Perfil da Unidade

 

CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS DOS EUA - USMC

Marine Corps Activewear Eagle, Globe and Anchor

VMF-214 - OVELHAS NEGRAS - USMC

 


 

F4U-1 Corsairs da VMF-214 em 1943

Os Ovelhas Negras do Marine Fighter Squadron - VMF-214 formaram uma das mais famosas unidades do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. É interessante observar que poucas pessoas sabem o que significa o "V" que sempre aparece nas designações dos esquadrões aéreos dos fuzileiros navais e da Marinha dos EUA. O "F" é de Fighter e o "M" de Marine, e o "V", a que se refere? Na aviação naval o "V" se refere a "heavier than air" "mais pesado que o ar", e o "V" tem origem na palavra francesa volplane, que como verbo significa planar ou para planar.

Os Ovelhas Negras ficaram famosos por sua eficiência mortal, sua indisciplina e seu líder carismático. A VMF-214 fora originalmente comissionada em 1° de julho de 1942, na base aérea do Corpo de Fuzileiros de Ewa, Havaí, com um núcleo de pilotos experientes de Midway. Em fevereiro de 1943, chegou a Espírito Santo, nas Novas Hébridas, e seus caças Grumman F4F Wildcat avançaram até Guadalcanal no mês seguinte. 

Em 7 de abril, a esquadrilha fazia parte do grupo de 76 caças americanos que interceptou um ataque realizado por 67 bombardeiros de mergulho Aichi D3A "Val" da Marinha Imperial japonesa, escoltados por 110 caças Mitsubishi A6M "Zero". A VMF-214 abateu dez aeronaves inimigas. Em junho, os Wildcat foram substituídos por Vought F4U Corsair e, em 18 de julho, quatro F4U da VMF-214, comandados pelo major William H. Pace, interceptaram e abateram três bombardeiros Mitsubishi G3M "Nell", que atacavam o hidravião auxiliar do USS Chíncoteague. A VMF-214 recebeu o nome de "Swashbucklers".

 

Um dos melhores pilotos da esquadrilha, naquele momento, era o tenente Alvin Jensen, que encerraria a guerra com sete vitórias. Em 28 de agosto, Jensen desgarrou-se da esquadrilha durante uma tempestade. Percebendo que sobre­voava o campo de pouso japonês de Kahili, bombardeou com tal eficiência as aeronaves que se alinhavam na pista que o reconhecimento fotográfico posterior apontou a destruição de 24 delas. Por essa façanha, Jensen foi condecorado.A ação de Jensen ocorreu no final da segunda série de operações da VMF-214. Mas o major Pace, seu comandante, morrera em ação no início do mês e assim decidiu-se distribuir o pessoal da esquadrilha por outros grupos. A VMF-214 existia como unidade apenas no papel. 

Esse período de transição terminou. Em setembro, o grupo foi reorganizado sob o comando de Boyington, com 48 pilotos, requisitados de equipes de reserva. Os pilotos que integram a nova formação, foram selecionados baseados num estranho antecedente: sua má conduta. De fato, os homens que tripulam os Corsair são aviadores separados de diversas esquadrilhas, por castigo ou expulsão. Os motivos: indisciplina, rebeldia, insubordinação e muitas causas mais.

Com a base aérea japonesa em Rabaul visíveis à distância, "Pappy" Boyington e seus colegas pilotos da VMF-214 atacam uma grande formação de Zekes japoneses e uma série de combates aéreos mortais começam, umaZeke já vítima de suas armas.

Como resultado dessa origem pouco convencional, a unidade se intitulou "Ovelhas Negras", embora a denominação inicial fosse "Boyington's Bastards" (bastardos de Boyington). Esse apelido foi considerado inconveniente para publicação na imprensa americana, mas assim mesmo motivou a incorporação de uma tarja negra (símbolo heráldico que indica bastardia) na insígnia da VMF-214. O comandante dos Ovelhas Negras, então com trinta anos, foi apelidado de Pappy ou Gramps (papai ou vovô), embora não fosse o mais velho da esquadrilha.

