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CAMPANHAS - Golfo - 1990-91


Antes da Guerra do Golfo (1991), estava configurado o fato de o Iraque ter desenvolvido um sofisticado e ambicioso programa de guerra biológica. Descobriu-se que este país havia desenvolvido um programa ofensivo de bioarmas que incluía bacilo do antraz (Bacillus anthracis), aflatoxina, toxina botulínica e bacilo da gangrena gasosa (Clostridium perfringens). O exército iraquiano havia preparado um estoque de 8.500 litros de esporos de antraz concentrado, sendo 6.500 litros armados em 50 bombas e 50 mísseis SCUDs; estoque de 19.000 litros de toxina botulínica concentrada, sendo 10.000 litros armados em 100 bombas e 13 SCUDs; e estoque de 2.200 litros de aflatoxina concentrada, sendo 1.580 litros armados em 16 bombas e 2 SCUDs.

 

Bateria de misseis Patriots.Os mísseis Scud eram a mais temida das armas iraquianas  (em suas versões modificadas do original  soviético). Apesar de antiquados, muitos foram instalados em bases de lançamento móveis, que podiam ser desmantelados, transportados e de novo montados em 25 minutos sem serem detectados. Durante a guerra, os iraquianos utilizaram-nos contra o seu velho inimigo Israel. Os danos foram ligeiros, mas Israel estava pronto para contra-atacar. 

 

Determinados a evitar qualquer agravamento da guerra, os americanos esperavam destruir os Scuds com os seus mísseis Patriot. Os Patriots tinham sido originalmente projetados para atingir aviões, mas esta versão conseguia seguir o percurso de um míssil. Quando os Scuds mergulhavam de novo em direção ao solo a cerca de 6400 Km/h, o Patriot agia como uma bala dirigida a outra bala. Neste caso, os Scuds haviam sido tão mal adaptados que muitos se desintegravam durante o vôo. Apenas uma pequena percentagem atingiu o alvo. 

 

O Scud foi desenvolvido há 40 anos na ex-União Soviética para servir de apoio a divisões de exército. Simples e robusto, embora pouco preciso contra alvos situados além de 150 quilômetros, foi doado ou vendido para quase todos os países alinhados com o regime da URSS no Leste Europeu, no Oriente Médio, na Ásia e no norte da África. Estima-se que haja cerca de 1,5 mil Scuds operacionais em todo o mundo. Os Scuds iraquianos pertenciam à série 8K14, conhecidos na OTAN como SCUD 1-B. São mísseis balísticos de um só estágio, curto alcance e propelidos por combustível líquido. Os primeiros lançadores móveis foram construídos sobre chassis do tanque russo IS-3. Quatro anos  depois, os IS-3 foram substituídos pelos chassis 8 x 8 MAZ-543. A troca do transportador deu aos SCUD muito maior mobilidade e dispensou o uso de viaturas auxiliares de transporte de pessoal, já que a tripulação ia dentro do MAZ-543. 

 

Uma unidade padrão opera até 18 lançadores, coordenados por um veículo de Comando e Comunicações, e acompanhados por uma central meteorológica End Tray móvel, um caminhão tanque ZIL-157 e uma carreta com mísseis extras para recarregamento. O tempo gasto entre a chegada ao ponto de disparo e o momento em que o primeiro Scud sobe é estimado em uma hora. Durante a década de 80 os engenheiros iraquianos modernizaram seus Scuds, aumentando-lhes o tamanho, ao agregar mais um segmento, e conseqüentemente aumentando-lhes o alcance, embora a carga útil tenha sido ligeiramente diminuída. Os resultados foram o Al-Hussein ( ! ) com 650km de alcance, e capaz de atingir Israel e a Síria, e em seguida o Al-Abbas, com 900km de alcance, capaz de cobrir todo o Estreito de Hormuz.  

 

Os Scuds foram usados por Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo contra uma grande variedade de alvos, mas principalmente contra Israel, numa tentativa de forçar um ataque de retaliação israelense ao Iraque, o que levaria a uma imediata ruptura da Coalizão. Inicialmente considerados como um fator militar insignificante, lançadores móveis de SCUD logo tornaram-se mais numerosos do que o esperado, e sua eliminação por questões políticas foi parar no topo das prioridades da Coalizão. 

 

Logo descobriu-se que somente as baterias de Patriots não seriam suficientes para neutralizar a ameaça dos Scuds então foi formada uma força conjunta de caça-bombardeiros convencionais e Forças de Operações Especiais (SOF) foi rapidamente reunida para localizar e destruir a ameaça.  

 

Ao atacar o Kuwait, Saddan dispunha de 50 TELs (Lançadores Móveis de SCUD ), além de 5 plataformas fixas, todas elas apontadas para Israel, e com cerca de 60 mísseis a disposição. Em 17 de janeiro, sete SCUDs alcançaram Tel Aviv e Haifa, destruindo cerca de 150 prédios e ferindo 50 pessoas. O Primeiro Ministro Israelense, Yitzhak Shamir avisou aos americanos, que Israel não toleraria outro ataque e estava pronto para retaliar. Imediatamente George Bush mandou duas baterias de mísseis antiaéreos Patriot para Israel e prometeu destruir todos os lançadores iraquianos.  

Lançador móvel de mísseis Scuds.

 

Cinco dias depois, um SCUD atingiu os subúrbios de Tel Aviv, matando 8 pessoas. Israel pediu as senhas de passagem para seus caças F-15 e F-16, que já esquentavam os motores nas pistas de decolagem, quando uma conversa telefônica, entre Bush e Shamir, conseguiu conter os israelenses.


No dia seguinte, a Inteligência israelense informou ao comando da Coalizão da localização de 4 plataformas fixas iraquianas. Imediatamente uma unidade SOF foi enviada para  localizar e destruir as plataformas. 

 

Dois helicópteros MH-47 Chinook levaram a equipe, bem como um veículo Land Rover  modificado para operar no deserto do Iraque Ocidental. Uma hora depois, a equipe SOF localizou as plataformas, chamando uma esquadrilha de F-15 que bombardeou o local com bombas guiadas por laser. Um helicóptero MH60 Black Hawk filmou o ataque, e a fita foi enviada a Israel. Após ver a fita, o Primeiro Ministro de Israel ligou ao Pres. Bush para dizer que confiava na capacidade da Coalizão para localizar e destruir os SCUD. A crise havia sido postergada. No dia 18 de janeiro, aviões A-10, F-15, F-16 e AC-130 Spectre foram designados especificamente para localizar e destruir todas as plataformas de lançamento de SCUD.  

 

Embora as plataformas fixas fossem relativamente fáceis de localizar e destruir, o problema eram as TEL, que os iraquianos haviam aprendido a camuflar e esconder muito bem, aliadas às magníficas " iscas " feitas de borracha na Alemanha Oriental, que eram cópias perfeitas de lançadores móveis, o que custou centenas de toneladas de bombas para serem destruídas. 

