Perfil da Unidade
BRIGADA GURKHA "Ayo Gurkhali!" Seu lema: "É melhor morrer do que ser um covarde!"
"Se um homem diz que ele não tem medo de morrer, ou ele está mentindo ou é um
Gurkha" Origem Que o Exército britânico possa contar com a assistência de batalhões de fuzileiros Gurkhas — constituídos basicamente de nativos das montanhas do Nepal — é traço significativo da sua herança colonial. Estes pequenos guerreiros são conhecidos como uma das mais terríveis tropas de assalto do Exército Britânico muito mais por sua tenacidade nata em combate, usando inclusive as suas temidas facas "kukri", do que por eventuais equipamentos que empreguem.
Guerreiro gurkha em 1815
O termo Gurkha normalmente é usado para descrever os homens do noroeste do Nepal que servem como soldados nos exércitos do Nepal, Índia ou Grã-Bretanha. A palavra deriva de Gorkha, antiga cidade estado localizada no Nepal que entrou em guerra com as tropas britânicas que serviam na Índia. Os Gurkhas são de descendência hindu-mongol e vivem nos sopés das montanhas do Himalaia, no Nepal. Seus ancestrais eram das tribos Rajput e Brahmin, as quais dirigiram-se para fora da índia no século XVI. Ainda vivendo como tribos, misturaram-se com os mongóis dando origem a várias tribos como os Gurungs, Magars, Rais, Tamangs, Limbus. Os ancestrais dos Gurkhas terminaram por conquistar as demais tribos da região, unindo-as e entrando em guerras contra pequenos estados vizinhos. Em 1776, Prithwi Narayan Shah, então rei da cidade-estado de Gorkha (de onde vem o nome Gurkha), no noroeste do Nepal, investiu contra os nepaleses e — após dois anos de guerra — terminou por conquistá-los, iniciando-se aí uma paulatina expansão de domínios. Quando beiraram as fronteiras da índia, fatalmente defrontaram-se com a possessão britânica e, após diversas escaramuças, uma guerra oficial foi declarada em 1814. Após dois anos de brutais combates corpo a corpo, a bravura e a honra Gurkha terminaram por contagiar elementos da tropa inglesa. Finalmente, com a recuperação de parte do território conquistado, os ingleses sentiram-se à vontade para um acordo de paz com os Gurkhas, já notórios por terem lutado bravamente embora em inferioridade numérica e de armamento. Assim, o Nepal permaneceu como um reino independente e respeitado, o que culminou com o reconhecimento de sua condição de nação independente apenas em 1923. Do conflito surgiu um respeito mutuo entre os antigos inimigos. Os Gurkhas apaixonaram-se pêlos vistosos uniformes britânicos do período, pelas suas armas sofisticadas e pela organização em combate britânica; os ingleses tinham em alta conta a bravura e galanteria dos pequenos guerreiros do Nepal. Cessadas as hostilidades, os Gurkhas ofereceram apoio aos britânicos. A oferta demorou a ser aceita, mas depois os britânicos aceitaram a oferta. A política expansionista inglesa previa o uso de tropas nativas dos domínios britânicos como uma forma de integração militar e, assim foram formados quatro batalhões. Os Gurkhas selecionados passaram a atuar como mercenários junto as tropas do império britânico na índia. Particularmente, um soberano Gurkha, Bahadur Shah, como grande admirador dos britânicos, encorajou seus soldados a treinarem (e até atuarem) junto a tropas inglesas.
Gurkha a serviço do Batalhão Simoor (depois 2º Batalhão gurkha) do Exército Indiano britânico em 1857
O Batalhão Sirmoor foi a primeira força gurkha a lutar pela Grã-Bretanha — na guerra Mahratta em 1817. Durante o motim de Sepoy, em 1857, quando tropas rebeldes do exército da índia quase expulsaram os ingleses, o rei Bahadur Shah enviou 10.000 homens excepcionalmente treinados em auxílio dos soldados de sua majestade. E por todo o século XIX, os Gurkhas defenderam os interesses britânicos na Índia. No início do século XX os batalhões de Gurkhas já eram unidades respeitadas nas Forças Armadas britânicas. Em 1903, os regimentos Gurkhas foram chamados de "Rifles" e numerados de um a dez. Campanhas e Desenvolvimento Na Primeira Guerra Mundial todo o Exército do Nepal foi colocado a disposição da Coroa britânica. Muitas unidades foram para Índia para substituir tropas do Exército indiano que tinham ido lutar no estrangeiro. Cerca de 200.000 Gurkhas se alistaram nos Regimentos Gurkhas do Exército britânico. Eles lutaram e morreram em muitos campos de batalha na França, Mesopotâmia, Pérsia, Egito, Gallipoli (onde ganharam fama mortal), Palestina e Salonika. Eles ganharam duas Cruzes de Vitória (VC - Victoria Cross). Neste conflito eles sofreram 20.000 baixas.
