientação de "mateiros" nativos da região, que ajudaram como guias das patrulhas. Essas patrulhas só se deslocavam pelas trilhas, enquanto os guerrilheiros, profundos conhecedores do terreno, sempre através selva.

Outro ponto falho a ser destacado era a falta de homogeneidade da tropa e a qualidade do treinamento. Existiam unidades de várias partes do país, alguns com treinamento deficiente em contraguerrilha. Existiam ainda tropas formadas por conscritos, imaturos psicológicas, que não tinham ainda completado nem a metade do ano de instrução, sendo comandados por oficiais da reserva. Isto gerou inúmeras baixas pela execução de disparos acidentais e por disparos equivocadamente realizados quando do encontro inadvertido entre patrulhas na selva.

Para piorar o quadro, diferentemente da força de guerrilha que já estava na área há algum tempo e lá permanecia, a tropa era empregada por períodos predeterminados, não mais de 20 dias, findos os quais retornava à sua sede, sem ser substituída. Esta descontinuidade trazia enormes prejuízos para as operações e graves reflexos negativos sobre a população.

Em setembro de 1972, as Forças Armadas voltaram a atacar. A ação envolveu uma brigada de infantaria, forças especiais da Brigada Pára-quedista, um contingente de fuzileiros navais e uma Ala Numerada da Força Aérea. Nada menos que 3.260 homens combateram por 12 dias, todos regularmente fardados, na maior mobilização militar do País desde a II Guerra Mundial. Também havia homens do CIE (Centro de Informação do Exército).

Em Brasília, diante do insucesso da primeira investida militar, o general Milton Tavares, chefe do CIE, linha dura do Exército, convenceu o ministro Orlando Geisel a desencadear uma operação de guerra de grande porte, batizada de Manobrão. Os estrategistas militares decidiram adotar a tática da bigorna e martelo, ou seja: o grosso do efetivo cerca a região, enquanto pelotões invadiam a mata e empurrava os guerrilheiros em direção à tropa. Mas o plano não funcionou. Os chefes militares desconheciam as dimensões da área de atuação da guerrilha - maior do que a Itália.

Deu quase tudo errado. A guerrilha atacou uma base do 2º Batalhão de Infantaria de Selva e matou o sargento Mário Abrahim da Silva. A força militar não conseguiu chegar a um só refúgio dos guerrilheiros.

Na verdade, nada estava bem para a guerrilha, pois entre abril e outubro de 1972 a guerrilha perdera dezenove combatentes. Oito morreram em áreas de combate ou em emboscadas. Quatro foram assassinados depois da captura. Outros sete foram aprisionados e e remetidos a Brasília. Até então, não se matava todos os capturados. Por isso, José Genoíno e Glênio de Sá não morreram.


Apesar de todas estas deficiências, há que se ressaltar positivos na
1ª fase. Foi possível infligir 15 baixas na força de guerrilha, também foi possível cortar as ligações dos guerrilheiros com o Partido, e com as fontes de recursos, e cerca de 20 combatentes do destacamento C ficaram isolados, pois a guerrilha ficou dividida pelos militares. Em menos de um mês, a tropa capturou cinco guerrilheiros. Na verdade no primeiro conflito, o Exército combateu “apenas o destacamento C”. E é muito importante se destacar que houve uma conscientização geral em todos os escalões de comando sobre a gravidade da situação no chamado "Bico do Papagaio". Diante dos resultado obtidos nesta fase, em outubro de 1972, foi decidido em Brasília, pelo mais alto escalão da Força Terrestre, interromper as operações.

Nesta fase apesar de tudo que os militares passaram as perdas maiores foram, de fato, da guerrilha, que não tinha, aliás, seu plano B, pois não pensou em recuar, para o Xingu, como sugeriu Osvaldão, que era considerado um combatente “defensivo” por um dos líderes da guerrilha.

Deve-se registrar, que aconteceram excessos de ambos os lados. Da parte dos militares, prisões arbitrárias, espancamento de moradores, a morte de dois camponeses sob a custódia do Estado, como já dito, além da morte de quatro guerrilheiros que, a rigor, a tropa poderia, com algum empenho, capturar vivos e levar aos quartéis. Da parte dos guerrilheiros, justiçamentos. Um jovem camponês, de 17 anos, que guiou um grupo de militares ao esconderijo dos guerrilheiros, foi capturado, julgado por um Tribunal Revolucionário e executado a golpes de facões. Logo após a segunda campanha, teria havido a execução de mais três camponeses suspeitos de colaborar com o governo, e de pelo menos um companheiro de guerrilha. Sobre essas duas campanhas, a historiografia disponível é rica em relatar e analisar os detalhes.

2ª Fase - "Operação Sucuri"

Houve um período entre novembro de 1972 e outubro de 1973, que os guerrilheiros não sofreram baixas. Os guerrilheiros chamam esse período de “trégua”. As Forças Armadas, contudo, usaram esse tempo para promover operações de reconhecimento e de assistência à população. Conseguiram infiltrar no convívio com os guerrilheiros 30 militares, 5 oficiais e 25 soldados, cabos e sargentos de carreira
do DOI de Brasília e da 3ª Brigada de Infantaria. Quase todos caboclos, cafuzos e mamelucos, gente vinda das camadas populares da sociedade, muitos deles conhecedores dos traquejos dos camponeses e moradores da floresta. Essa grande ação de espionagem e infiltração foi batizada de "Operação Sucuri". Esta foi planejada levando-se em consideração todos os ensinamentos colhidos na 1ª fase. Esta operação foi planejada nos seus mínimos detalhes e cuidadosamente desencadeada. E os seus resultados foram excepcionais, tendo sido possível atingir plenamente todos os objetivos.