 

Com a pressão israelense por resultados voltando rapidamente a subir, era chegada a hora de se usar as SOF na busca por terra destas plataformas móveis. Embora,  o Comandante em Chefe da Coalizão, Gen. Norman "The Bear " Schwartzkopf  não acreditasse na capacidade das SOF de resolver alguma coisa, pois havia visto durante seu período no Vietnam, inúmeras Unidades de Boinas Verdes serem socorridas pelo Exército para evitar que suas posições fossem tomadas, e também assistiu, durante a invasão de Granada, como uma Unidade SEAL da Marinha dos EUA foi quase aniquilada em uma emboscada, por falta de um reconhecimento prévio efetivo do local de desembarque. 

 

Uma ordem direta do Chefe Estado-Maior americano, Gen. Colin Powell, para que desse prioridade ao uso das SOF na busca aos SCUD resolveu a questão. Desde o início o Gen. Schwartzkopf tinha em seu Estado-Maior o Gen. Sir Peter de la Billiére, ex- comandante do 22 SAS como comandante das Forças Britânicas no Golfo.  

 

O SAS no Golfo 

O Iraque invadiu o Kuwait em 2 de agosto de 1990 e nesse mesmo mês homens dos Esquadrões D e G dos 22 SAS já estavam presentes na região do Golfo em alerta, esperando o desenrolar do quadro político. Aproveitando esse tempo eles procuraram se aclimatar e aperfeiçoar as suas habilidade na guerra do deserto. Em Omã eles treinaram com veículos leves de ataque (LSV - Light Strike Vehicle) onde os submeteram a muitos testes. Depois do período de aclimatação eles foram transferidos para a Arábia Saudita.

 

Apesar de começar um grande deslocamento para o Golfo o SAS ainda não sabia como seria usado. Um das primeiras possibilidade foi usar o pessoal do SAS junto com a Força Delta para resgatar centenas de ocidentais feitos reféns por Saddam e transformados em escudos humanos. Mas, esta era uma missão impossível a nível logístico, pois os reféns estavam espalhados em vários locais e muitas vidas seriam perdidas na tentativa de resgate. Mas os reféns foram liberados por Saddam em dezembro, e o SAS estava disponível para outros planos.

 

Em 10 de janeiro de 1991, metade do Esquadrão B foi notificado formalmente que estaria partindo para  a Arábia Saudita no mais tardar até 13 de janeiro. Nesse dia 30, os homens foram transportados então para o aeródromo de Brize Norton para um vôo de setes horas até a península arábica em um VC-10 da RAF. Após desembarcar Riad, as equipes fora conduzidas rapidamente para fora do seu avião em veículos de transporte  cobertos  para uma área reservada da base longe dos olhos de outras unidades militares convencionais.  

 

Este processo é conhecido como "isolamento", e é uma prática comum para as equipes das SF (Special Forces) que se preparam para participar de missões reais e secretas. Os períodos de isolamento podem durar de algumas horas até algumas semanas dependendo do tipo e da urgência da operação. A local dentro da baseUm operador do SAS no interior do Iraque. destinado a equipe de cerca de quarenta homens do SAS tinha um hangar abandonado. Este hangar serviu não somente como abrigo para os soldados, mas também como armazém para virtualmente todo seu equipamento, incluindo os Land Rovers, motos, designadores laser de alvo, alimentos, munição e explosivos. 

 

Até o fim de janeiro de 1991 a maioria do 22 SAS estava reunido na Arábia Saudita, inclusive com o pessoal do Esquadrão R (a reserva do SAS). O total das forças especiais britânicas na área chegava a 700 homens e incluía o SAS, o SBS e as tripulações das operações especiais da RAF.  O 22 SAS tinha cerca de 300 dos Esquadrões A, B, D e g, além de 15 homens do Esquadrão R. O Esquadrão G não chegou a ser usado em combate. Também segundo informações foram deslocados homens do 21 e do 23 SAS, que são unidades do Exército Territorial. Este foi o maior desdobramento regimental do SAS desde a Segunda Guerra Mundial. 

 

Mas os homens do SAS ainda não sabiam em que tipo de operações seriam usados. Embora o deslocamento para a região do Golfo das forças especiais dos EUA e da Grã-bretanha tinha sido rápido, e as mesmas estivessem prontas para a ação, o alto comando aliado não tinha decidido se elas seriam realmente usadas a curto prazo, com exceção de pequenas missões.

 

Isto ocorria porque como já foi visto, o Comandante em Chefe da Coalizão, General Norman Schwarzkopf, não tinha boa impressão das forças especiais, devido a suas experiências pessoais no Vietnã e outros acontecimentos. Ele também acreditava que os satélites e as aeronaves espiãs podiam fazer o trabalho de coleta de inteligência e que os aviões de ataque da Coalizão e as colunas blindadas podiam muito bem realizar todo o trabalho de destruição necessário do inimigo. Bombas e tecnologia colocariam os iraquianos de joelho.

 

Como também vimos, coincidentemente o comandante das tropas britânicas era o General Sir Peter de la Billiére, ex-operador e ex-comandante do SAS. Com a sua larga experiência em operações especiais (Malásia, Oman, Radfan, Bornéu, Falklands) ele acreditava que o SAS se deveria ser usado em missões que necessitasse de fato de toda a sua capacidade e que existissem os meios necessários para prover os seus homens e resgatá-los se fosse o caso. 

 

Em algumas conversas com General Norman Schwarzkopf ele procurou convencer o americano a dar uma chance aos forças especiais para que elas mostrassem o seu valor. Norman Schwarzkopf se mostrou um pouco flexível, e agora a dor de cabeça era achar uma missão que valesse a pena.CH-47 da RAF.

 

Em meados de janeiro de 1991 o General Sir Peter de la Billiére decidiu usar o SAS podia ser usado para criar ataques diversivos a frente do ataque principal das forças da Coalizão, destruir linhas comunicações e caçar os lançadores de Scuds. O SAS se preparava para iniciar essas operações entre 22 e 23 de janeiro, quando no dia 17 de janeiro oito helicópteros de ataque apaches AH-64  destruíram radares de defesa aérea iraquianos e criaram corredores seguros nos quais as aeronaves da Coalizão poderiam voar. A guerra aérea tinha começado e pegou a todos de surpresa. 

 

Em retaliação Saddam disparou mísseis Scuds com ogivas convencionais contra Israel que ameaçou reagir, inclusive com armas atômicas, se atacado com armas químicas ou biológicas. Isso sem dúvidas seria o fim da Coalizão com os países árabes e levaria o conflito para uma agravamento sem precedentes. Justamente o que Saddam queria. Com grandes dificuldades os EUA conseguiram convencer Israel a não reagir garantindo que a Coalizão se encarregaria de destruir os Scuds e seus lançadores.