O 6th Gurkha Rifles ataca uma posição turca em Gallipoli, em 9 de Agosto de 1916
Na Segunda Guerra Mundial, os Gurkhas formaram cerca de 40 batalhões com 250.280 homens. Depois da queda da França em 1940, a Grã-Bretanha ficou praticamente sozinha contra as forças do Eixo. O Nepal ofereceu seu apoio incondicional, não só em termos financeiros como mais uma vez colocou todo o seu exército a disposição da Cora britânica. Os Gurkhas lutaram lado-a-lado com tropas britânicas e da Comunidade na Síria, no Deserto Ocidental, Itália, Grécia, Norte da Malásia, Singapura e Birmânia (algumas unidades fizeram parte das brigadas Chindits) onde participaram da tomada de Imphal e Rangum. Em 1944, de entre as tropas gurkas que haviam servido nos Chindits, se recrutou voluntários para formar uma unidade de pára-quedistas. Na Índia, igual as demais tropas aerotransportadas britânicas se seguiu um rigoroso treinamento. Em fins de 1944, já se tinha um número de diplomados suficientes para formar uma unidade com a força de um batalhão, composto de três companhias. Este batalhão foi chamado de 152° batalhão Pára-quedistas. Sua primeira e única ação pára-quedistas em combate foi o lançamento de cerca de 800 homens na chamada Ponta Elefante em 1 de maio de 1945, na ocasião do ataque a Rangún na Birmânia. O batalhão combateu o resto da campanha no sudeste asiático até o final da guerra como força de choque terrestre.
Os Gurkhas participaram dos duros combates em MONTE CASSINO na Itália em 1944, onde lutaram também tropas indianas, neo-zelandesas, polonesas, britânicas, americanas entre outras. Eles receberam um total de dez VC.Apesar de todas as glórias conquistadas no conflito de 1939-45, o futuro dos Gurkhas parecia incerto quando eles retomaram dos campos de batalha. Na Segunda Guerra os Gurkhas sofreram 32.000 baixas. Ao todo eles ganharam 26 Victory Cross (13 para soldados Gurkhas e 13 para oficiais britânicos) por bravura excepcional "na presença do inimigo" ou sob "circunstâncias de perigo extremo", mais do que qualquer outra unidade do Exército britânico.
Soldados Gurkha na Birmânia em 1945
O relacionamento especial dos Gurkhas com a Inglaterra e com a Índia era único e parecia ameaçado ante a iminência da separação dos dois países, em 1947. Antes, porém, de dispensar suas unidades, preferiu-se enviar seis delas para a índia. As outras quatro — 2° Regimento de Fuzileiros Gurkhas do Rei Eduardo VII (Simoor Rifles, dois batalhões), 6º Regimento de Fuzileiros Gurkhas da Rainha Elizabeth, 7.° Regimento de Fuzileiros Gurkhas do Duque de Edimburgo e 10.° Regimento de Fuzileiros Gurkhas da Princesa Mary — permaneceram a serviço da Grã-Bretanha. Esses quatro regimentos da Brigada Gurkha foram enviados para a Malásia, onde, em 1948, estabeleceram seus quartéis-generais. Entre 1948 a 1960, os Gurkhas serviram a Coroa Britânica continuamente no conflito que ficou conhecido como a Emergência Malaia. Os Gurkhas lutaram contra terroristas comunistas. Ali como na Birmânia, durante a Segunda Guerra, os Gurkhas se mostraram excelentes guerreiros de selva. Muitas unidades britânicas lutaram na Emergência Malaia com distinção, mas nunca passaram mais de dois ou três anos no teatro de operações, pois neste período o Exército britânico esteve envolvido em muitos conflitos como os da Coréia, Chipre, Quênia e Aden, além de ter que manter um contingente considerável na Alemanha por causa da Guerra Fria. Os batalhões Gurkhas por outro lado serviram durante todo o conflito e conseguiram adicionar um ingrediente decisivo para vitória naquele difícil guerra contra os terroristas comunistas. Após o conflito um batalhão Gurkha foi estacionado no Reino Unido (em Tidworth) em 1962, mas logo depois, em dezembro, foi enviado para o Extremo Oriente por causa das agitações em Brunei. Em Brunei os Gurkhas (1ª e 2º Btls.) controlaram uma revolta e depois junto com outras unidades britânicas foram usados no conflito que ficou conhecido como a Confrontação Indonésia, em que lutaram contra forças regulares e irregulares da Indonésia de dezembro de 1963 a agosto de 1966. Os Gurkhas lutaram ao lados de forças especiais como o SPECIAL AIR SERVICE (SAS) e SPECIAL BOAT SERVICE (SBS) e pára-quedistas britânicos. Em Bornéu os Gurkhas mostraram toda a sua experiência em guerra de selva, superando os indonésios em seu próprio ambiente.
Entre 1967 e 1972, como resultado de mudanças na estrutura das forças militares britânicas, devido as mudanças dos compromissos de defesa da Grã-Bretanha, a Brigada Gurkha foi reduzida de 14.000 para 8.000 homens (o número de batalhões foi reduzido de 8 para 5, reduziu-se o contingente dos Corpos de Engenheiros, Sinaleiros e Transporte e foram desbaratadas a Companhia de Pára-quedistas e Polícia Militar). Em 1971 a base da Brigada Gurkha foi transferida da Malásia para Hong Kong com alguns batalhões também sendo estacionados no Reino Unido (em Church Crookham) e Brunei. Em 1974 os Gurkhas (10º Btl.) foram enviados para Chipre para reforça a presença britânica no local, quando a Turquia invadiu a ilha. Em 1982 um batalhão gurkha, o 7th Gurkha Rifles, tomou parte na campanha das Falklands. Em 1990/91 unidades de apoio dos Gurkhas são enviadas para apoiar na libertação do Kuwait que foi invadido pelo Iraque.