Robert Sherrod, historiador militar, descreveu Boyington como "um piloto audaz e impetuoso, cuja carreira na guerra incluiu um período com os Flying Tigers (Tigres Voadores) na China (onde abateu seis aviões japoneses). Boyington não era apenas um piloto nato, mas também um líder habilidoso..." O capitão John M. Foster, da VMF-222, que serviu com Boyington nas Ilhas Salomão, possuía uma visão um pouco diferente sobre o colega: "Ele tinha o corpo forte de um lutador, a mente aguçada de um intelectual e a tenacidade de um buldogue. Talvez isso se devesse ao formato de seu maxilar ou, ainda, à lenda que criou em torno de si mesmo". 

Os pilotos da esquadrilha tinham idade entre 21 e 31 anos. Muitos deles já eram veteranos em combate. O subcomandante de Boyington, major Stanley R. Bailey, sempre com o uniforme impecável e as insígnias no colarinho e no quepe — distintivo que muitos não faziam questão de usar —, era um tipo incomum entre os Fuzileiros Navais nas Salomão. A aparência descuidada deles lembrava a de "garimpeiros do Alasca". 

Várias vezes Boyington definiu alguns de seus homens como "pilotos natos". Dentre eles, o capitão Paul A. "Moon" Mullin, que terminaria a guerra com seis vitórias individuais e uma em grupo; o capitão Christopher Magee, com nove vitórias (e que, graças a sua aparência cigana e a seu lenço colorido — bandana —, foi apelidado de "Bandana Maggie"); o capitão Donald H. "Moe" Fisber, que muitas vezes foi co-piloto de Boyington, conseguiu seis vitórias; e o major John F. Bolt Jr. Este último obteve seis vitórias na Segunda Guerra Mundial, e mais seis na Coréia, pilotando F-86 Sabre com o 51.° Esquadrão de Caças Interceptadores da USAF. 

Como comandante dos Black Sheep, Boyington teve um desempenho surpreendente. Ele aproveitou a experiência ganha com os Tigres Voadores e os ensinamentos do comandante Claire Chennault, ensinando seus pilotos a não temerem os caças Zero japoneses, considerados bem superior aos modelos americanos da época. Boyington descrevia os pontos fortes e fracos de todas as aeronaves e dizia que os pilotos deveriam se concentrar nos próprios pontos fortes e atacar os pontos fracos do inimigo.

Um dos pontos fracos dos japoneses era não ter iniciativa – eles seguiam sempre um plano. Outro ponto fraco era sempre manter o voo em formação. Seus caças não tinham blindagem e podiam explodir com um único tiro no tanque de combustível. O Zero era superior em dez categorias, mas Claire Chennault ensinava seus pilotos a lutar nas três categorias onde o P-40 vencia: armas, blindagem e peso. Por ser mais pesado, o P-40 mergulhava mais rápido. Assim, atacavam do alto, mergulhavam, disparavam, mergulhavam novamente para depois subir e repetir os ataques.

Isso funcionou com os Tigres Voadores, e depois o conceito foi repassado para usar com os F4F Wildcats. Se atacados por trás, os pilotos eram ensinados a fazer um Split-S, fugir e tentar subir para atacar em posição de vantagem. Os Zeros geralmente não seguiam caças mergulhando. Um Zero mergulhando por trás não subia muito contra um caça subindo subitamente para evadir.

Boyington treinava seus pilotos de forma exaustiva nos comandos da cabine até que as manobras se tornavam instintivas. Nas missões monótonas, como as patrulhas de combate aéreo, aproveitam para treinar formação, manobras agressivas em formação, busca de alvos distantes e troca de posição de líder com o ala. A identificação de aeronaves também era considerada importante, para depois reconhecer os pontos fortes e fraquezas de cada modelo. Os japoneses gostavam de atacar com o sol pelas costas e Boyington ensinou seus pilotos a colocarem um dedo na frente do sol e, assim, conseguirem ver ao redor uma aeronave vindo daquela direção.