 

Diante deste quadro decidiu-se usar as forças especiais (SAS e Força Delta) e mais 30% de toda capacidade aérea na busca e destruição dos Scuds e seus lançadores. O General Norman Schwarzkopf ainda era contras o uso das forças especiais, e como vimos, uma ordem direta do Chefe Estado-Maior americano, Gen. Colin Powell, resolveu este problema.

 

Caçada aos Scuds

 

O 22 SAS foi a primeira unidade de SOF a operar diretamente contra a força móvel de SCUDS num esforço concentrado para direcionar os recursos da Coalizão na caça as plataformasPatrulha do SAS pára para descansar com seus Land Rovers. móveis destes mísseis. Duas área de operação foram criadas: a primeira localiza ao sul da principal rodovia ligando Bagdá a Amã, Jordânia, indo de H1 até perto da fronteira saudita, conhecida como Scud Alley (Alameda) foi entregue ao SAS enquanto a segunda, ao norte da rodovia Bagdá a Amã, chegando perto da fronteira com a Síria, conhecida como Scud Boulevard, foi entregue ao JSOTF americana (Força Delta).  

 

Para realizar as suas tarefas no Iraque o SAS montou patrulhas de vigilância de estrada e colunas móveis de combate.

 

Patrulhas de Vigilância de Estrada

Essas patrulhas eram formadas por  oito homens, que por um período de cerca de 10 dias se posicionariam bem atrás das linhas inimigas, sendo inseridos por helicópteros Chinook, para montar Postos de Observação - PO, com o objetivo de monitorar as principais rotas de provisão para a movimentação dos lançadores de Scuds. 

 

Caso alguma plataforma móvel de lançamento fosse avistada imediatamente seria chamado um ataque aéreo para destruir os veículos. Redes de cabos de fibra óptica, que auxiliavam a rede de comando iraquiano no lançamento dos Scuds, seriam alvos secundários.

 

O Esquadrão B forneceu todo o pessoal para formar as três Patrulhas de Vigilância de Estrada, que receberam o nome código de Bravo One Zero, Bravo Two Zero e Bravo Three Zero. Eles ficaram assim dispostas: B10 ficou na região sul, B30 no centro e B20 no norte.

 

B10 - Bravo One Zero

A primeira patrulha do SAS que entrou no Iraque o fez de helicóptero Chinook. Os seus operadores quiseram inspecionar rapidamente o ambiente e pediram para o helicóptero que os trouxe esperar um pouco. Eles decidiram que o terreno plano, cheio de pedregulhos oferecia pouca cobertura e era muito perigoso continuar a missão por ali e voltaram com o helicóptero. 

 

B20 - Bravo Two Zero

A patrulha B20, sob o comando de Andy Mcnab foi inserida no norte do Iraque, a 300 km da fronteira saudita e a cerca de 120 km da Síria. Esses iam fazer parte da história do SAS. 

 

B30 - Bravo Three Zero

A B30 não pediu para o helicóptero Chinook esperar como a B10 fez, mas novamente, inspecionando o ambiente, decidiu que era muito arriscado continuar e decidiu voltar para a fronteira saudita no único veículo que eles tinham. Antes de partirem eles pediram um ataque contra uma estação móvel de radar que estava ali perto. Um A-10 dos EUA os confundiu com o objetivo; porém, percebendo o seu engano a tempo, o piloto conseguiu destruir o alvo inimigo. Segundo informações eles levaram alguns prisioneiros com eles.

 

Este é um exemplo de que além de caça os Scuds o SAS também atacou alvos iraquianos de oportunidade, sempre que possível usando para isso aviões da coalizão ou suas próprias armas. 

 

Colunas Móveis de Combate

Essas colunas foram formadas pelo SAS com o objetivo de levar a cabo a procura e destruição dos Scuds e seus lançadores. Elas tinham um potência de fogo considerável e podiam destruir quase tudo. Com essas colunas se movendo atrás de suas linhas os iraquianos eram forçados a desdobrar uma grande quantidade de forças para caçá-las.

Quatro Colunas Móveis de Combate foram formadas, duas com pessoal  do Esquadrão A e duas com o pessoal do Esquadrão D. As colunas treinaram antes de entrarem no Iraque no Emirados Árabes Unidos.

Cada coluna tinha cerca de 30 homens e 12 veículos. Os veículos eram: um caminhão de suporte Unimog, fabricado pela Mercedes, que levaria a maioria das cargas como combustível, água, munição, equipamento de proteção NBC, peças sobressalentes e outras coisas; de oito a dez 110 Land Rovers, cada qual armado com metralhadoras Browning .50, GPMGs, lançadores de granada M19 de 40 mm lançadores de mísseis antitanque Milan, lançadores de mísseis antiaéreos Stinger e LAWs, cada Land Rover levava de três a quatro homens, além de mantimentos e equipamentos; e duas motos. As colunas se moviam a noite e descansavam durante o dia, em posições seguras e camufladas. Os homens normalmente estavam armados com pistolas 9 mm, fuzis M-16, muitos com lançadores de granada M230, SLR, rifles L96A e submetralhadoras.

As equipes do SAS foram equipadas com os designadores de alvos a laser, para o uso na iluminação de alvos iraquianos em terra para a realização de ataques por aviões da Coalizão. Deve-se destacar que o pessoal do SAS foi obrigado a levar pílulas contra agentes anti-nervo, porém em alguns casos parece que este procedimento não foi adotado. 

Às equipes do SAS foi requisitado que não atacassem simplesmente todos os alvos de oportunidade. Dado a fragilidade da Coalizão, foram enfatizados fatores políticos. Camuflando uma posição do SAS.

Um operador do SAS descreveu o problema desta maneira: "Nós sabíamos que os parâmetros das operações eram bem soltos, mas isso não significava que nós poderíamos sair explodindo tudo a nossa frente. Nós éramos tropas estratégicas, assim o que nós fazíamos atrás da linhas inimigas poderia  ter implicações políticas sérias. 

 

Se nós víssemos um oleoduto, por exemplo, e o detonássemos, nós poderíamos estar lançando a Jordânia na guerra, poderia ser um oleoduto de Bagdá para Amã que os aliados tinham concordado em não destruir de forma a permitir que a Jordânia tivesse o  seu óleo. Assim se nós víssemos um alvo de  oportunidade nós teríamos que ter permissão para lidar com ele. Com a permissão dada nós poderíamos causar um grande dano a máquina de guerra iraquiana, sem causar  qualquer dano a Coalizão em questões políticas ou estratégicas."