Os militares disfarçados foram enviados em maio de 1973 para o Araguaia, seguindo a mesma técnica de disfarce que beneficiara o PC do B”. Uma espécie de chefão era o major Gilberto Airton Zenkner, do CIE. Este é um nome que não aparece em outros livros. Um dos operadores da nova estratégia, diretamente no front, era Marco Antônio Luchini, o Major Curió. O militar Nonato, disfarçado, chegou a participar de reunião dos guerrilheiros “para discutir o funcionamento da escolinha local”.

Através das informações obtidas nesta operação ficou muito claro para o escalão superior que o problema não poderia ter apenas uma solução militar. Haveria necessidade de se integrar a ação de diversos órgãos governamentais civis de nível federal e estadual, para que se efetuasse a eliminação completa do foco subversivo.

Algo importante a destacar é que segundo o depoimento do general Adyr Fiúza de Castro o instrutor dos guerrilheiros brasileiros em Cuba era um agente da CIA. Ele entregava ao CIE, na época do general Milton Tavares de Souza, chefe do Centro de Informações do Exército, CIE, a relação de todos os brasileiros que lá treinavam, o aproveitamento, o codinome que tinham.

A 3ª fase - "Operação Marajoara"

Esta operação decidiu o conflito. Nesta fase a unidade de comando ficou perfeitamente definida, cabendo ao CMA o exercício pleno do comando e controle, inclusive das diversas agências governamentais federais e estaduais civis envolvidas.

No dia 7 de outubro de 1973, cerca de 750 membros das tropas especiais do Exército, escalonados em três grupos de 250 homens, operando em rodízio, pois o planejamento de emprego considerava o prolongamento das operações por tempo indeterminado, dai o revezamento do efetivo total entre três grupos de 250, resultando em preciosa recomposição no moral e estado físico dos combatentes.

As tropas entraram na selva em trajes civis com a única missão de extirpar os guerrilheiros, com máximo rigor e precisão cirúrgica. É bom lembrar que a Aeronáutica participou dessa fase com apoio aéreo e agentes de informações do seu centro de informações, o CISA. A Marinha só participou da Segunda Campanha, com um destacamento de fuzileiros navais. Os homens do Exército saíram do Araguaia em fins de setembro de 1974, com a guerrilha completamente dizimada. Foi nesse período de um ano que teriam ocorrido violações sistemáticas dos Direitos Humanos e das Convenções de Genebra, com tortura, decapitações e execução de prisioneiros.

O Dia-D do Araguaia

O Dia D foi marcado para 7 de outubro de 1973 – de acordo com o Dossiê Araguaia — e a partir de então, seguindo o jargão militar, todos os preparativos antes e os acontecimentos depois seriam chamados de D menos cinco, por exemplo, ou D mais três. Poucos fatos na história brasileira foram tão cobertos de sigilo quanto o desembarque no Araguaia nessa Terceira Campanha.

Para esta fase foram selecionados efetivos profissionais das mais bem adestradas unidades de infantaria de selva e dos batalhões de infantaria pára-quedista. Um rigoroso programa de adestramento foi conduzido tanto nas sedes quanto na área, enfatizando-se, sobretudo, o exercício da liderança nos diversos escalões. Muitos dos militares da Operação Marajoara tinham o Curso de Guerra na Selva, ministrado no antigo Centro de Operações na Selva e Ações de Combate (COSAC), atual Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), com sede em Manaus, AM.

O Dossiê Araguaia revela que a operação teve início, na verdade, ao pôr-do-sol do dia D menos um, a 6 de outubro de 1973, quando três aviões C-115 Buffalo, decolaram da Base Aérea do Galeão levando uma Companhia, com 110 homens, da Brigada de Pára-Quedistas. Desembarcaram em Xambioá. No Dia D menos quatro (03 de outubro de 1973), já haviam partido da Base Aérea de Brasília partiram dois aviões C-47 do Correio Aéreo Nacional, levando um grupo de 48 agentes de informações, 24 em cada aeronave. Um grupo foi para Xambioá, o outro para Marabá. De Belém, cerca de 130 homens com treinamento em Guerra na Selva.

As tropas de selva

Os homens do Exército que vieram da Região Norte eram especialistas em guerra de selva. Eram 60 militares da 8ª Região Militar e mais 60 da 12ª Região Militar de Manaus. Por exemplo, os 60 militares da 8ª RM que participaram das ações desta operação receberam treinamento no interior da selva do Amapá de técnicas de combate à guerrilha: orientação na selva com bússola, pelo sol e pelas estrelas; sobrevivência na selva; emboscada; contra-emboscada; tiro instintivo com vários tipos de armas (Fuzil Automático Leve-FAL calibre 7.62, Para-FAL 7.62, revólver calibre .38, pistola 9 mm e .45, espingardas calibre 12 (de 1 e 2 canos), 16 e 20, fuzil calibre 22 com silenciador); deslocamento na selva; transposição de cursos d’água; pistas de cordas (rapel, falsa baiana, comando crow, cabo aéreo e ponte de 2 e 3 cordas); primeiros-socorros; base de patrulha; zona de reunião; e trato com a população. Todo esse treinamento era feito com munição real, não com festim, para dar maior realismo. Os outros 60 militares, da 12ª RM, estavam sendo treinados no COSAC.

 

As tropas do Exército estavam bem armadas com o potente Fuzil Automático Leve - FAL, de calibre 7.62mm

No dia 29 de setembro de 1973, os 60 militares da 8ª RM viajaram em um avião C-115 Búfalo, da FAB, para Belém, onde foram alojados no 2º Batalhão de Infantaria de Selva (2º BIS). Nesse quartel, os militares continuaram o treinamento com armas: lançador de granadas (M-79), metralhadora Beretta cal 9 mm, metralhadora HK cal 9 mm, fuzil automático norte-americano (M-16) e granadas de mão defensivas. No dia 1º de outubro, chegou de Manaus um avião C-130 Hércules, da FAB, trazendo os 60 combatentes que haviam sido treinados no COSAC. No dia seguinte, o contingente de 120 militares, 60 da 8ª RM e 60 da 12ª RM, juntamente com mais alguns oficiais oriundos do Comando Militar da Amazônia (CMA), embarcou no mesmo avião para Marabá-PA.