Gurkha do 1st Bn., 7th Duke of Edinburgh's Own Gurkha Rifles nas Falklands em 1982
Na década de 90 aconteceram várias reestruturações da unidades Gurkhas, juntamente com a retirada da guarnição de Hong Kong em 1997, e o número de soldados Gurkhas foi reduziu para 3.400 em 1998. O Quartel-General da Brigada Gurkha, a Seção de Treinamento de Recrutas e a Banda Marcial foram transferidos para o Reino Unido. Com as últimas reestruturações os quatro Regimentos de Fuzileiros Gurkhas foram reformulados para formar uma unidade maior, o Royal Gurkha Rifles, com três batalhões regimentais (1994) e finalmente dois (1996). Um batalhão está baseado no Reino Unido em Sir John Moore Barracks em Folkestone, Kent e o outro está baseado em Brunei. Os Gurkhas também tem três companhias reforçadas que servem no 1 Royal Scots, 1st Battalion the Princess of Wales Regiment e no 2nd Battalion the Parachute Regiment. Eles também possuem duas companhias de demonstração, uma na Royal Military Academy Sandhurst e outra no Infantry Training Centre Wales. Além disso a Brigada posse três Corpos reforçados (Engenheiros, Sinaleiros e Logístico) que estão baseados no Reino Unido. No passado os Gurkhas chegaram a possuir unidades da Polícia Militar, Pára-quedistas e de Artilharia, mas foram desativadas.
Soldado do 2º Batalhão do Royal Gurkha Rifles em Serra Leoa - 2003 Em 1999 o 1° Batalhão de Rifles Gurkhas foi enviado como parte da força de paz da OTAN para Kosovo e neste mesmo ano o 2° Batalhão foi enviado para Timor Leste como parte de uma Missão de Manutenção de Paz da ONU. Em 2000 os Gurkhas são enviados para operar em Serra Leoa para acabar com uma sangrenta guerra civil. Em 2001 são enviados ao Afeganistão para participar da guerra contra o terror ao lados de forças britânicas e americanas e também para a Bósnia. Em 2003 foram enviados para o Iraque para participar das operações contra Saddam Hussein e estabelecer a paz naquele país.
Soldado Gurkha do Regimento Pára-quedista no Afeganistão
Os batalhões de infantaria contam com pouquíssimos oficiais britânicos. Os oficiais na grande maioria são Gurkhas proveniente dos Gurkhas da Rainha, os quais passaram por todos os degraus ai o posto de subtenente, antes de serem comissionados como oficiais. O grau mais alto entre os Gurkhas é o de major, que atua como conselheiro do Oficial de comando em todas as questões referentes os Gurkhas. Apesar do fim do império e do fim da Guerra Fria, os Gurkhas continuam ligados ao cenário militar britânico, como combatentes e como soldados cerimoniais — eventualmente ocupam um lugar de honra junto à guarda do Palácio de Buckingham. No presente (jun/2003) existem cerca de 3.600 Gurkhas no Exército britânico, 527 no Nepal, 757 em Brunei e o restante (2.316) no Reino Unido, mas não na Irlanda do Norte.
O Príncipe Harry e os Gurkhas no Afeganistão
Em 2007-8 o Príncipe Harry, terceiro na linha de sucessão do trono britânico, serviu ao lado dos Gurkhas no Afeganistão. Harry serviu como controlar avançado, direcionado ataques aéreos contra forças talibãs. Em pelo menos uma ocasião ele esteve a menos de 500 metros do inimigo, tendo os Gurkhas a protegê-lo. Ele disse: " “Quando você sabe que está com os Gurkhas, eu penso não há nenhum lugar mais seguro para realmente estar."
Troca de guarda no Palácio de Buckingham
Como vimos desde o final do século XIX os batalhões Gurkhas tem lutado a serviço da Coroa britânica nos mais variados campos de batalha espalhados pelo mundo: Afeganistão, Mesopotâmia, Pérsia, Palestina, Tibet (Expedição Younghusband em 1903), China (Guerra dos Boxers em 1900), Egito, África do Norte, Europa, Malásia, Birmânia, Bornéu, Bangladeche, Paquistão, Falklands, Golfo, Afeganistão e Iraque. Seu papel como força de manutenção da paz dentro e fora das Nações Unidas levou-os ao Chipre, Vietnam, Congo, Ruanda, Líbano, Bósnia, Kosovo, Kargil, Timor Leste e Serra Leoa. Em Timor Leste além das patrulhas, os Gurkhas chegaram também a dar aulas de inglês e de karatê. Apesar da reputação de dureza, os soldados nepaleses tornaram-se os soldados mais populares entre os timorenses, especialmente as crianças.Os Gurkhas que servem no Exército indiano, são conhecidos como Gorkhas, e atualmente são cerca de 120.000 homens servindo em 42 batalhões. Eles também viram muita ação no século XX: Na Guerra Indo-chinesa de 1962 e nas guerras contra o Paquistão em 1965 e 1970.