 

Em 20 janeiro, operadores do SAS cruzaram a fronteira iraquiana pela primeira vez. Os detalhes operacionais, tais como o tipo de transporte, estavam mais relacionados com os métodos operacionais do líder da equipe. Os métodos da inserção disponíveis eram os seguintes: cruzar a fronteira: a pé, de veículo, ou de helicóptero. 

 

Parece que a inserção de pára-quedas usando a técnica HALO era uma possibilidade, mas seu emprego real não foi confirmado. Isto é muito provável devido a fácil detecção por parte dos radares iraquianos de uma aeronave grande como um C-130 Hercules. Tal detecção não somente iluminaria o avião para os mísseis e canhões antiaéreos, mas poderia também dar a localização geral de uma equipe que tentasse se infiltrar.    

em muitas de suas incursões os homens do SAS faziam oficias iraquianos prisioneiros. Eles eram levados para a retaguarda nos Chinooks.

Com tantas equipes operando no interior do Iraque se fazia necessário o seu reabastecimento. Não era operacionalmente viável que cada uma voltasse a Arábia Saudita para se reabastecer e voltar. Por isso foi criada uma formação temporária, o Esquadrão E, com a missão de abastecer as colunas do SAS em pleno Iraque. Foi formado um comboio com dez caminhões, fortemente escoltados por Land Rovers armados que se moveram para um ponto de encontro a mais de 139 km dentro do Iraque onde seriam encontradas as Colunas Móveis de Combate. 

 

Partindo da Arábia Saudita no dia 10 de fevereiro pela, a coluna alcançou o ponto de encontro por volta das 15:00 do dia 12. O ponto de encontro se tornou uma colméia de atividade. Armas e veículos foram consertados ou reparados, prisioneiros foram entregues e reuniões de planejamento foram realizadas. O Esquadrão voltou para a Arábia Saudita no dia 17 de fevereiro e logo depois deixou de existir.

 

O ataque a "Victor Two"

 

Um contingente de 30 homens do Esquadrão "A" era a típica Coluna Móvel de Combate do SAS na caçada aos lançadores móveis de Scuds, e a coluna que atacou a posição iraquiana "Victor Two" é uma dessas colunas.. Esta coluna era composta de seis 110 Land Rovers, de um veículo de suporte Unimog, e de duas motocicletas. A ordem da coluna era três 110, o Unimog, então os outros três 110s juntos com as duas motocicletas. Sempre que possível, os veículos seguiram as trilhas dos veículos da frente, para confundir o inimigo a respeito do número real dos veículos da coluna. O tipo de armamento levado pelos times do SAS variou muito. Patrulha do SAS em pleno deslocamento no deserto iraquiano. 

 

 As armas pessoais incluíram rifles M-16  lançadores de granada M-203, rifles de franco-atiradores, granadas, e um grande sortimento de alto explosivos. As armas montadas incluíram mísseis antitanques Milan e TOW, lançadores de granadas Mk 19, metralhadoras de emprego geral de 7.62mm e de .50pol. 

 

Para minimizar a possibilidade de contato com os iraquianos o comboio se deslocava principalmente à noite. Durante o dia, os veículos eram recolhidos e escondidos debaixo de redes de camuflagem. Todo o tempo durante o qual o time não estava viajando era usado para descanso, manutenção e planejamento. Uma série de problemas inesperados foram enfrentados pela coluna imediatamente após a sua partida. O primeiro deles foi às altas temperaturas de extremo frio durante as noites. 

 

Esperava-se que o tempo esfriasse, mas não temperaturas tão baixas, por isso a coluna não dispunha de agasalhos para temperaturas bem baixas. Isto causou muita fadiga em todos os membros do SAS pelo fato de que nenhum dos veículos estava coberto, e por conseqüência não se pôde beneficiar de aquecedores. 

 

O segundo problema foi temporário, mas atrasou a entrada da coluna em território iraquiano. Os iraquianos tinham erguido uma grande barreira de areia ao longo da fronteira, esta barreira era grande o bastante  para impedir o avanço de qualquer veículo. Equipes de reconhecimento do Esquadrão foram enviadas para examinar uma extensão de 50km da barreira para achar um ponto de cruzamento satisfatório, porém nada foi encontrado. Isto forçou a recolocação da coluna para outro ponto de entrada muito mais distante ao nordeste. Os problemas não acabaram com o cruzamento da fronteira. Na segunda noite da coluna , um Land Rover foi perdido numa colisão com o UniMog e teve que ser enterrado antes do comboio poder prosseguir. Os quatro homens que estavam no Land Rover perdido foram transferidos para o UniMog, e a coluna  pode então continuar. A certa altura um veículo iraquiano com três homens se aproximou do esconderijo de uma das equipes. Dois iraquianos foram mortos e o terceiro foi feito prisioneiro, seguindo a sua extração por helicóptero (o que era um procedimento padrão), o veículo iraquiano foi destruído com explosivos. 

 

A palavra código capturada  do iraquianos, "Victor Two",  estava relacionada com um posto de controle iraquiano responsável por um número substancial de direcionamentos de ataques com Scuds da região Ocidental. A coluna começou a receber informações detalhadas de localização, planejamento e poder de fogo do local codificado das transmissões de rádio enviadas pelos comandantes iraquianos. Tão detalhada era a informação, que descrevia com precisão não só a estrutura de superfície, mas também as especificações estruturais da arquitetura subterrânea. Dois operadores do SAS decifraram as informações, uma prática padrão do SAS. Eles também calcularam que a guarnição inimiga era de aproximadamente 30 homens, na realidade o número era quase dez vezes maior. Por alguma razão, o fato das aeronaves da Coalizão terem bombardeado o local não foi informado a coluna . O Gen. Norman Schwarzkopf cumprimenta pessoalmente homens do SAS que participaram da campanha do Golfo em 1991.

 

Equipes iraquianas de manutenção tinham sido desdobradas em resposta ao ataque e isto foi à  resposta ao inesperadamente grande número de inimigos presentes. É importante notar que o bombardeio não causou suficiente dano ao local para fazê-lo inoperante. Esta constatação só foi possível através de uma inspeção detalhada realizada pelos elementos de uma equipe de reconhecimento, realizada logo após o ataque. É provável que os iraquianos camuflaram os danos e levaram os planejadores da Coalizão a acreditar que aquele alvo estava fora de ação. De fato quando a equipe do SAS chegou ao local, o mastro principal de transmissão estava baixado, mas a bateria ainda era capaz de realizar operações continuas. No assalto que seguiu o local foi destruído funcionalmente e a equipe retirou-se sob fogo. Surpreendentemente, nenhum homem do SAS foi morto ou ferido no ataque. Esta coluna  retornou à base seis semanas depois de sua partida como programado.   