Antes da Partida - Novas identidades

Antes de viajar para cumprir a missão, os militares tiveram que adquirir material diverso, como calças jeans, camisas de cor escura, facas, facões, 4 m de plástico para dormir na selva e confeccionar mochilas de sacos de estopa para o transporte de alimentos, armas e munição. Além disso, todos os militares tiveram que providenciar uma procuração, em nome da esposa, mãe ou pai, para recebimento do pagamento enquanto estivessem ausentes ou até mesmo em caso de óbito. Para a missão de combate na selva, os militares passariam a atuar descaracterizados fisicamente: barbudos, cabeludos, roupas civis, cada um adotando um codinome, como no caso do Sgt Vilhena que passou a ser o “Navalhada” e o Sgt Vargas que passou a ser o “Chico Dólar”. Na verdade durante esta terceira fase, todo o efetivo militar envolvido, inclusive o pessoal da Força Aérea, passou a operar descaracterizado, em trajes civis. Como "estória de cobertura", a tropa atuaria como se fossem elementos pertencentes aos quadros da Política Federal ou a órgãos do governo como o INCRA, ou ainda como funcionários de empresas de fachada como a Agropecuária Araguaia, para os homens do Exército e a DDP Mineradora, para o pessoal da Aeronáutica. Esta decisão foi tomada, principalmente, a fim de negar o reconhecimento de que efetivos das forças armadas estavam sendo empregados num problema de defesa interna dessa natureza.

A descarecterização das forças militares, segundo informações, foi adotada devido a informações que pessoal da inteligência militar coletou sobre a intenção do PC do B de transformar a região numa zona liberada, obtendo o reconhecimento, por parte de organismos internacionais, de que havia uma situação de guerra interna. Para não permitir que o inimigo lograsse seu intento, as Forças Armadas passaram a atuar em trajes civis, nenhum veículo militar foi usado e as aeronaves foram descaracterizadas. Assim, oficialmente ficava mais difícil comprovar tal situação.

As bases de combate

Três bases de combate foram instaladas para as operações. A primeira delas era a "Casa Azul", sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), localizada no Bairro do Amapá da cidade de Marabá-PA, logo após o Rio Itacaiúna, e onde ficava a base de comando de combate, as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA). Esse era o principal posto de comando da operação, que se reportava diretamente ao CIE, em Brasília. Essa casa era chamada de "KGB-2", uma referência ao serviço secreto soviético. O "KGB-1" era a barraca que ficava no centro das operações da segunda campanha, onde os generais Bandeira e Tavares se reuniam e decidiam sobre o rumo do trabalho.

 

Havia também uma base em Xambioá, e outra em Bacaba, às margens da rodovia Transamazônica. Foi estabelecido um eficiente e seguro sistema de comunicações que permitiu o funcionamento do sistema de comando e controle em muito boas condições. Da mesma forma, foi estabelecido um eficiente sistema de apoio logístico que levou em consideração as características altamente especiais da missão e do ambiente operacional.

A chegada

A chegada e o desembarque dessa tropa foram realizados de forma a não chamar a atenção da população local. A coordenação dessa pequena operação de desembarque no Araguaia coube ao brigadeiro Roberto Faria Lima, comandante do Comando Geral do Ar. Até então, os combates no Araguaia eram tão sigilosos que apenas no dia D menos dois, ou seja, véspera do desembarque das tropas, Faria Lima foi procurado pelo brigadeiro Newton Vassallo, chefe do CISA. Só então ficou sabendo que ainda havia uma guerrilha no Araguaia. Superior na hierarquia, Faria Lima era tenente-brigadeiro (quatro estrelas), último posto na carreira e Vassallo era brigadeiro-do-ar (duas estrelas), Faria Lima se mostrou furioso com Vassallo por não ter sido informado antes do problema. Vassallo explicou que, até aquele momento, o assunto estava exclusivamente com o ministro Araripe Macedo. Faria Lima aceitou levar tropas numa missão secreta, portanto, sem que qualquer registro oficial deixasse rastros para a história.

Ao chegarem em Marabá e Xambioá, já de madrugada, os grupos seguiram imediatamente para seus postos de combate transportados em cerca de 30 caminhões emprestados pelos governos de Goiás e do Pará. Nenhum veículo das Forças Armadas foi utilizado na área do conflito. A tropa de operações na selva posicionou-se nas imediações de Bacaba; os pára-quedistas ficaram perto de Xambioá. Ninguém poderia descer dos caminhões para que não fossem vistos pela população. Ninguém usava uniforme militar. Todos eles, sem exceção, portavam identidades falsas. Até os oficiais. E nem mesmo os oficiais superiores sabiam da verdadeira identidade dos soldados.

Inteligência

Os militares recém-chegados receberam do Centro de Informações do Exército (CIE), atual Centro de Inteligência do Exército (CIE), os seguintes documentos:

- Normas Gerais de Ação – 5 Set 73 – Trato com a população - que tinha como finalidade “recordar a importância da população no quadro da guerrilha rural e realçar alguns dos aspectos mais importantes no trato com a mesma”;

Essas “Normas Gerais” emitiam alguns conceitos preliminares, como “subversão” e “guerrilha”, além de afirmar que “a população é o meio, o instrumento e a condição essencial para o sucesso da guerrilha” (pg. 38). Lembra a máxima de Mao Tsé-Tung, para quem “a população é para o guerrilheiro, como a água é para o peixe” (pg. 39)

As “Normas Gerais” também lembram as ações de caráter psicológico com as quais o guerrilheiro espera conquistar o apoio da população:

- A propaganda ostensiva e subliminar, como emprego de panfletos, contatos pessoais e reuniões com grupos, sempre tentando denegrir o trabalho do governo, especialmente o das Forças de Segurança;

- A tomada de posição do menos favorecido, pregando a “justiça social”;

- O incentivo ao agravamento dos conflitos sociais existentes, entre esses a posse de terras, a desigualdade das classes sociais, o trabalho semi-escravo, a carência de assistência educacional e sanitária;

- A exploração de divergências entre grupos sociais, seja de caráter político, religioso, econômico ou ideológico;

- A coação, gerando o medo e o pavor entre a população, com assassinatos (“justiçamentos”), seqüestros, assaltos, sabotagens, delações, sempre com vista a deixar a população em estado permanente de terror.