Os americanos tentavam usar o rádio o mínimo possível para evitar que os japoneses determinassem sua posição. Como usavam o rádio só em emergência, precisavam de muito planejamento de missão. Para evitar serem pegos de surpresa, faziam vigilância constante no ar, pois alguns segundos podiam ser importantes. Faziam vigilância até antes de pousar. Voavam pelo menos aos pares para proteção mútua, pois os japoneses não costumavam atacar aeronaves em grupos, preferindo atacar aeronaves solitárias. Boyington conseguiu desmistificar a superioridade do Zero, mudando a visão anterior dos pilotos, que já se consideravam derrotados antes de decolar.

Nos ataques, Boyington sugeria mergulhar com o sol pelas costas. Recomendava disparar bem de perto, pois um disparo a longa distância tem poucas chances de acertar. Se as traçantes alertam o piloto inimigo, fica bem difícil atingir um Zero manobrando. O próprio Boyington disparava a cerca de 30 metros. Porém, em encontros frontais, disparavam a uma distância bem maior.

Na época, as metralhadores dos caças americanos usavam munição incendiária, perfurante e traçante na proporção de 1:1:1. Boyington testou contra barris e determinou que a melhor proporção seria duas incendiárias, uma perfurante, duas incendiarias e uma traçante. A combinação foi adotada depois por todos os caças americanos.

Boyington também foi inovador. A doutrina da época ditava o uso de caças mais de forma defensiva, atuando como escolta, protegendo os bombardeiros, navios ou tropas. Essa doutrina até ditou a estratégia das operações no Pacífico com a tomada de ilhas para criar bases aéreas para que os caças pudessem escoltar os bombardeiros operando mais a retaguarda.

As formações de bombardeiros voavam a 20 mil pés, os P-38 entre 30 a 40 mil pés, os P-40 voando bem mais baixo e os Corsair entre as camadas acima dos bombardeiros. Os caças ficavam indo e vindo em um corredor de 3 a 7 km ao redor dos bombardeiros. Os japoneses ficaram intimidados com formações tão grandes e passaram a procurar aeronaves desgarradas ou citar pane e fugir. Os japoneses ficaram sem iniciativa até para decolar contra forças tão grandes.

Boyington não gostava das missões de escolta. Enquanto os japoneses voavam em qualquer lugar, as escoltas só ficavam em volta dos bombardeiros. Em uma missão chegaram mais cedo na área do alvo sem planejar e varreram os caças inimigos. Boyington já tinha proposto fazer isso antes e funcionou. Também sugeriu fazer outra varredura após os bombardeiros saírem. Ele propunha táticas mais ofensivas, indo no território inimigo atrás de caças no ar e em terra para conquistar a superioridade aérea. O Esquadrão até criou um livreto com táticas de escolta, patrulha, varredura e metralhamento que depois foi repassado para todos esquadrões de caça do USMC, US Navy e USAAF. Atualmente, as táticas de caças são divididas em operações ofensivas (Offensive Counter Air) e defensivas (Defensive Counter Air).

A VMF-214 começou a operar seus F4U Corsair a partir das ilhas Russell. Mas logo avançou para Munda. O objetivo imediato era a guarnição japonesa em Bougainville, ilha no extremo norte do arquipélago das Salomão. Contudo, este foi apenas um degrau para o objetivo maior: Rabaul. Os Ovelhas Negras realizaram sua primeira missão, uma escolta de bombardeiros até Ballale, em 16 de setembro de 1943.

Com a chegada dos caças F4U Corsair, os americanos passaram a ter vantagens, pois era bem mais rápido, tinha o dobro do alcance dos outros caças, boas armas e boa blindagem. Nos primeiros encontros, os japoneses logo perceberam que estavam em inferioridade. O alcance permitiu escoltar os bombardeiros contra alvos mais distantes. 