 

Conclusão

Ao final da guerra, o SAS e o SBS tinham sem envolvidos na destruição de muitas instalações de comunicações e, é calculado, que tenha destruído um terço dos lançadores de Scuds. Tinha-se esperado um grande número de baixas, diante de um terreno perigoso, com temperaturas geladas, chuvas e granizo, além de inúmeros problemas de inteligência e de rádio. Mas só quatro operadores foram perdidos (três membros do B20 e um motoqueiro de uma Coluna Móvel de Combate). Apesar da guerra "oficial"  em terra, que começou em 24 de fevereiro, ter durado apenas 100 horas, o SAS operou atrás das linhas iraquianas por mais de 40 dias. Os Land Rovers cobriram um média de 1.500 milhas e as As motocicletas uma média 1.875 milhas. O Gen. Norman Schwarzkopf escreveu uma Carta de Elogio para o 22 SAS, entre as expressões usadas podemos destacar: 

"... desempenho totalmente excelente... 
... a única força qualificada para esta missão crítica era o SAS... 
... nas tradições mais altas de serviço militar..."

 


 

GALERIA - SAS - IRAQUE 1991

 

 


 

 

BRAVO TWO ZERO - B20

Em 1993,  Andy McNab (esse nome é um pseudônimo), operador do SAS lançou um livro detalhando as experiências de sua patrulha de oito homens envolvida nas operações de caça aos Scuds durante a Operação Tempestade no Deserto. Uma análiseAndy Mcnab resumida das ações desta patrulha nos dá a idéia das circunstâncias e fatores enfrentados pelas equipes do SAS e da Força Delta em sua luta contra o Scuds. O Pessoal de inteligência militar britânico fez um resumo para o SAS sobre as mais variadas formas de identificar um transporte lançador de Scud (Transporter Erector Launcher-TEL) e sua escolta: "Você pode esperar que o TEL seja acompanhado por um veículo de comando, como um Land Cruiser, com o comandante do comboio a bordo. No próprio TEL estará a sua tripulação, dois homens na frente, e os outros operadores na parte de trás. 

 

O posto de comando dentro do TEL está no centro do veículo, com a localizada em uma porta no lado à esquerda do veículo. Pode haver uma unidade de infantaria em apoio, mas nós não sabemos quantos nem se poderia haver vários TELs que operariam juntos ou em comboios." Fica claro que os dados da inteligência militar sobre os Scuds de Saddam Hussein eram pobres, e que as equipes deveriam aprender muitos sobre eles. Para complicar mais ainda o cenário da caçada não se sabia ao certo como se eliminar os lançadores e os próprios mísseis Scuds. As agências de inteligência aliadas estavam cientes que as ogivas dos mísseis poderiam conter agentes químicos ou biológicos.  Assim, atacar diretamente os mísseis em terra podia ser letal para as equipes das forças especiais. A Coalizão estava ciente da capacidade significativa do Iraque monitorar comunicações. Existia um complexo sistema de postos de escutas disperso por todo o Iraque. Este fato impediu o uso de freqüências padrões de rádio, para que a equipe não denunciasse a sua posição para as patrulhas inimigas na sua área de operação. 

 

No caso do Bravo Two Zero, o rádio só seria usado para solicitar um ataque aéreo caso o objetivo fosse de grande importância. A missão preliminar do Bravo Two Zero era a eliminação de uma linha subterrânea de comunicações, que ataques aéreos não tinham conseguido neutralizar. A campanha de bombardeio tinha destruído muito da capacidade de comunicações de superfície do Iraque, mas boa parte da malha subterrânea esta em condições de uso. Foi descoberto que a maioria do tráfico de mensagem de Hussein estava sendo feito por cabos de fibra ópticas que riscavam o país. 

 

E desconfiava-se que os lançadores de Scuds usavam estas mesmas linhas. Foi calculado que devido a uma falta de capacidades de comunicações secundárias, uma privação crescente de técnicos qualificados para os consertar, e a incapacitação física das linhas, impediriam Hussein de empregar os TELs com habilidade. Os ataques aéreos iniciais tinham deixado destruídas seis pontes que cruzavam o rio Tigre na região central de Bagdá. Estes ataques impediram os cruzamentos por terra dentro da capital iraquiana além de também terem cortado os cabos de comunicações que estavam amarrados ao longo dos lados inferiores das estruturas das  pontes. Isto representou uma grande dificuldade para Saddam e seu alto-comando entrarem em contato com suas forças no Kuwait e também com os oficiais que comandavam os TELS no campo. A área de operações atribuídas ao Bravo Two Zero era de cerca de 150 milhas ao longo da rota principal de provisão inimiga no norte do Iraque. A equipe foi notificada que o seu reabastecimento seria realizado por helicóptero em quatorze dias. 

A patrulha Bravo Two Zero antes de partir em sua missão no deserto iraquiano.

 

Ao contrário do Bravo One Zero, as patrulhas seriam feitas totalmente a pé. Esta decisão foi tomada principalmente devido as preocupações da equipe de se esconde os veículos no terreno liso, que era o tipo de solo aonde eles iriam operar. Os oito homens seriam levados para dentro do Iraque em um único Chinook da  RAF, que forneceria também o reabastecimento solicitado pela equipe durante a sua patrulha. O local inicial selecionado para o desembarque da equipe pareceu seguro na escuridão da noite, porém um reconhecimento breve pela manhã descobriu que era perigosamente perto de diversas armas antiaéreas S60 (57mm) iraquianas. A decisão tomada foi solicitar a exfiltração e a recolocação da equipe dentro do Iraque. Porém a exfiltração falhou e a patrulha estava impossibilitada de notificar seu quartel-general sobre a sua situação. A patrulha encontrou uma criança iraquiana que correu gritando na direção dos S60. A patrulha decidiu se evadir. A fim de poder escapar mais rapidamente da perseguição iraquiana os homens do SAS despojaram-se de suas mochilas e procuraram carregar o que podiam. Diversas tentativas de resgate foram feitas baseadas em transmissões fracas realizadas pela patrulha, que tentava se evadir do Iraque, porém nenhuma teve êxito.

 

Era demasiado óbvio se dirigir para a Arábia Saudita, sendo assim eles foram em direção da Síria. A Brazo Two Zero tinha não só que lutar contra os iraquianos como também contra o tempo e o terreno. A fim de aumentar a suas chances de fuga o grupo de dividiu em dois, uma equipe de 3 e outra de 5.  Os homens mantiveram um ritmo acelerado em sua fuga, mas isto resultou em um alto preço. No grupo menor, o sargento Vince Phillips morreu nas colinas iraquiana de uma combinação de esgotamento físico e hipotermia.  Um dos outros dois outro foi capturado, mas Chris Ryan desafiando todos os obstáculos e dificuldades, conseguiu caminhar dia e noite. Descansando e comendo onde podia ele caminhou  200km em direção a fronteira síria, onde foi resgatado. 