Unidades Gurkhas do Exército britânico (Agosto/2001)
HQ The Brigade of Gurkhas Netheravon, UK Seleção e treinamento A seleção de um Gurkha é extremamente criteriosa e o seu treinamento é árduo, pois um recruta Gurkha tem que sofrer, para que no processo seja esculpido um dos mais destemido e corajoso soldado do mundo. Um vez por ano, no mês de setembro recrutadores locais Gurkhas vão as vilas das montanhas no Nepal para selecionarem os novos recrutas entre jovens de 17 a 22 anos. São cerca de 28.000. Os oficiais recrutadores ou “Galla Wallahs” (ex-Gurkhas que são recompensados por todas as indicações bem-sucedidas) irão preparar os seus potenciais Gurkhas para um cruento exercício de eliminação que ao afinal de 3 meses selecionará apenas 200 homens que poderão seguir adiante. A dura seleção física na colina. Os candidatos tem números pintados no peito para identificá-los e qualquer problema física ou mental os elimina. O processo de eliminação acontece basicamente em três fases. Na primeira fase os próprios “Galla Wallahs” selecionaram nas colinas aqueles jovens que eles acham capazes de tornarem futuros gurkhas. Aqui os recrutas devem estufam os seus peitos até alguns centímetros e também realizar outros exercícios físicos como saltos e flexões. Pelo fim desta etapa, quase metade dos candidatos são eliminados. Os “Galla Wallahs” então inspecionam nos homens restantes a sua respiração, seus dentes, orelhas, e olhos enquanto inspecionam os seus peitos e cutucam os seus músculos. Eles também verificam possíveis doenças, problemas nos pés e determinam sua capacidade de leitura e coordenação. Depois disto restam apenas uns 700 candidatos.
Pronto para o teste de compreensão de inglês
Os exigentes exames escritos, médicos e físicos em Pokhara. Só os melhores serão selecionados. De milhares somente cerca de 200 se tornarão soldados Gurkhas do Exército britânico. Numa segunda fase, oficiais Gurkhas reformados escolhem deste grupo aqueles que irão ser enviados para a última seleção que será realizada no acampamento britânico de recrutamento gurkha em Pokhara, no Oeste do Nepal. Lá os candidatos passam por uma rigorosa seleção que envolve exames médicos de verdade, incluindo radiografia e teste psicológicos. Nas provas físicas é esperado que o candidato complete uma corrida de 1.6 km em menos de 9 minutos, faça uma corrida pelas montanhas carregando 35 kg de pedras em uma "doko", uma espécie de sacola de palha colocada nas costas com as alças apoiadas na cabeça, e suba em 35 minutos um lance de 400 metros de colina. Depois vem mais teste psicológicos e de inteligência, provas de matemática e de redação.
Um Gurkha abre um grande sorriso quando é notificado que foi aprovado na seleção em Pokhara para servir no Exército britânico
Jovens selecionados em Pokhara chegam ao aeroporto de Manchester
Um momento muito esperado: Soldados Gurkhas juram lealdade a Coroa britânica diante da foto da rainha. Uma vez selecionado, o afortunado recruta é levado para o REINO UNIDO para dar início ao seu duro treinamento de infantaria que começa em janeiro e para uma carreira na Brigada Gurkha de no mínimo 15 anos. Seus nomes tribais são abandonados ao entrarem para a nova vida, passando a ser chamados por seus números de série — os dois últimos dígitos tornam-se seus "apelidos". O segredo de seu treinamento e força está no conceito "kaida", cujo significado refere-se a uma concepção de ordem, ritual e lealdade para com os oficiais e entre si, a qual é inquestionável. O adestramento rigoroso transforma em nove meses o recruta, freqüentemente um montanhês tribal, em um sólido membro de uma das mais estranhas — e ferozes — forças de combate do mundo. Segundo o Tratado Tripartite assinado pelo Nepal, Grã-Bretanha e Índia, que permite que os Gurkhas, cidadãos nepaleses, sirvam nos exércitos britânico e indiano, os Gurkhas devem ser integrados completamente ao exército recrutador, sendo sujeitos as suas leis, usando uniformes padronizados e pertencendo a unidades próprias e dessa forma não podem ser considerados mercenários. O número de Gurkhas recrutados a cada ano depende das necessidades anuais da Brigada, que no momento está por volta de 230 recrutas. Os Gurkhas voltam ao Nepal uma vez a cada três anos para uma licença de cinco meses. Na formação de um combatente Gurkha, o primeiro princípio a ser incutido em sua mente é a total e irrestrita fidelidade a seu chefe militar: como no Bushido (o código de honra dos samurais), sem um comandante não podem existir os soldados! Atualmente 230 homens por ano são recrutados para o Exército Britânico e o centro britânico de recrutamento Gurkha (British Gurkha Nepal - BGN) também tem um acordo para recrutar cerca de 100 Gurkhas para a Força Policial de Singapura. Em Brunei o batalhão Gurkha do Exército britânico