A formação entrou em combate contra cerca de quarenta Zero, uma força que superava os Corsair na proporção de dois para um; mesmo assim, os pilotos da VMF-214 saíram vencedores, abatendo onze caças japoneses, com outras oito prováveis vitórias. Apenas um Corsair foi abatido, o do capitão Robert T. Ewing, visto voando baixo, sob o assédio de dois caças japoneses, com a capota e as laterais da fuselagem manchadas de óleo. Boyington abateu um dos atacantes, mas não conseguiu encontrar depois o Corsair avariado. Boyington obteve o recorde na batalha: cinco vitórias confirmadas.

Nas quatro semanas de combate, os pilotos da VM F-214 abateram 47 aeronaves inimigas na área de Bougainville. Em 4 de outubro, Boyington comandava um vôo da esquadrilha sobre o campo de pouso japonês em Kahili, quando seu rádio captou uma solicitação — falada em "inglês perfeito" — para indicar sua altitude e posição. Tratava-se de um ardil dos controladores de vôo japoneses. Boyinqton percebeu a armadilha. 

Corsários e pilotos da VMF-214 cansados após a batalha se refrescam em Vella Lavella. Esquerda para a direita: Intelligence Officer Frank Walton, cirurgião de vôo James Reames, os pilotos Chris Magee, John Parafuso, Boyington, Bruce Matheson e Ed Olander.

Deu sua posição real, mas in­formou que a altitude era de 6.000 m, quando na verdade estava a 7.500 m. Foi presenteado com "a mais bela visão que um piloto de caças pode sonhar": uma formação de cerca de trinta Zero voan­do abaixo de sua aeronave. Num combate de apenas trinta segundos, Boyinqton abateu três aviões inimigos. Ele descreveu algumas dessas vitórias:"Podia-se ver os aviões voando em círculos e semicírculos. Os projéteis vermelhos da munição traçante cruzavam o céu como fogos de artifício. As batalhas geralmente ocorreram entre 1.000 e 6.000 m acima do nível do mar, com altura e extensão idênticas".

No final de outubro, a VMF-214 retirou-se de Munda para Espírito Santo e daí para Sydney, na Austrália, a fim de restaurar suas forças. "Foi a descoberta de uma nova vida", disse um dos pilotos, lembrando-se dos banhos quentes, teatros de luxo, boa comida, camas macias e das lindas e simpáticas garotas. Em Munda os pilotos viviam em barracas, numa área que se transformava num lamaçal depois de cada tempestade. Eram atacados por insetos transmissores de malária e por bombardeios noturnos dos japoneses. A comida era pouca e ruim, a ponto de o refeitório ser chamado de "salão da disenteria".

Boyington conversa com seus pilotos 

Os Ovelhas Negras voltaram às Salomão no final de outubro de 1943, deslocando-se para a base avançada de Vella Lavella, a fim de iniciar os preparativos para o assalto a Rabaul. O ComAirSoIs, general Mitchell, nomeou Boyington líder tático das forças de caças. Mas o primeiro ataque a Rabaul, em 17 de dezembro, não foi um sucesso absoluto. 

Dele participaram 31 Corsair dos Fuzileiros Navais, 22 Grumman F6F Hellcat da Marinha e 23 Curtiss P-40 Kittyhawk da Força Aérea da Nova Zelândia. Ocorreram apenas combates esporádicos contra os japoneses. Os neo-zelandeses, voando baixo, abateram cinco aviões e perderam três pilotos, inclusive o co­mandante de esquadrilha, T. Freeman. O tenente D. J. Moore, da VMF-214, abateu dois aviões.