 

Esta foi uma realização surpreendente levando-se em conta que durante dois dias ele não tinha nada para beber. O grupo maior teve no princípio sorte mas foi envolvido em um duro combate com soldados iraquianos na fronteira. Quando eles começaram a escapar Robert Cosiglio foi morto e outros dois soldados do SAS capturados inclusive o Sgt. Andy Mcnab. Steven "Legs" Lane estava quase inconsciente como outro membro da equipe " Dinger " quando conseguiram entrar em uma cabana, porém Lane morreu de hipotermia e "Dinger" foi capturado quando tentava escapar. Os 5 que foram capturados foram torturados pelos iraquianos, que buscavam informações sobre outros homens do SAS, mas nenhum deles revelou nada. Eles foram mantidos presos até o final da guerra.

 


 

McNab, o autor sem rosto e sem nome

Ana Carolina Mesquita

03/05/2002 - Seu verdadeiro nome não pode ser revelado, muito menos sua imagem. Sob o pseudônimo de Andy McNab, esse ex-operador do SAS tornou-se autor best seller na Europa e nos EUA. Começou narrando sua vida cheia de adrenalina, pistolas, bombas e guerras como a do Golfo. Depois, passou para a ficção criando aventuras para seu alter-ego Nick Stone, todas recheadas das técnicas e conflitos que envolvem um espião da vida real. McNab veio lançar Controle Remoto, o primeiro livro de sua série de ficção, na 17a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde só se deixava fotografar de costas, como na foto acima. Olhando-o, era difícil acreditar que o homem de aparência cândida à la Robin Williams tivesse atrás de si um sem-número de mortes.

McNab serviu no Esquadrão B da SAS por 9 anos trabalhando em operações anti-terroristas e anti-drogas, secretas e oficiais, no Oriente Médio, na Ásia, na América Latina e na Irlanda do Norte - onde viveu 2 anos, trabalhando no 14o Grupo de Informação, organização secreta de coleta de informações que opera no país contra as atividades de grupos como o IRA. Durante seus 18 anos de espião, especializou-se em treinamento anti-terrorismo, demolições, eliminação de suspeitos, armas, táticas e proteção a personalidades.

Na Guerra do Golfo, foi de McNab o comando da Bravo Dois Zero, patrulha de 8 homens cuja missão era destruir as bases de lançamento de mísseis Scud e acabar com a rede de comunicação subterrânea entre o norte do Iraque e a capital, Bagdá. A missão foi descoberta: 3 homens foram mortos, 4 foram capturados e um fugiu. McNab estava entre os presos e sofreu torturas que lhe provocaram problemas nos nervos das mãos, nos rins e no fígado. Sua aventura na Guerra do Golfo rendeu Bravo Two Zero (1993), o livro sobre guerra mais vendido no mundo, que somente no Reino Unido soma a venda de 1,5 milhão de cópias. O livro virou filme em 1999, com título homônimo, estrelado por Sean Bean.

Em 1995, o ex-espião trabalhou em Hollywood no filme Fogo Contra Fogo. A relação de McNab com Hollywood rendeu a venda dos direitos da série de aventuras de Nick Stone para o cinema para Miramax. Leia entrevista exclusiva com o espião polivalente, em que ele fala de Controle Remoto, desmitifica o trabalho de espião e fala de sua relação com o IRA.

Somlivre.com - O sr. não mostra seu rosto porque tem medo de ser morto pelo IRA (Exército Republicano Irlandês), mas viaja para divulgar seu livro. Como é isso? O sr. não tem medo?
Andy McNab
- Isso é porque eu basicamente protejo minha identidade, e há duas razões para isso. Primeiro devido à natureza do trabalho da SAS (Agência de Inteligência Britânica): fazemos um monte de trabalho de combate ao terrorismo, então mostrar fisicamente meu rosto pode comprometer algumas das operações em que eu estive envolvido. E também porque expor-me na mídia me torna um alvo fácil. Então esconder meu rosto é apenas uma atitude sensata para que eu possa ter uma vida normal. Tenho medo de ser morto, sim. Eu posso ser morto. Há apenas duas semanas, o IRA soltou novas listas de assassínios. Não sei se estou nelas ou não, essas coisas se arrastam indefinidamente. Então é apenas segurança pessoal, assegurar que eu não seja um alvo.

Sl - Mas eles sabem que o sr. não é mais da SAS.
McNab
- Sim, mas não importa. Todos os grupos terroristas pegam ex-políticos, ex-militares, não importa, desde que sejam alvos fáceis. Por causa das atividades da SAS na Irlanda, eles sabem das operações que conduzimos, sabem das pessoas que matamos e das coisas que fizemos. É fácil querer retaliação.

Sl - Por que deixou a carreira de espião?
McNab
- No Exército Britânico, pode-se servir por apenas 22 anos. Eu servi 18 e então me ofereceram um trabalho para fazer o mesmo serviço, só que para uma empresa militar privada. E o dinheiro era fantástico (risos). Foi por isso que deixei a SAS. Eu tinha uma casa para pagar, essas coisas (risos).

Sl - E por que o sr. não pode falar sobre seu passado?
McNab
- Geralmente eu posso falar do passado, pelo menos sobre a maioria das coisas; mas há coisas de que não posso falar puramente porque essas operações ainda estão em curso, e falar delas pode colocar a vida de outras pessoas em risco.

Somlivre.com - Por que o sr. resolveu se tornar um espião?
Andy McNab
- Eu entrei para o exército antes, na infantaria. Aos 16 anos, fui preso como delinqüente juvenil por arrombar e roubar apartamentos. O Exército costumava visitar as prisões e convidar os presos a se juntar a eles, e foi o que eu fiz. Depois, já com 20 e poucos anos, passei pelo processo de seleção para me tornar membro da SAS.

Sl - Por que isso lhe parecia interessante?
McNab
- Apenas parecia a coisa certa a se fazer. Se você é um carpinteiro, quer trabalhar para a melhor fábrica de móveis. Naquela época, eu havia decidido que queria ser um soldado profissional, e a SAS parecia ser o melhor lugar para isso. Não foi uma decisão extremamente pensada, foi mais um impulso, "ei, é para lá que eu vou".

Sl - O sr. tinha uma ideologia do tipo "vou proteger meu país"?
McNab
- Não, de jeito nenhum. Acho que existe um mito de que as pessoas fazem essas coisas por seu país, mas nunca vi isso. Talvez uma ou duas pessoas pensem assim, mas a grande maioria, eu inclusive, não arrisca sua pele pelo país. De jeito nenhum! Elas o fazem por suas próprias razões - para escapar do desemprego, ou da prisão, ou ambos, não sei. Elas olham para essa escolha como uma escolha profissional; lutar pela rainha, pelo país e coisas do tipo é uma coisa que só existe nos filmes (risos).