está a soldo do Sultão. É estranho, mas cada novo soldado Gurkha quando sai das montanhas do Nepal jura sujeição a uma bandeira estrangeira, promete obedecer a seus oficiais estrangeiros e lutar contra inimigos de terceiros. Entretanto, há uma exceção. Um Gurkha não pode lutar contra um inimigo Hindu. Esta exceção foi imposta pelo Nepal em 1947, quando a Índia se tornou independente da Inglaterra e um contingente Gurkha ficou servindo no Exército indiano. Os Gurkhas britânicos estão aptos a usarem os mais variados e modernos equipamentos militares adotados pelas tropas de infantaria do Exército britânico (ver quadro abaixo), além de estarem em condições de operarem nos mais diversos climas desde as selvas de Bornéu aos desertos do Iraque ou Afeganistão. A maioria dos Gurkhas servem por no mínimo 15 anos no Exército britânico. Dependendo da graduação podem chegar até 22 anos e sendo oficiais podem chegar até no máximo 30 anos. Os Gurkhas não são obrigados a servir 15 anos, eles inicialmente são engajados por 4 anos, que depois podem ser estendidos por mais 4 anos e assim sucessivamente até chegar aos 15 anos ou mais dependendo do posto, desempenho e conduta. Ao termino do seu serviço os Gurkhas voltam para o Nepal, pois apesar do longo tempo de serviço no Exército britânico eles ainda continuam cidadãos nepaleses. Muitos porém não permanece, muito tempo em seu país pois devido a sua experiência militar são contratados para trabalharem em empresas internacionais de segurança em vários locais do mundo. Aqueles que te tiveram um relacionamento próximo com os Gurkhas perceberam que eles não se envolvem com questões políticas ou religiosas (a sua própria religião é uma mescla de hinduísmo e budismo), são sociáveis, tem um grande senso de humor e cativam os seus novos amigos por seu senso profissional, dedicação, respeito e coragem. No momento (em 2015) há 3.500 Gurkhas que servem no Exército britânico, e recrutamento não é um problema. Por causa da elevada taxa de desemprego no Nepal, um emprego no Exército britânico é como ganhar na loteria. O saldo militar britânico é mais de 30 vezes o que um bom trabalho no Nepal pode pegar. Existem mais de sessenta candidatos para cada uma das poucas centenas de vagas abertas a cada ano. Os homens que não conseguem entrar no Exército britânico, podem tentar entrar nas unidades Gurkha do Exército indiano. Há cerca de dez vezes o número de Gurkhas no Exército indiano, mas o salário é de apenas algumas vezes o que se poderia ganhar no Nepal, e os benefícios não são tão bons. Uniformes Os Gurkhas usam suas próprias variações do uniforme do Exército britânico. O conjunto de combate compõe-se do usual camuflado no padrão britânico, com cinturões verdes de lona, com a diferença do acréscimo da famosa arma kukri. Os uniformes de desfile são o verde-oliva, em climas temperados, e o branco, nos trópicos, com cinturões de couro preto envernizados para os soldados e cintas cruzadas no peito para os oficiais. Os botões e distintivos são pretos. Também nas paradas os soldados usam uma cobertura cilíndrica preta ou uma de abas largas abaixadas, típica dos Gurkhas. Em outras ocasiões, podem levar uma boina verde.
A rainha Elisabeth passa em revista tropas Gurkhas
Dentro do SAS Em 2015 foi noticiado que 12 Gurkhas foram aceitos nas fileiras de elite do SAS. Esses temidos guerreiros nepaleses que servem ao Exército britânico por mais de 200 anos fazem parte hoje de uma das mais secretas e eficiente unidade das forças especiais do mundo. Cerca de 50 Gurkhas tentaram obter essa aprovação entre 2010 e 2015, e uma dúzia conseguiu. Isso é uma taxa de aprovação ligeiramente maior do que a dos voluntários habituais do SAS (cidadãos britânicos que servem no Exército ou nos Royal Marines). Até recentemente, os voluntários Gurkhas para servirem nas forças especiais só eram selecionados para serem utilizados como intérpretes. Hoje em dia os Gurkhas são muito úteis para as operações especiais, principalmente no Oriente Médio. Além de sua coragem e determinação de renome mundial, os Gurkhas falam urdu (a língua mais comum no Paquistão e amplamente utilizada no Afeganistão), e os Gurkhas, sendo do sul da Ásia, podem mais facilmente se passar por moradores locais, o que lhe dá uma grande vantagem para operar em zonas de guerra e pontos quentes como o Afeganistão e outros países da região. De acordo com fontes, os Gurkhas já trabalhara com as forças pró-democracia locais no Iraque de forma tão eficaz e com baixo perfil que as forças especiais dos EUA não perceberam que eles eram soldados britânicos. Segundo especialistas a herança cultural é crucial em missões encobertas nos países islâmicos. Eles também têm uma maneira astuta de operar que os torna perfeitos para operações especiais, afirmam outras fontes militares.