Analisando  as causas desse fraco desempenho, Boyington concluiu que uma formação de 76 caças era grande demais para ser comandada com eficiência a partir do ar. Um ataque de 36 a 48 caças seria suficiente para enfrentar qualquer oposição. Ele definiu também que tais missões deveriam restringir-se a caças com desempenho semelhante. Um dos problemas do ataque de 17 de dezembro foi que os Kittyhawk neozelandeses chegaram à área de Rabaul antes que as esquadrilhas de cobertura estivessem em posição. 

O raciocínio de Boyington era de que uma força menor não teria exigido tanto tempo para entrar em formação, o que deixaria reserva de combustível suficiente aos Corsair e Hellcat para esperar por suas esquadrilhas de cobertura. Boyington, estudioso de táticas aéreas, tinha algumas idéias pouco ortodoxas: "Não espero que nenhum co-piloto me ajude num combate. Um homem apenas pode se virar muito bem se de início tiver a vantagem da altitude. Mas se os japoneses tiverem essa vantagem, o co-piloto é o melhor seguro de vida do piloto".

Uma famosa foto dos Ovelhas Negras. Pilotos correm para seus caças para mais um combate em 1943

Em 23 de dezembro, as táticas de Boyington foram postas à prova. Planejou-se que a uma varredura de 48 Corsair se seguiria um ataque de bombardeiros a Rabaul. Os pilotos da VMF-214 encontraram quarenta caças japoneses em vôo e abateram trinta deles. Os Ovelhas Negras obtiveram doze vitórias, quatro das quais atribuídas a Boyington.

"Pegamos cerca de uma dúzia de Zero", recordaria ele mais tarde, "que estavam fustigando nossos bombardeiros B-24. Os japoneses mergulharam, de volta a suas bases, pois deviam estar quase sem combustível. Eles não tinham tanques extras de gasolina e não contavam ser seguidos. Contudo, não éramos aviões de escolta e não precisávamos ficar junto de nossos bombardeiros. Assim, perseguindo um caça japonês, consegui ficar bem atrás de sua cauda, a cerca de 15m. Eu sabia que ele sequer imaginava que era seguido, mas queria ter certeza de que não me escaparia. Eu me encontrava calmo e frio como nunca estivera antes. 

O piloto japonês voltava a sua base, mas eu já sabia que ele não chegaria... Tudo o que necessitei foi de uma curta rajada. As chamas irromperam da cabina, um pára-quedas se abriu e o piloto caiu nas águas do Pacífico. Voltei a subir e avistei dois aviões inimigos a minha direita, dirigindo-se para Rabaul. Um deles soltava fumaça: aproximei-me e ele mergulhou. Uma rajada, e o avião estava em chamas e mais um piloto descia de pára-quedas. O outro avião mergulhou do alto e para o lado em direção à cauda do meu aparelho, mas bastou um mergulho para fugir de seu ataque..."

Entre 17 de dezembro de 1943 e 1.° de janeiro de 1944, 147 aeronaves japonesas foram consideradas abatidas sobre Rabaul. Os japoneses anunciaram perdas de 64 aeronaves, o que, mesmo assim, foi uma vitória significativa dos caças com base nas Salomão. Estava comprovada a liderança tática de Boyington. Mas ele se encontraria sob forte pressão. 

Suas vitórias até 23 de dezembro totalizavam o número de 24, apenas duas a menos do que o recordista dos Fuzileiros Navais, o major Foss. Dia 27 de dezembro, Boyington conquistou sua 25.a vitória. Dia 3 de janeiro, dois pilotos da VMF-214 informaram ter presenciado a 26ª vitória. Mas Boyington e seu co-piloto, o capitão George Ashmun, não retomaram daquela missão. 

O avião de Ashmun foi atingido pelo fogo inimigo e logo começou a perder altura. Boyington, tentou proteger o seu companheiro, e precipitou-se atrás dele, disparando contra os caças japoneses.  

Estes, no entanto, impuseram o peso do seu número. E o avião de Boyington recebeu uma verdadeira saraivada de balas. Por fim, com o tanque principal do seu aparelho envolto em chamas, "Pappy" Boyington desceu até quase roçar a crista das ondas. Nesse instante, quando se encontrava a mais ou menos trinta metros da superfície, Boyington picou violentamente e o seu corpo voou, expulso da carlinga do seu avião.