As “Normas Gerais” dizem como deve ser feita a neutralização das ações terroristas sobre a população:

- A ação do poder público, em todos os níveis (do federal ao municipal);

- A ação do poder militar para destruir e neutralizar a força guerrilheira;

- Um órgão central, planejador e coordenador das ações, para conjugar os esforços para a conquista dos objetivos desejados;

- O tratamento dispensado à população pela força militar, de modo que ela tenha a sensação de segurança e tranqüilidade, cujas prescrições são enunciadas abaixo:

“ - Tratar com educação e consideração todos os membros da população;

- Pagar o que utilizar e devolver o que pedir emprestado;

- Ser solícito e prestimoso na medida de suas possibilidades;

- Nunca prometer o que não puder cumprir;

- Ouvir muito, falar pouco;

- Ser paciente e atencioso;

Respeitar a família, os habitantes e costumes da população;

- Evitar a arrogância, o excesso e abusos de autoridade, em situações normais;

- Tratar com energia e discrição todos os prisioneiros apanhados entre os componentes da população, mesmo o infiltrado;

- Evitar cenas públicas, que de alguma maneira possam chocar a população; e

- Denominar os terroristas de “Comunistas”

- Plano de Captura e Destruição - onde estavam relacionados todos os grupos de guerrilheiros que atuavam na região, levantados pelo CIE. Esses eram os grupos de “Piauí” (Antônio de Pádua Costa) e “Zé Carlos” (André Grabois) que tinham prioridade “um” para captura e destruição, e os grupos de “Nelito” e “Zezinho”, cuja prioridade era “dois”, sem presenças confirmadas na área. Todos atuavam nas localidades de Fortaleza, São José I, Caçador, Chega com Jeito e Pavão, e as localidades que os apoiavam eram Bom Jesus, Metade e São Domingos das Latas.

O grupo de “Osvaldão” (Osvaldo Orlando da Costa), a prioridade para captura e destruição era “um”, tinha presença confirmada na região. Esse grupo atuava nas regiões de Santa Luiza, Viração, Grota Vermelha, Grota do Jenipapo, Joça, Grota da Laje e Mina Velha (área compreendida entre o Saranzal e o Jacaré Grande). As localidades que o apoiavam eram: Palestina e Brejo Grande.

O grupo de “Mundico”, a prioridade para captura e destruição era “um”, com presença confirmada na área. Atuava na região de São Raimundo e as localidades que o apoiavam eram: Pimenteira, Cajueiro e Castanhal do Evandro.

- Plano de Busca e Apreensão - onde eram relacionadas as localidades onde os guerrilheiros comunistas deveriam ser feitos prisioneiros e suas prioridades para captura.

Os povoados onde se encontravam os camponeses a serem presos estavam assim relacionados:

- Em Bom Jesus: José Salim (Salu), Leonel, Severino (consta ter um filho servindo na Companhia de Marabá-PA), Oneide (tem casa em Marabá, na Rua São Pedro – Casa de Ana Barbosa), João Mearim e Luiz, todos com prioridade “um” para sua captura. E Luizinho, Leonda e Salomão, com prioridade “três”.

- Em Santa Rita: Manoel Cícero, com prioridade “três”.

- Em Itamerim: André e Zé de tal (o guia Jerônimo é quem conhece a casa), ambos com prioridade “um”.

- Em Brejo Grande: Bernardino, com prioridade “um”, e Vicente (capataz de Zé Oliveira), com prioridade “dois”.

- Em Cristalândia: João Murada, com prioridade “quatro”.

- Em Centro de Osorinho: Mulher e filho de 18 anos, com prioridade “três” ” (pg. 37).

; e

- Coletânea de fotos de guerrilheiros, plastificadas.


Início da 3ª Fase

Aos militares que chegaram foram agregados 35 homens que tinham participado da "Operação Sucuri". Um grupo, ao norte da Transamazônica, estava encarregado de caçar os guerrilheiros do destacamento "A". Outro, em Xambioá, procurava os guerrilheiros do destacamento "B", aos quais tinham se incorporado os remanescentes do "C", desmantelado na segunda campanha.

No Dia D, dia 7 de outubro de 1973 foi efetivamente iniciada a 3ª Fase de combate à guerrilha, que teve características totalmente diferentes das duas anteriores. Com a presença dos homens da Operação Sucuri foram formados pequenos grupos, com seis ou sete militares. Cerca de 30 diferentes grupos foram organizados. Entraram imediatamente na mata. Haveria muito trabalho a partir da alvorada.

A tropa penetrou na selva descaracterizada, passando a usar trajes civis como já falado antes. Com exceção do armamento, que era padronizado - e cada grupo possuía um grande poder de fogo - os equipamentos, tais como mochilas, etc, foram utilizados a critério de cada um, considerando que deveriam ser o mais confortável possível, de forma a enfrentar longas caminhadas através da selva.