Porém o primeiro Gurkha a entra no SAS foi Johnny Gurkha (nome
fictício). A sua entrada no SAS não foi direta. Havia um monte de
restrições. E a principio o 22 SAS não queria Gurkhas. Então após
servir nas unidades Gurkha ele se juntou aos
Pathfinders (do Regimento de pára-quedistas britânicos)
enquanto um dos seus amigos se tornou um piloto de helicóptero. Ele
aprendeu bastante com os
Pathfinders e aumentou bastante o seu conhecimento militar e da língua
inglesa. Sua aceitação no SAS só aconteceu 1995 e foi um momento
marcante para os militares como ele, pois foi o primeiro Gurkha em quase
200 anos de aliança com os britânicos a se juntar a esse seleto grupo de
elite. Os jornais nacionais escreveram sobre isso, e a brigada
Gurkha
estava ansiosa sobre o que ia acontecer. Foi uma grande conquista e uma
mudança enorme para a a cultura
Gurkha. Depois da seleção ele foi designado para missões Kosovo e na
Bósnia em 1999. Na sua última turnê da Bósnia euele estava fazendo
trabalho de reconhecimento disfarçado de civil, observando bandidos e
tentando capturar criminosos de guerra. Quando serviu no Afeganistão
serviu ao lado do príncipe Harry. Em 2007 o príncipe Harry era
controlador aéreo e ele era oficial operação em uma base no Afeganistão. Um oficial sênior britânico dos Gurkhas disse: "unidades especializadas, como o 22 SAS estão crescendo e os nossos soldados estão se tornando uma fonte válida e altamente valorizada da mão de obra, que está ajudando a garantir o nosso futuro." Em 2014, altas patentes temiam que os Gurkhas, que têm servido em cada grande conflito britânico para além da Irlanda do Norte, estavam enfrentando o machado de cortes na defesa futuras. Mas esse perigo tem sido afastado. Hoje um batalhão permanece baseada no Reino Unido e um segundo está estacionado em Brunei. Fonte:http://www.mirror.co.uk/news/uk-news/gurkhas-join-sas-nepalese-fighters-5919443; https://www.strategypage.com/htmw/htsf/20150717.aspx Heróis Gurkhas Em 200 anos de aliança com o Reino Unido cerca de 200.000 soldados Gurkhas lutaram pelo Império britânico em vários conflitos como Afeganistão e Iraque, e inclusive nas duas guerras mundiais. Embora existam milhares de histórias de bravura vamos citar, mas vamos citar aqui apenas algumas delas. Esses homens viveram e lutaram da melhor a divisa dos Gurkhas: "Melhor morrer antes de ser um covarde".
A Victoria Cross é a mais alta condecoração militar britânica. Os Gurkhas ganharam até 2008 não menos que 26 Victoria Crosses
Ganju Lama era filho de pai tibetano e mãe nepalesa e nasceu em Sangmo, Southern Sikkim. Ele recebeu a Victoria Cross é a mais alta condecoração militar concedida por bravura "na presença do inimigo" para os membros das forças armadas do Reino Unido e do Commonwealth. Ele se alistou em 1942 durante a Segunda Guerra Mundial com 17 anos e seu verdadeiro nome era Gyamtso Shangderpa, mas um funcionário do escritório de recrutamento escreveu seu nome como Ganju, e o nome pegou. Na idade de 19 anos era fuzileiro no 1º Batalhão, 7º Gurkha Rifles, no Exército indiano e lutava na Birmânia. Na manhã de 12 de junho de 1944, tropas japonesas executaram uma intensa barragem de artilharia com duração de uma hora; no norte da aldeia de ningthoukhong. O pesado fogo de artilharia atingiu vários bunkers e causou pesadas baixas, e foi imediatamente seguido por um forte ataque de infantaria apoiada por cinco tanques médios Tipo 97. A Companhia "B", do 7º Gurkha Rifles, foi enviada para um contra-ataque para restabelecer a situação. Os Gurkhas da Companhia "B" logo ficaram sob pesado fogo de metralhadoras de médio porte e dos tanques, disparados quase a queima-roupa. Ganju Lama, com total desrespeito pela sua própria segurança, rastejou para a linha de frente levando a sua arma antitanque Projector Infantry Anti-Tank (PIAT), e quando estava a uns 25 metros dos tanques inimigos, disparou contra eles, colando dois deles fora de ação. Apesar do pulso esquerdo quebrado, um ferimento a bala na mão direita e outro em uma perna ele atacou as tripulações dos tanques quando essas tentaram fugir matando-as. Com uma granada de mão ele avançou contra o inimigo e matou vários outros. Mesmo sem dois tanques os japoneses continuaram lutando, e o combate durou cerca de 13-14 horas, porém os Gurkhas não permitiram que o inimigo entrasse em seu território. Durante esta batalha o 67º Regimento japonês perdeu cerca de 330 homens ou mais e o Regimento Gurkha perdeu apenas 30 soldados.
Ele recebeu a sua
Victoria Cross em Nova
Delhi das mãos do
Vice-Rei
da Índia,
o Marachal de Campo Lord Wavell, com a
presença do Almirante Lord Louis Mountbatten, o General Slim, e
membros de sua própria família.
Depois da Segunda Guerra quando a Índia ganhou sua independência em
1947, ele se juntou 11th Rifles Gorkha. Ele foi promovido a major
Subedar (Oficial Chefe indiano em uma Companhia de Cipaios) e em
1965 foi nomeado ADC pelo Presidente da Índia. Ganju Lama foi
promovido a capitão honorário em 1968. Aposentando-se em 1968,
quando ele se tornou um prospero fazendeiro em Sikkim. Um homem de
aparência distinta, altamente inteligente e muito carinhoso, o
Capitão Ganju Lama era um visitante regular da Grã-Bretanha. Nos
últimos nove anos de vida, ele foi o Vice-Presidente (Overseas) da
Victoria Cross and George Cross Association. Sua
Victoria Cross
está exibida no Museu Gurkha em
Winchester, Inglaterra, juntamente com as de outros Gurkhas.