Sl - Em Controle Remoto, todos os personagens que trabalhavam como espiões ou como membros da SAS estavam em conflito quanto a continuar em suas atividades ou ir viver uma vida normal, digamos. Isso é reflexo de uma postura sua?
McNab
- Sim, vivi isso todos os dias. Em alguns dias você pensa, "que merda, tenho de sair dessa". Noutros dias você fala, "que legal", e tem horas que você nem pensa nisso. É sempre assim. Algumas vezes as pessoas têm conflitos com as missões que lhes foram destinadas - não importa se conflitos morais ou políticos. Algumas delas deixam a SAS por causa desses conflitos pessoais, mas a grande maioria não chega a esse ponto. Mas sim, há sempre o conflito - porque não é maravilhoso todo dia. Na maioria das vezes não é legal. Acho que todos os seres humanos são assim em seus trabalhos, têm sempre dúvida se o trabalho que escolheram é realmente o ideal para eles.

Sl - Sua missão mais difícil foi Bravo Dois Zero?
McNab
- Sim, certamente fisicamente foi a mais difícil, especialmente porque fui capturado. Mentalmente a mais difícil e aterrorizante foi o trabalho debaixo dos panos na Irlanda, porque não é questão de usar armas e etc., mas de usar roupas civis e fingir que você é outra pessoa. E você nunca sabe se as pessoas sabem quem você é ou não. Eu nunca tive medo da ação física, porque eu sabia o que estava acontecendo, não dava para fazer nada, só agir. Mas trabalhar infiltrado tem mais a ver com preparo mental e psicológico, e é muito mais tenebroso e difícil.

Somlivre.com -O sr. vendeu os direitos de seus livros à Miramax, para que eles os filmassem em estilo James Bond. Porém, em Controle Remoto, Nick Stone afirma em uma passagem que " as pessoas acham que ser espião é que nem um filme de James Bond, com carros e cassinos, e não é". Não é contraditório?
Andy McNab
- Não desta forma. Eles estão tentando fazer uma versão realista de James Bond. Olha, eu gosto de James Bond, acho James Bond maravilhoso como entretenimento, mas não é assim que os espiões vivem. A Miramax ficou interessada nos livros porque gostou dessa idéia de um espião realista, que não está bebendo champanhe, mas comendo hambúrguer no McDonald´s.

Sl - O sr. gosta dessa idéia?
McNab
- Sim, muito, estou completamente envolvido no projeto. Agrada-me que eles queiram manter a essência dos livros, então o público pode se identificar mais com o personagem. Porque ele é apenas um cara normal, vivendo situações estranhas. E ele tem conflitos, como você falou, então é uma abordagem mais realista. Seria completamente sem sentido competir com James Bond, que é fantástico pelo que é.

Sl - O sr. fará os roteiros?
McNab
- Não, não tenho habilidade para isso. Foi contratado um roteirista profissional.

Sl - O sr. dará assistência a ele?
McNab
- Não exatamente, na verdade temos o que chamamos de conferências, em que todos os envolvidos debatem sobre o desenvolvimento das histórias. Mas ninguém pode interferir na realização do roteiro.

Somlivre.com - Por que o sr. decidiu escrever livros sobre sua vida de espião?
Andy McNab
- Porque me pediram. Logo que eu saí da SAS, fui abordado para escrever sobre Bravo Dois Zero, sobre o que aconteceu na Guerra do Golfo quando estava no Iraque. A razão é que havia tanta coisa na mídia sobre esse evento, e a idéia era que, se eu escrevesse a história do que realmente acontecera, todas as conjecturas iam parar. Mas o que aconteceu foi que o livro teve tanto sucesso nos EUA e na Europa que, em vez de abafar a história, só colocou mais lenha na fogueira. Foi aí que eu decidi continuar escrevendo.

Sl - Controle Remoto é sua primeira obra de ficção. Quanto de Nick Stone é Andy McNab?
McNab
- Todas as partes boas (risos). É uma mistura, na verdade, puramente porque, quando você escreve sobre um personagem, usa suas próprias experiências. Mas Nick Stone é um cara confuso sobre a vida, sabe que quer fazer a coisa certa, mas não sabe como. Ele se sente bem fazendo o que faz, mas é confuso quanto a sua vida. Quando saí da SAS eu achava muito difícil viver no mundo real. Eu não sabia nem como ir ao médico, porque eu nunca tive de fazer isso. Por toda minha vida, se eu precisava de um médico, a SAS mandava um até minha casa. Nem sabia como achar um médico! Então achava a vida muito confusa, e Nick Stone tem muito disso. Eu nem sabia como tomar um ônibus; não sabia se eu tinha de comprar bilhete ou se eu podia usar moedas. O mundo real era muito estranho para mim.

Sl - O sr. irá escrever mais livros dessa série?
McNab
- Sim, há um novo livro que espero terminar este ano. É sobre Al-Qaeda (a organização terrorista liderada por Osama bin Laden) e a briga na Europa para parar o dinheiro que financia o terrorismo. Chama-se Liberation Day (Dia da Libertação). E é com Nick Stone de novo, todos os livros de ficção são com ele. O  James Bond do McDonald´s.

Sl - Quais seus próximos projetos?
McNab
- O filme, que será a adaptação do livro Crisis Four (Crise Quatro), segundo livro da série de livros de ficção. É uma história sobre as atividades de Osama Bin Laden nos EUA. Depois será a vez de Controle Remoto, se o primeiro der certo (risos).

Somlivre.com - Em Controle Remoto o conflito entre o IRA e as polícias e exército britânicos é muito forte. Qual sua opinião a respeito?
Andy McNab
- Absolutamente a mesma de Nick. Não é interessante para ninguém o fim desse conflito. Se os conflitos param, vem o desemprego, vem a diminuição do poder dos militares britânicos, políticos não têm mais o que prometer às pessoas em suas plataformas. Uma coisa alimenta a outra. E depois não se torna mais uma coisa terrível, mas apenas algo que está lá. Torna-se um ganha-pão para as pessoas que combatem dos dois lados: você recebe um salário e vários benefícios, então por que ia querer o fim do conflito?

Sl - Então o sr. acha que isso nunca irá acabar.
McNab
- Acho que não, porque do lado dos terroristas não é só a razão por trás da luta, mas o controle de drogas, prostituição, extorsão, jogatina. É um negócio grande, e ninguém quer seu fim, porque cada um à sua maneira faz disso seu ganha-pão.