Quando o Dia D terminou, uma centena e meia de pessoas estava presa. O Exército havia feito um “arrastão” com todos moradores da região suspeitos de colaborar com os guerrilheiros. Eles foram apontados pelos agentes da Operação Sucuri como amigos dos guerrilheiros, ou simplesmente fornecedores de suprimentos. Eram chamados de “apoio”. De início, alguns deles foram colocados em dois buracos cavados ainda nos tempos da Segunda Campanha dentro das bases de Bacaba e Xambioá. As valas tinham três metros de comprimento, dois de largura e três de profundidade. Não havia latrinas. Nem telhado para proteger os ocupantes do sol da Amazônia – ou da chuva. Os buracos foram fechados por grades de ferro. Quase totalidade, contudo, foi mantida fora dos buracos. Todos eles sofreram fortes pressões psicológicas; alguns levaram surras – mas não tortura, algo muito mais grave. Essa ação teve como objetivo, além de retirar o apoio da Guerrilha, deixar claro a essas pessoas de que lado estavam a Lei e a Ordem. Segundo informações na reeducação dessas pessoas teve que ser empregado algum rigor, uma vez que segundo o Exército, o caboclo daquela região só conhecia uma lei: a lei do mais forte. Mesmo porque não havia tempo de usar a psicologia. O Exército queria fazer entender quem, a partir daquele momento, estava mandando. Após, todos os detidos foram liberados e passaram a temer mais ao Exército do que aos guerrilheiros.

Tais colaboradores, cerca de 160 pessoas, foram conscientizados sobre a ilegalidade das suas ações, tiveram atendidas importantes necessidades básicas, como a expedição de certidões, registros de identidade e titulação de terras, o que neutralizou a doutrinação político-ideológica a que estiveram submetidos por longo período. O governo levou para a região, carente no que tange a um sistema público de serviços básicos, dentistas e médicos. Distribuiu remédios e vacinas. O INCRA distribuiu terras nas áreas próximas às bases da Guerrilha e prometeu para o final da guerra, principalmente às proximidades de Brejo Grande, 30 lotes com os respectivos títulos de propriedade para os Bate-Paus que atuavam como guias das Forças Armadas à procura dos guerrilheiros. Cartazes com o propósito de estimular a deserção foram afixados nas casas próximas aos Destacamentos, com a seguinte frase: Guerrilheiro, se você se arrependeu e quer abandonar a Guerrilha, é só procurar uma pessoa da população. Ela irá atrás do Exército.

Com a prisão dessas pessoas os guerrilheiros foram privados da sua rede de apoio. A privação da rede de apoio foi severo revés infligido a FOGUERA, uma vez que se constituíam na mais importante base de informes e na única fonte de suprimentos, como o simples e imprescindível sal de cozinha.

Com os dados colhidos pela Operação Sucuri também se montou um cerco estratégico da área com o emprego das Polícias Militares de Goiás e do Pará no bloqueio das estradas e caminhos de saída, retirando completamente da FOGUERA qualquer apoio do mundo exterior e o contato com o Partido.

O general Antonio Bandeira ocupa o lugar de líder de fato do combate aos guerrilheiros, sendo substituído depois pelo general Milton Tavares de Souza, do CIE.  Bandeira foi o principal elo entre as tropas regulares e a comunidade de informações. Por ironia, consolidou a hegemonia desse grupo na operação quando já estava oficialmente fora dela, no comando da Polícia Federal em Brasília. Começou a perder a liderança sobre a comunidade no governo Geisel, ao não aderir à candidatura do "duro" Silvio Frota à Presidência. Mas também não apoiou o candidato de Geisel, João Figueiredo. Acabou de perder quando ganhou a quarta estrela de Geisel. A comunidade viu aí uma negociação com Geisel.

A comunidade de informações, no entanto, manteve a hegemonia das operações na terceira campanha. Orlando Geisel, ministro do Exército do presidente-general Emílio Garrastazu Médici, entregou o comando geral para o chefe do CIE, general Milton Tavares, ordenando que se reportasse exclusivamente a ele. A partir de março de 1974, quando Geisel assumiu a Presidência, o comando da "Operação Marajoara", como foi chamada a terceira campanha, passou a ser do general Confúcio de Paula Avelino.

Nos primeiros três meses da "Operação Marajoara", o chefe do Estado-Maior foi o tenente-coronel Wilson Romão, relata Studart. Foi substituído por Flávio Demarco, o "Tio Caco", que se reportava ao ministro, não ao general Tavares. Era o "Tio Caco" quem estava no comando, portanto, na fase mais violenta da atividade dos militares na região. Existiam três equipes de operações e também pequenas equipes de inteligência.

Primeiras baixas

O primeiro homem a morrer na Terceira Campanha, em 13 de outubro de 1973, foi o guerrilheiro André Grabois, o Zé Carlos, comandante do Destacamento A e filho do comandante-em-chefe Maurício Grabois. Tombou aos 27 anos, em combate contra a equipe do Dr. Asdrúbal (major Lício Augusto Ribeiro Maciel), formada neste episódio, por dez homens, oito militares e dois guias da região. Tombaram juntos outros três guerrilheiros, o estudante João Gualberto Calatroni, o Zebão, o estudante Divino Ferreira de Souza, o Nunes, e o camponês Antônio Alfredo Lima.

Três semanas antes do início da Terceira Campanha, José Carlos havia liderado um ataque ao posto da Polícia Militar do Pará na Transamazônica. Os guerrilheiros tocaram fogo no telhado de palha do posto, prenderam os policiais e foram embora com fuzis, munição e roupas. A ação repercutiu na região. Nas primeiras horas do Dia D, Exército já estava engajado na caçada ao grupo de Zé Carlos. Naquele mesmo dia, orientadas pelos agentes da Operação Sucuri, as tropas chegaram ao sítio do camponês Antônio Alfredo, colaborador do Destacamento A.