Tul Bahadur Pun (23
Março 1923 (ou 1919) - 20 de abril de 2011)
Ele foi mais um bravo soldado que recebeu a
Victoria Cross. Além da Victoria Cross, Pun
ele foi condecorado com 10 medalhas,
incluindo a Estrela da Birmânia.
Tul Bahadur Pun nasceu na vila
de Banduk, no Nepal, provavelmente em 23 de março de 1923. Já jovem,
tentou entrar no exército por diversas vezes, mas era recusado por
causa da idade. Quando a Segunda Guerra estourou na Europa, a
situação mudou, e recrutadores foram enviados às zonas remotas do
Nepal para trazer novos soldados. Assim, em 18 de abril de 1940, Pun
foi recrutado sem muita demora. Seu treinamento, junto ao 3º
Batalhão, 6º Gurkha Rifles, foi realizado em Abottabad, no atual
Paquistão, e após apenas seis meses de treinamento, a unidade de Pun
foi posta em combate contra rebeldes Pathan perto da cidade de
Kargil. Após a conclusão dos combates, o oficial britânico
responsável designou o 3º Batalhão para “treinamento especial”, pois
se destacaram dos demais. O treinamento consistia em sobrevivência
na selva, cruzamento de rios e escalada de montanhas, além de
receberem instruções para operações com planadores. A unidade foi
anexada aos lendários
Chindits comandados pelo extraordinário e
carismático
Brigadeiro
Charles Orde WINGATE.
Em maio de 1944, o 3º Batalhão
foi escolhido para realizar um assalto com planadores à importante
cidade de Mogaung, em Burma, que estava nas mãos dos japoneses. Os
planadores usariam uma clareira aberta pelos ingleses durante a
Primeira Guerra Mundial, mas os japoneses haviam usado elefantes
para enchê-la com toras de madeira, que constituíam obstáculos
mortais durante os pousos. Dos 1.800 soldados que pousaram nos
planadores, 500 sofreram ferimentos por causa desses obstáculos.
Algumas mulas haviam sido embarcadas e foram utilizadas para
transportar as pesadas metralhadoras.
O Batalhão de Pun assumiu posição na floresta e planejou o ataque à
ponte ferroviária de Mogaung. Às 2h da manhã de 21 de junho, Pun e
seus colegas atacaram as casamatas japonesas com granadas de mão e
iniciaram o avanço. Houve então combate corporal entre os japoneses
e os Gurkhas, que terminou com a completa eliminação nipônica. A
porta para a cidade estava aberta.
Contudo, o terreno não oferecia muitos esconderijos para os
atacantes, e Pun teve que se esconder atrás de árvores. Após duas
noites lançando ataques falsos para confundir os japoneses, na
madrugada de 23 de junho os Gurkhas lançaram o ataque às últimas
defesas do inimigo. No entanto, um erro foi cometido e o avanço
aconteceu diretamente à frente do fogo de metralhadoras japonesas.
Quase todos os companheiros do pelotão de Pun foram mortos, restando
somente ele e mais dois feridos, um deles o comandante inglês.
Contra o cerrado fogo inimigo, Pun se levantou e pegou uma
metralhadora Bren, disparando com
ela da altura da cintura. Com a aurora atrás de si, e com lama até
os joelhos, Pun era um alvo fácil para os japoneses, mas contra
todas as chances, ele seguiu em frente até a casamata, matando três
inimigos. Ao chegar ao topo, e viu que mais quatro japoneses estavam
recarregando suas armas. Tentou disparar com a metralhadora, mas a
arma travou. No desespero, jogou uma granada de mão na trincheira,
matando todos os inimigos.
Uma segunda casamata então abriu fogo contra ele. Pun jogou-se ao
chão, escapando por pouco aos tiros. Começou a jogar granadas contra
a casamata, e na sexta tentativa acertou, fazendo a arma calar-se.
Pun então levantou-se e foi procurar uma arma na casamata, mas dois
soldados japoneses o encontraram. Pun então sacou a única arma de
que dispunha, sua faca khukuri, e decepou a cabeça de um dos
japoneses. Em seguida atingiu o ombro do outro inimigo, matando-o
com golpes de faca. Um terceiro soldado apareceu, sendo morto da
mesma forma. Outros japoneses na trincheira também atacaram Pun, que
continuou cortando-os com a khukuri e atirando-lhes granadas. Após
essa violenta ação, somente silêncio pôde ser ouvido. Pun acabara
com toda a resistência japonesa.
O comandante inglês que havia sido ferido na batalha testemunhou a
ação de Pun e enviou um memorando ao Alto Comando indicando-o para
uma comenda honrosa. Quando a resposta chegou, o comandante chamou-o
e disse: “Muito bem! Você receberá uma condecoração, mas ainda não
sei qual, nem de que classe. Provavelmente você receberá uma medalha
de primeira classe!” O Soldado Tul Bahadur Pun foi condecorado com a
mais alta ordem britânica por bravura em combate, a Victoria Cross,
sendo também promovido a Sargento.