Um brusco puxão indicou a Boyington que o pára-quedas começara a se abrir. No entanto, antes que o pano chegasse a se abrir totalmente, o corpo do piloto americano submergiu nas ondas.

Segundos depois, voltando à superfície, Boyington percebeu que quatro dos caças japoneses sobrevoavam o local. Os aviões inimigos, ao divisar o americano, precipitaram-se sobre ele, metralhando-o. Mergulhando uma e outra vez, Boyington escapou às rajadas. Afinal os aviões japoneses se afastaram. 

Boyington, então inflou o bote de borracha que fazia parte do seu equipamento e subiu nele. Ao tirar o uniforme, Boyington percebeu numerosos ferimentos que dilaceravam todo o seu corpo. As balas inimigas haviam perfurado o seu ombro e as pernas; o tornozelo esquerdo estava destroçado por um projétil de 20 mm.

Ases do Black Sheep

Aviões

Pappy Boyington

22

Jack Bolt

  6

Bill Case

  8

Don Fisher

  6

Chris Magee

  9

Hank McCartney

  5

Bob McClurg

  7

Paul Mullen

  6

Ed Olander

  5

Depois de improvisar penosamente umas bandagens, Boyington começou a remar rumo à costa distante. Oito horas depois, a silhueta de um submarino se recortou nas proximidades. Boyington, quase inconsciente pela perda de sangue e pela dor, continuou remando em direção ao barco. Quando estava junta a ele, notou que era japonês e foi feito prisioneiro. Ele ficou como prisioneiro primeiro em Rabaul onde foi brutalmente interrogado. Como prisioneiro ele passou por muitas privações além de surras freqüentes, interrogatórios e fome por cerca de 18 meses.

 

 

Boyington manobra para uma posição vantajosa contra um ágil A6M2 "Zero" sobre Rabaul, em 27 de dezembro de 1943. Nesta data Boyington abateu sua 25ª aeronave inimiga , um zero sobre Simpson Harbour.

 

Outro ponto de vista mesmo duelo, da 25ª vitória de Boyington. A aeronave inimiga era provavelmente um Zero IJN da 253 Kokutai, vindo do aeródromo de Lakunai.

Terminada a guerra, ele foi repatriado de um campo de prisioneiros e pôde relatar mais duas vitórias obtidas ainda no dia 3 de janeiro. Esse saldo o transformava no maior ás do Corpo de Fuzileiros Navais.

A missão de combate da VMF-214 nas Salomão encerrou-se cinco dias depois do desaparecimento de Boyington. VMF-214 foi desativada e seus pilotos transferidos para outras unidades para espalhar os seus conhecimentos.

A VMF-214 foi reativada nos Estados Unidos para operar a partir de porta-aviões. Retornou ao combate em março de 1945, a bordo do CV-13 USS Franklin, chamado de Big Ben, próximo à costa japonesa. Seu comandante era o major Bailey, antigo subcomandante de Boyington. Porém essa nova Black Sheep não obteve muito sucesso. A maioria de seus pilotos eram novatos e já na fase de treinamento eles perderam 11 Corsairs e sete pilotos para colisões, desaparecimentos e acidentes estranhos. Os novos pilotos, segundo testemunho de Robert Sherrod, eram "ovelhas novas, ainda pouco encardidas".