Seis dias depois, em 13 de outubro, o grupo estava no sítio do camponês Antônio Alfredo, colaborador dos guerrilheiros. Mataram dois porcos a tiros. A equipe do Dr. Asdrúbal estava por perto. É Asdrúbal quem relata: “Estávamos quase desistindo de procurá-los. Mas aí escutamos tiros, a menos de 300 metros, e fomos atrás, até enxergamos. (...) Tinham caçado dois porcos, fizeram lá um caçuá grande, para carregar, e estavam senhores da situação. Eu puxava o corpo, rastejando. O cara que estava de costas pra mim, que era o Zé Carlos, estava sentando num toco, com o gorro da PM na cabeça (...) Quando eles ficaram em linha, não dava mais pra rastejar. O Zé Carlos, sentado, estava com um fuzil apoiado nas pernas. Eu me levantei. Ele me olhou. Eu gritei: ‘Fica quieto’. Ele tentou pegar a arma. Um deles atirou. E atirou em mim. Aí pronto. Foi aquele tiroteio desgraçado. Um deles, o João Araguaia, fugiu. O soldado devia ter atirado, mas não atirou. Eu gritava: ‘Atira, desgraçado, atira!’. E o cara não atirou. Ele tremia”. O grupo foi enterrado à beira da rodovia Transamazônica, nas imediações da base militar de Bacaba – ano e meio depois, teriam sido todos eles exumados para cremação.

Em 24 de outubro de 1973, a equipe de Dr. Asdrúbal conseguiria um novo troféu: a guerrilheira Maria Lúcia de Souza, a Sônia, uma das mais conhecidas do Araguaia. Sua morte, envolta em heroísmo e violência, povoa ainda hoje o imaginário dos guerrilheiros, dos moradores da região e, principalmente, dos militares. Segundo relatos Sônia reagiu à ordem de prisão do Dr. Asdrúbal, foi ferida e ainda assim atirou com um revolver, acertando o rosto de Asdrúbal e o braço de outro oficial que vinha atrás, o Dr. Curió. Apanhada pelos sargentos Cid e J. Peter, quando lhe perguntaram o nome, respondeu: “Guerrilheiro não tem nome”. Seu discurso revolucionário na hora da morte ecoa até hoje no imaginário dos militantes do PC do B e dos moradores da região.

Para os comandantes militares, o ato de Sônia, logo na seqüência da reação de Zé Carlos, seria usado como justificativa definitiva para a violência utilizada na repressão aos guerrilheiros do Araguaia. Sobre a morte de Sônia, o ex-ministro do regime militar e ex-senador Jarbas Passarinho disse que “o episódio prova a radicalização e a total inexistência de escrúpulos de ambos os lados”.

O corpo de Sônia foi deixado insepulto no local em que morreu. Ela não foi enterrada pela equipe que a abateu, pois, segundo alegam, era mais urgente salvar a vida do oficial que estava gravemente ferido, o Dr. Asdrúbal, que estava inconsciente, perdendo muito sangue por conta de um tiro que lhe esfacelara o rosto. Ou seja, os militares preferiram usar as energias para salvar a vida do companheiro ainda vivo do que perder tempo com uma inimiga já morta. Até aí, trata-se de um ato sensato. Mas Sônia também não foi enterrada pela equipe que desceu a fim de fotografá-la para reconhecimento posterior em Brasília. Ano e meio antes, o guerrilheiro Osvaldão, havia proibido o sepultamento do cabo Rosa, sob pena de execução sumária de quem o desobedecesse.

Os guerrilheiros perderiam um terceiro homem naqueles primeiros dias. Paulo, codinome de um membro do Destacamento A, desertou. Ele usava uma identidade falsa, com o nome de João Carlos Borgeth. Nem mesmo os próprios companheiros de guerrilha sabiam seu verdadeiro nome. Formara um casal com a Maria Célia Corrêa, a Rosa, que permaneceu na área após sua fuga, foi aprisionada pelos militares e, antes de ser executada, contou que estava no Araguaia para acompanhar o homem que amava. Três décadas depois, os militantes do PC do B ainda acreditam que Paulo fosse espião, infiltrado pelos militares. No início, os próprios militares achavam que ele tivesse sido justiçado pelos guerrilheiros. Em setembro de 2004, um dos militares que ajudaram a elaborar o Dossiê Araguaia descobriu que Paulo estava vivo, trabalhava como acupunturista em Niterói (RJ) e que seu nome verdadeiro é João Carlos Campos Wisnesky.Alguns militares não descartam a possibilidade de Paulo ter sido um informante cooptado pelo governo. Afinal, coincidentemente, ele desertou na véspera da Terceira Campanha. Mas dos militares não apresentam qualquer informação precisa sobre o assunto. Ou seja, não se sabe ao certo se Paulo pertencia a alguma rede de informantes ou se apenas desertou.

Existiam duas equipes de "operações especiais", responsáveis pela execução dos guerrilheiros presos. O recrutamento era feito entre agentes do CIE e do CISA. Cerca de 15 militares chegaram a fazer parte desses grupos. Depois, foram constituídas duas equipes fixas de "operações especiais", chamadas "Zebra" e "Jibóia", encarregadas de "fazer" os prisioneiros, ou seja, executá-los.

Segundo Curió até o meio da terceira campanha houve combates, mas, a partir do meio da terceira campanha para frente, houve uma perseguição atrás de rastros. Os rastros eram seguidos por duas, três semanas.

Terceirização da Luta

Em meados de novembro de 1973, segundo informações havia 38 guerrilheiros em condições de combate. Nos dias subseqüentes, mais quatro deles seriam abatidos. Arildo Valadão, o Ari, do Destacamento C foi o primeiro em 13 de novembro. Pode-se dizer que tenha sido a primeira vítima da aliança entre militares e os jagunços. Os Grupo de Autodefesa (GAD) formados por jagunços deram certo, e os militares foram muito auxiliados pelos moradores da região na caçada aos guerrilheiros. Havia guias remunerados. Não pegavam em armas, apenas guiavam. Havia também os mateiros. Esses andavam armados e iam à frente das patrulhas, como guias. Ganhavam por isso. Os guerrilheiros chamavam os dois grupos – tanto os guias quanto os mateiros – de “bate-paus”.