Sl - Como o sr. como espião conseguia trabalhar assim, sabendo que seu trabalho não fazia nenhum sentido?   
McNab
- Por isso eu disse que ninguém que eu conheço faz esse serviço pelo país ou porque acredite no fim da violência. Isso não existe. Eu encarava meu trabalho como um trabalho qualquer, não tenho de mudar nada, nem posso. Fazia meu trabalho sempre orgulhoso da habilidade técnica - se as coisas davam certo, eu ficava satisfeito. É por isso que não chamamos o outro de inimigo, porque ele não é. Todos são jogadores. O inimigo de hoje será o amigo de amanhã, de acordo com as decisões políticas. Então você só tenta fazer seu trabalho, da melhor forma possível. Eu concordo totalmente com a reivindicação nacionalista do IRA. Acho que eles têm razão de querer a independência. Mas eu não concordo com a forma como eles agem. Então não odeio o IRA. Algumas das técnicas e habilidades que eles desenvolveram estão entre as melhores do mundo, e hoje eles são terroristas excelentes. De uma forma bizarra, podemos apreciar como espiões o que eles fazem, e usar algumas de suas técnicas - porque são boas e funcionam.

Sl - Você chegou a se infiltrar no IRA?
McNab
-Parte do trabalho é tentar achar as USAs, unidades de serviço ativo. Essas USAs trabalham de forma muito parecida com equipes de resistência, com um pequeno número de pessoas que não conhecem ninguém do IRA além de sua equipe. Então, se você captura alguém, essa pessoa só conhecerá um número muito pequeno de pessoas. Uma vez que se consegue identificar esses grupos, tenta-se descobrir o que eles fazem para, quem sabe, descobrir onde guardam suas armas, explosivos, quais seus planos. As decisões quem toma não é o espião, e sim uma cúpula.

Andy McNab, ex-espião do SAS cujo verdadeiro nome não pode ser revelado, tornou-se famoso por relatar sua experiência como líder da famosa patrulha Bravo Dois Zero na Guerra do Golfo. Bravo Two Zero tornou-se o livro sobre guerra mais vendido do mundo: 1,5 milhão de exemplares só no Reino Unido.

Depois do sucesso como escritor, McNab não parou mais. Além de lançar uma autobiografia, Immediate Action, iniciou com Controle Remoto a série de ficção protagonizada por Nick Stone, seu alter-ego: um exímio espião inglês da SAS que come no McDonald´s, dorme em espeluncas e está em eterno conflito quanto à sua verdadeira vocação. Nos livros sobre as missões de Stone, o que não falta é detalhe sobre as técnicas de espionagem, de como escapar numa perseguição a como preparar bombas caseiras e anular sensores.

Em Controle Remoto, ele já começa encrencado numa missão em Gibraltar, perseguindo um grupo de terroristas do PIRA (racha do Exército Rpublicano Irlandês - IRA). Depois, Stone vai ao Iraque em operação secreta treinar curdos para assassinar 3 membros de um partido do país na esperança de derrubar o governo, mas não checa se os números de série das armas usadas haviam sido apagados.

Para se redimir, faz um novo serviço como agente K (de missões por baixo do pano): seguir 2 terroristas do PIRA até Washington DC e descobrir sua missão. A operação é cancelada assim que Stone chega aos EUA e ele resolve visitar um amigo ex-espião. É aí que começa seu inferno: a família do amigo é brutalmente assassinada, restando apenas sua filha mais nova, Kelly, de 7 anos. Começa a fuga de Stone com a menina por Washington tentando descobrir os autores do crime e sua motivação.

McNab acerta nos detalhes em sua narrativa cheia de reviravoltas e no retrato humanista do espião, além de, claro, ser muito interessante seu didatismo das técnicas de espionagem. Mas o ponto alto do livro é ver como ele constrói a relação de um espião de 40 e poucos alienado do mundo real com uma menina de apenas 7 anos embebida de cultura pop. É na relação de Stone com Kelly que Controle Remoto consegue sair do estereótipo do livro de ação. (Ana Carolina Mesquita)

Um escritor proibido de mostrar a cara

O inglês Andy McNab veio para a Bienal do Livro, mas não pode ser fotografado, por exigência do governo britânico: ele foi agente secreto

São Paulo - Andy McNab é um sujeito corpulento, sorridente, com o cabelo cuidadosamente penteado ao estilo George Clooney e um bronzeado vistoso para quem vive em uma cidade chuvosa como Londres. Uma descrição mais exata seria possível com uma fotografia, mas McNab não permite a divulgação de sua imagem - no máximo, à meia-luz, com o rosto coberto ou, então, de costas.

Ele apressa em desfazer qualquer idéia de capricho: ex-operador do SAS, McNab é obrigado pela legislação de seu país a ocultar sua identidade. Até mesmo o nome com que se apresenta é um pseudônimo. "Isso incomoda um pouco, mas já estou me acostumando", diz ele, que veio a São Paulo participar do lançamento de Controle Remoto (Geração Editorial), livro de espionagem em que utilizou a própria experiência para construir a ficção.

Os momentos vividos por McNab, aliás, soam como irreais, mas compõem um delicioso enredo de aventuras. Bebê, foi deixado dentro de uma sacola em frente a um hospital londrino. Adolescente, foi preso por roubar eletrodomésticos. Foi salvo do crime pelo Exército, que recrutou voluntários no presídio. "Não só me livrei da vida bandida como ganhei uma educação, pois, para ficar no Exército, era obrigado a ler", relembra.

Em pouco tempo, conseguiu atingir o serviço secreto, órgão que o capacitou para missões especiais em diversas partes do mundo, como Irlanda, Colômbia e diversos países do Oriente, inclusive na Guerra do Golfo. Nesse conflito, sua missão era destruir os mísseis Scud em território inimigo. A situação estava sob controle, quando McNab e outros três oficiais foram capturados.

O cativeiro não foi nada agradável: torturado, ele teve os dentes do fundo esmigalhados pelo cabo de um rifle, alguns dedos inutilizados além de submetido a queimaduras com pontas de cigarro e colheres quentes. O sofrimento, porém, não foi capaz de azedar seu humor: "Hoje, só lamento não ter mais força nos dedos para puxar o anel das latinhas de refrigerante", diverte-se McNab, que dividiu uma tarde de autógrafos na bienal com o escritor Marçal Aquino, autor de O Invasor. "Ele é uma figura", comentou Aquino.

As experiências inspiraram seu primeiro livro, Bravo Dois Zero, que conta a história da Guerra do Golfo e logo será lançado pela Geração. A estréia na ficção veio com Controle Remoto, que, apesar de apresentar uma série de macetes da espionagem, jamais revela detalhes. "Há um trecho em que uma garotinha monta um explosivo a partir de sabão em pó", conta McNab. "Isso é possível, mas não conto todos os passos." Ele também faz mistério sobre ter participado de alguma missão no Brasil.

Atualmente, além de viajar pelo mundo divulgando sua obra, McNab trabalha em Hollywood como consultor de filmes de ação. Seus livros, aliás, serão filmados pela Miramax. E ele se diverte com a visão farsesca criada pelo cinema. "Não há personagem mais divertido que James Bond", afirma.