Os Corsair embarcados no USS Franklin era o novo F4U-1D. O CV-13 era parte da Task Force 58 e iria operar em apoio da invasão de Okinawa, "Big Ben" faria a maior aproximação das ilhas japonesas que qualquer porta-aviões dos Estados Unidos fez em toda a guerra: apenas 50 milhas, a apenas 10-15 minutos de vôo, ao sul de Kyushu. Na madrugada de 19 de março de 1945 o USS Franklin foi atacado por um único  bombardeiro de mergulho Yokosuka D4Y3 "Judy" que saiu da cobertura das nuvens baixas, cruzou da proa à popa do navio na altura do mastro e lançou duas bombas de 250 kg. Pelo menos uma delas passou através do convés de vôo indo até o hangar abaixo e explodiu. As baixas totalizaram 724 mortos e 265 feridos. A VMF-214 perdeu 32 homens. Para o Big Ben e o Black Sheep, a Segunda Guerra Mundial tinha acabado.

Em agosto de 1945, quando da VMF-214 os sobreviventes estavam se preparando para reunir-se chegou a notícia de que Boyington não apenas estava vivo, mas foi considerado o maior ás dos USMC, reclamado mais dois zeros em sua última missão antes de descer no oceano. (Hoje fontes oficiais creditam a ele diversas vezes entre 22 e 28 vitórias.). Naquele mês de outubro, o presidente Harry S. Truman concedeu a Boyington sua Medal of Honor "póstuma" no gramado da Casa Branca, mas não antes de Pappy ter a sua reunião prometida com os Black Sheep.

Os lendários
Black Sheep originais voaram juntos como uma unidade por apenas três meses, mas destruiram 97 aeronaves inimigas, com 35 prováveis ​​e 50 danificadas, além de quase 30 navios afundados. Dos 28 pilotos em sua primeira turnê, nada menos do que nove tornaram-se ases. John F. Bolt Jr. atingiu seis mortes na Coréia chegando a 12 no total. Enquanto Chris Magee voou Avia S-199 (essencialmente Messerschmitt Bf 109s comprados da Tchecoslováquia) para os israelenses.

O Black Sheep é um dos poucos esquadrões oriundos da Segunda Guerra que ainda servem hoje em dia. Em agosto de 1950, a VMF-214, ainda utilizando Corsairs, seria uma das primeiras esquadrilhas do Corpo de Fuzileiros Navais a entrar em ação na Guerra da Coréia. Em meados da década de 1960, quando os Douglas A-4 Skyhawk da unidade foram enviados para a Guerra do Vietnã, a esquadrilha dos Ovelhas Negras tinha recebido nova determinação, VMA-214 e passava a ser uma esquadrilha de ataque dos Fuzileiros Navais. Hoje a VMA-214 usa os Harrier AV-8B, tendo lutado no Iraque e no Afeganistão.

VMF-214 F4U-4Bs no USS Sicília (CVE 118) no final de 1950

A-4M Skyhawk da VMA-214 na década de 1970

AV-8BS da VMA-214 no USSPeleliu em 2005

Corsair da VMF-214, voam sobre a ponte Golden Gate no Outono de 1945. Numa comemoração do fim da Segunda Guerra Mundial e dos soldados americanos que lutaram no Pacifico e tinham uma das últimas visões do continente na imagem desta famosa ponte. Aqui se vê dois Corsair do últimos modelos e um dos primeiros modelos,  simbolizando os primeiros dias da Segunda Guerra quando as forças americanas estavam lutando por Guadalcanal e outros territórios em poder do inimigo em direção a seu caminho para Tóquio.


O LENDÁRIO GREGORY BOYINGTON

 


Gregory Boyington nasceu em 4 de dezembro de 1912 e teve uma infância agitada. Pais divorciados, padrasto alcoólatra (a quem Boyington acreditava ser seu pai natural até que ele entrou nos USMC). Cresceu em St. Maries, Idaho, um povoado pequeno. Recebeu seu primeira carona num avião quando tinha só seis anos de idade. No segundo grau, já morando com a família em Tacona, Washington,  praticou atletismo e luta corpo a corpo. Matriculou-se na Universidade de Washington em 1930, onde continuou a lutar e participou do ROTC. Se casou pela primeira vez em 1934, com Helene, após a sua formatura . Seu primeiro filho, Gregory Clark Boyington, 

Entrou no Corpo de Fuzileiros Navais em 1935, onde treinou para ser piloto. Dentro dos fuzileiros Boyington ganhou a reputação de beberrão e briguento. Até chegar a Pensacola onde treinou para ser piloto, ele nunca tinha bebido, mas ao descobrir a infidelidade de sua esposa, se entregou as farras. Pouco depois se separou de Helene.