As novas táticas criadas e recriadas pelos militares não ficariam por aí. A idéia seguinte a ser adotada seria a terceirização da caçada aos guerrilheiros. Convocaram então os “bate paus” para fazer o serviço. Entrariam sozinhos mata adentro caçando guerrilheiros à velha moda dos jagunços. A tática foi concebida dentro de uma equipe de informações que atuava em Xambioá. Os militares espalhavam na região que estavam pagando por cabeça de guerrilheiro. A primeira idéia é que cada guerrilheiro vivo valeria 5 mil cruzeiros e cada morto valeria 10 mil. Com um pouco mais dava para comprar um Fusca zero quilômetros. Na época, um Fusca novo custava 13 mil cruzeiros.

Uma rara foto da Equipe Zebra em 1974. Os soldados estão totalmente descaracterizados e estão armados com fuzis automático FAL. Aqui eles apresentam dois guerrilheiros capturados (agachados).

Mas depois se criou uma nova tabela de preços para os mortos, em função da hierarquia. Osvaldão, Dina e os membros da Comissão Militar, como Mauricio Grabois e Ângelo Arroyo, valiam 10 mil cruzeiros cada. Os comandantes e subcomandantes de destacamento valiam 5 mil cruzeiros cada, quantia suficiente para comprar um sítio de 50 hectares na região. Os demais valiam 1 mil ou 2 mil cruzeiros, dependendo do caso. E a idéia de um prêmio por prisioneiros foi esquecida. Quando os militares começaram a oferecer dinheiro “por cabeça”, estariam se referindo à unidade de guerrilheiro.

Mas na área sul do Araguaia, a sudoeste da Serra das Andorinhas, os militares recrutaram uma tribo inteira de índios suruís. Eles tinham por hábito milenar cortar as cabeças dos inimigos. Certo dia, em fins de novembro, um mateiro, caboclo que morava perto da reserva suruí, apareceu com uma sacola diante de uma equipe de pára-quedistas que tomava café da manhã num acampamento perto de Xambioá. O mateiro então perguntou aos militares quanto estavam pagando por cabeça de “povo da mata”, pois no início da campanha, os guerrilheiros eram chamados de “paulistas” pelos moradores da região, mas àquela altura, já estavam sendo chamados de “povo da mata”, como eles gostavam se ser reconhecidos, até por aqueles estabelecidos que os caçavam.

Um deles dos pára-quedistas respondeu o valor. Então ele abriu a boca da sacola, sacudiu-a e de dentro caiu uma cabeça humana entre os pratos dos soldados. Era a cabeça de Arildo Valadão. Segundo o Dossiê registra sua morte ocorreu no dia 26 de novembro de 1973. Dois soldados que na época serviram na região, Domingos Barros de Almeida e Adolfo da Cruz Rosa, igualmente relataram o episódio ao jornal O Liberal, de Belém. O ex-soldado Domingos relata: “Uma das equipes entrou numa trilha e deu de cara com o Ary e o Daniel na direção contrária. Aí derrubaram o Ary. O morador chegou para ele e disse: “Tu vele dois milhões. (...) Tinha que identificar o cara, pra isso a cabeça ia para a base, Xambioá ou Bacaba. Como eram muitos dias de caminhada e a cabeça estava apodrecendo, eles pararam, fizeram uma fogueira e aferventaram na panela deles. Botaram meio quilo de sal, pra chegar na base”. Na mesma entrevista, o ex-soldado Adolfo Cruz Rosa acrescenta: “Quando o mateiro entrava na mata com a gente, já tinha a proposta. Se o primeiro tiro fosse dele, ele levava a recompensa”.

Os militares poderiam ter parado ali mesmo. Poderiam, por exemplo, não pagar. Ou até mesmo pagar, mas deixando claro que não era para decapitar os guerrilheiros. No entanto, preferiram aquiescer com a prática. Pagaram o preço estipulado — 1 mil cruzeiros, era o que valia a vida de Ari — sem questionar o método utilizado. A partir de então, a idéia de cortar cabeças disseminou-se entre os “bate-paus”. Levar só a cabeça como prova do serviço era mais fácil do que levar o corpo inteiro. Seis cabeças de guerrilheiros, talvez sete, chegaram em sacolas a Marabá ou Xambioá. A ex-guerrilheira Criméia Almeida levanta a hipótese das decaptações terem começado antes, ainda na Segunda Campanha. Ela relata ter assistido a slides com cabeças cortadas durante sessões de interrogatório na prisão do Pelotão de Investigações Criminais (PIC), em Brasília. Eis seu relato oral em 08 nov. 2005: “Sobre as cabeças cortadas que eu vi em slides. Foi em abril de 1973, pois eu já tinha voltado para o PIC. Havia quase diariamente uma sessão de tortura que se chamava 'cineminha'. Eu ficava numa sala na penumbra e eram projetados slides de mortos e de sacos de onde eram tiradas pelos cabelos cabeças cortadas com bastante sangue coagulado no pescoço, formando uma imensa gota espessa. Aparecia também as pernas dos soldados que as seguravam (digo soldados porque estavam de calça verde-oliva e coturnos). Pareciam lugares descampados em plena mata. Não sei quantas cabeças me foram mostradas porque essas sessões de 'cineminha' se repetiam com freqüência e numa própria sessão os slides se repetiam. Nessas sessões, um militar se sentava de frente para mim, de costas para a tela e anotava as minhas expressões faciais, suponho, e me mandava olhar para a tela sempre que eu desviava os olhos. Foi uma das cenas mais chocantes de tortura que eu vivenciei, se é que dá para classificar tortura em mais ou menos chocante”.

De acordo com o relato dos militares, essas decapitações não teriam chegado ao conhecimento dos comandantes em Brasília. A decisão de recrutar jagunços teria sido tomada pelas próprias equipes de inteligência na selva, que tinham independência operacional impar naquele momento. O dinheiro pago pelas cabeças, por sua vez, vinha das verbas secretas distribuídas entre as equipes. Não havia verba reservada para cobrir o valor de cada cabeça; para cada uma que aparecia, era preciso fazer uma coleta de dinheiro entre os chefes da inteligência para honrar os compromissos com os bate-paus.