Antes assumir um posto no VMF-1 em Quantico, Virginia, ele tirou proveito de seus 30 dias de folga e retornar para casa, para se reconciliam com Helene, que ficou grávida de seu segundo filho. Nesses dias os pilotos navais deviam ser  solteiros, sendo assim a família de Boyington era um segredo que ele guardou, apesar de tê-los trazido com ele a Virginia, instalando-os calmamente próximo a Fredericksburg. 

Maj. Gregory Boyington, USMC

No final dos anos 1930, Boyington teve muitos problemas com bebidas, brigas e dividas, além de que seu desempenho como piloto estava no nível mais baixo. Em 1939-40, serviu no VMF-2, em San Diego, onde começou a se reabilitar como piloto, apesar dos outros problemas continuarem. Porém em 1941 seus problemas se avolumaram. ele agrediu um oficial superior por causa de uma garota e os seus credores procuraram as autoridades militares. 

Diante de tantas dificuldades surgiu a possibilidade de ele se juntar ao AVG (American Volunteer Group, Grupo de Voluntários Americanos), conhecido como "Tigres Voadores" na China. O governo dos EUA estava querendo ajudar a China na sua luta contra o Japão, mas como os americanos não estavam em guerra contra os japoneses não podiam fazer isso abertamente. Por isso foi criado o AVG sob a liderança de Chennault  e os recrutadores visitaram muitas bases militares de aviação dos EUA, chegando a recrutar cerca de 100 pilotos americanos, e um bom número de mecânicos e outros técnicos se apresentaram como voluntários para esta empreitada.

Boyington na época do Tigres Voadores na China. (Da esqueda para a direita): Tom Croft, George Burgard, Greg Boyington com um revolver, Joe Rosbert kneeling, Dick Rossi, e Red Probst.

O AVG foi a salvação para Boyington. Os pilotos davam baixa do serviço militar (podendo voltar depois) e recebiam U$ 600,00 por mês. Os líderes recebiam U$ 750,00. Esse salário era o dobro ou triplo do salário de um piloto militar naquela época. O bônus por cada avião japonês abatido era de U$ 500,00. No AVG Boyington, como membro da 1ª' Esquadrilha de Perseguição do AVG, esteve na defesa de Rangun, na Birmânia. Depois que a Birmânia caiu, retornou a Kunming, e ficou com o AVG até que este foi incorporado a USAAF. Retomando aos EUA, em julho de 1942, com seis vitórias aéreas, voltou a integrar o Corpo de Fuzileiros Navais, como major. Pouco tempo depois o seu primeiro casamento acaba de vez.

Assumiu temporariamente o comando do VMF-122 e em setembro de 1943, foi nomeado oficial-comandante da VMF-214 e a liderou até janeiro de 1944, quando foi abatido e feito prisioneiro de guerra. Na VMF-214 obteve 22 vitórias pessoais, que se somaram às seis do tempo do AVG. Dessa maneira, tomou-se o piloto dos fuzileiros com maior número de vitórias. Boyington sofreu grandes privações como prisioneiro dos japoneses, mas sobreviveu para receber a medalha de honra, que lhe foi conferida em 1944. Boyington deixou os fuzileiros em 1947 como coronel, passando para a reserva por razões médicas. Ele veio a falecer vítima do câncer em 11/01/1988 aos 75 anos, e até esta data teve uma vida repleta de atribulações por questões financeiras, amorosas (4 casamentos) e ainda problemas com alcoolismo.

Fonte:

http://www.aereo.jor.br/2011/10/19/demonios-do-ar/

 

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