Em um relatório da Operação Marajoara, de 1974,  constatava que a guerrilha estava exangue. Mesmo assim, a decisão do Exército era persistir até a "eliminação total das forças guerrilheiras", conforme trecho acima. Não se sabe até hoje de quem partiu a ordem, polêmica mesmo dentro do Exército, que culminou na morte dos militantes que foram aprisionados e no sumiço de seus corpos.

Operações aéreas

Outro papel preponderante a ser ressaltado na consecução dos objetivos finais foi o desempenhado pelos elementos da Força Aérea, particularmente pelos esquadrões de helicópteros. Cumprindo missões de infiltração, exfiltração, ressuprimento e evacuação aeromédica, estes elementos foram fator primordial para o êxito alcançado.

Um "Sapão" da FAB auxilia nas operações no Araguaia

Empregaram em grande escala o helicóptero e o avião. Geralmente, os dois tipos de aparelhos operavam juntos e coordenados com as forças terrestres. Esses aparelhos eram usados para o transporte, deslocamento de tropas, comunicação com patrulhas na mata, inquietação, etc. De modo geral, no local em que os helicópteros voavam haviam tropas em baixo, ou esquadrinhando a área. Houve casos também em que onde não havia helicópteros voando, existia tropa se movimentando. O helicóptero, em certo sentido, inquietava a tropa guerrilheira pois esta nunca sabia ao certo se tinha ou não tropa onde ela voava ou se era uma operação de despistamento.

Guerrilheiro aprisionado é chega a Xambioá em um helicóptero UH-1H da FAB

Consultores estrangeiros

Alguns livros apontam a participação no combate à Guerrilha do Araguaia de um militar português, o coronel Hermes de Oliveira, que tinha experiência de combate na África. Essa informação não é confrmada mas é possível que o Exército português tenha sido consultado, pois tinha uma larga experiência em guerras irregulares nas suas antigas colônias africanas. Além disso, o governo brasileiro sempre manteve ótimas relações com a pátria-mãe. Com certeza a contribuição dos portugueses teria sido muito mais valiosa do que a americana (segundo informações um general americano deu assessoria aos combates a partir de Manaus), uma vez que a Guerrilha do Araguaia tem uma semelhança muito maior com os conflitos coloniais africanos do que com a guerra do Vietnã.

A Rádio Tirana

Um fato curioso eram as transmissões da Rádio Tirana da Albânia, que tinha um noticiário em português, com notícias fresquinhas sobre a guerrilha na região do Sul do Pará. Nada se sabe sobre quem de fato era o informante, ou os informantes, da Tirana. Nunca descobriu-se nada sobre como as informações chegavam à Albânia. O PC do B diz não saber, e muito menos os militares.

Censura

Na época em que Emílio Garrastazu Médici era presidente do Brasil, as operações militares foram executadas de maneira sigilosa e era proibida a divulgação da existência de um movimento guerrilheiro no interior do país. Portanto, devido à censura, nunca foi autorizada a publicação de detalhes sobre a guerrilha e sempre se afirmou que os documentos da operação haviam sido destruídos. Ernesto Geisel, após assumir o comando do governo do Brasil, também não autorizou a divulgação da existência de tal guerrilha, ficando desta forma a população brasileira alheia ao conhecimento dessa movimentação. Por isso, a única menção feita por Geisel a respeito da existência de um movimento guerrilheiro no interior do Brasil se deu em 1975.

Baixas

Os militares reconheceram a morte do sargento Mário Abrahim e do cabo Odílio, mas nunca revelaram o nome de um soldado morto na Bacaba por um disparo acidental. Pode-se estimar que seus mortos girem em torno de dez”.

Dos integrantes da Guerrilha do Araguaia, morreram 59 (dez moradores da região também foram assassinados), exceto os que fugiram ou foram capturados no início (como José Genoíno, que foi preso e torturado) e os três que saíram no final, Ângelo Arroyo, João Amazonas e Zezinho. A mitológica Dina foi assassinada grávida. Ela estava sob o controle do Major Curió. Osvaldão, outra lenda do Araguaia, foi morto e degolado. A partir de outubro de 1973 todos os militantes do PC do B aprisionados foram executados segundo Elio Gaspari, que acrescentou que alguns dos guerrilheiros capturados foram colocados em aviões tripulados por equipes do Centro de Informações da Aeronáutica e jogados no oceano.

Corpos de guerrilheiros mortos em 1972

O fim da guerrilha no Araguaia e a "Operação Limpeza"

A última guerrilheira, Walquíria Afonso Costa, foi executada no final de setembro de 1974. Em 16 de dezembro de 1976, era morto, em São Paulo, o último sobrevivente conhecido da 3ª Fase, o dirigente comunista Ângelo Arroyo, que conseguiu fugir da área em fevereiro.

Terminado o confronto, no início de 1975, foi feita a "Operação Limpeza" na área. Os militares que se encontravam no local foram convocados a participar de uma "operação limpeza", recurso clássico de todo conflito militar. Para não deixar nenhum registro de sua passagem por ali, documentos foram queimados e os acampamentos, desmontados. O que não fazia parte da operação clássica de limpeza era esconder os cadáveres. Assim, cerca de quatro anos após o início da ação repressiva, e tendo-se colhido uma grande quantidade de importantes ensinamentos para todos os escalões, eliminava-se aquele que foi o mais perigoso foco de guerrilha rural no Território Nacional.


Fontes:

http://www.conjur.com.br/2006-mar-09/jornalista_versao_militar_guerrilha_araguaia?pagina=2

http://www.conteudo.com.br/studart/uma-guerra-para-matar-ilusoes

http://www.jornalopcao.com.br

http://www.conteudo.com.br/studart/uma-guerra-para-matar-ilusoes


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