Seu ato de bravura salvou um
grande número de soldados britânicos incluindo a do Major James
Lumley, cuja filha, a atriz Joanna, se tornou uma das mais ferrenhas
defensoras da causa Gurkha.
Alguns meses depois, Pun foi convocado a Delhi para receber a
condecoração das mãos de Lord Louis Mountbatten, Vice-Rei da Índia e
Comandante Supremo das Forças Aliadas no Sudeste Asiático. Em
seguida Pun foi agraciado com uma licença paga de dois meses.
Após a guerra, Pun foi convidado para a coroação de Elizabeth II em
2 de junho de 1953, participando da cerimônia na Abadia de
Westminster e da comemoração no Palácio de Buckingham. Alguns anos
depois, foi convidado para tomar chá com a Rainha-Mãe, e teve seu
nome inscrito no Memorial Gates, em Londres. Quando, Pun tinha 84 anos sofre de problemas cardíacos,
diabetes e pressão alta, tentou conseguir um visto para tratamento
médico na Grã-Bretanha, mas surpreendentemente teve seu pedido
negado. As autoridades alegaram que ele não tinha “laços fortes com
o Reino Unido”. Esse ato provocou imediato ultraje público, e 12.000
pessoas assinaram uma petição em seu favor, enviando-a ao
Primeiro-Ministro Tony Blair. Uma semana depois, no dia 1 de junho
de 2007, o Ministério de Imigração da Inglaterra concedeu o visto ao
velho guerreiro Gurkha, que pode tratar de sua saúde no país que
defendeu tão tenazmente no passado.
Tul Bahadur Pun e Lachhiman Gurung com a atriz Joana Lumley durante a campanha pela permanência dos Gurkhas na Inglaterra. Lachhiman Gurung (30 Dezembro 1917-12 Dezembro de 2010)
Lachhiman Gurung nasceu em Dakhani em uma vila esquecida nos confins do Nepal, era um homem de baixa estatura, com pouco mais de um metro e meio de altura. Com 27 anos, ele servia como um fuzileiro no 4º Batalhão, do 8º Regimento Gurkha, da 89ª Brigada da 7ª Divisão de Infantaria do Exército indiano durante a Segunda Guerra Mundial. Sua unidade recebeu ordens de cruzar o rio Irrawaddy e atacar os japoneses ao norte da rodovia que ia de Prome a Taungup. Os japoneses se retiraram para Taungdaw, porém contra-atacaram na manhã do dia 13 de Maio de 1945. Gurung estava em um posto avançado do 4º Batalhão e o seu pelotão suportou um duro ataque realizado por cerca de 200 japoneses. Os inimigo atacou com rifles, metralhadoras e tanques. Duas granadas foram lançadas contra a trincheira de Gurung e ele as lançou de volta contra o inimigo. Uma terceira granada foi lançada, mas quando mas quando ele tentou lançá-la de volta a granada explodiu em sua mão direita, arancando os dedos, quebrando seu braço e ferindo-o gravemente no rosto, parte do corpo e perna direita. Seus dois companheiros também foram gravemente feridos, mas Gurung, agora sozinho e desconsiderando suas feridas, carregou e disparou seu rifle com a mão esquerda durante quatro horas, calmamente esperando por cada ataque e disparando à queima-roupa. Depois, quando as vítimas foram contadas, foi relatado que havia 31 mortos japoneses em torno de sua posição, inimigos que ele tinha matado, com apenas um braço. Ele foi condecorado Vice-Rei da Índia Lord Wavell com a Victoria Cross no Forte Vermelho e Nova Delhi em 19 de dezembro de 1945. Gurung foi hospitalizado, perdeu seu olho direito e o uso de sua mão direita, mas continuo servindo no 8º Regimento Gurkha. Ele passou para o Exército indiano em 1947 com a independência deste país e alcançou a graduação de Havildar (un comandante). Já na reserva ele virou criador de gado e viveu tranquilamente. Em 2008 ele recebeu permissão para morar Hounslow, Inglaterra, onde recebeu cuidados de sua neta. sua saúde piorou em novembro de 2010 e ele morre no Charing Cross Hospital de pneumonia em 12 de dezembro de 2010.
Lachhiman Gurung foi recebido na Basílica de Westminster, Londres, para uma cerimônia dedicada a todos os soldados que receberam a Victoria Cross na Segunda Guerra Mundial, durante os festejos de 50 anos do fim deste conflito em 1995. Bhanbhagta Gurung (setembro de 1921-1 Março de 2008)
Também conhecido como Bhanbhakta Gurung.
Ele nasceu em Phalpu, uma pequena aldeia nas colinas do oeste do
Nepal, no distrito de Gorkha, em setembro de 1921. Ele se alistou no
Exército indiano britânico em 1940 durante a Segunda Guerra Mundial,
juntando-se 3º Batalhão, do 2nd King Edward VII's Own Gurkha Rifles
(The Sirmoor Rifles) com a idade de dezoito anos. Em fevereiro de 1945, a 25ª Divisão indiana desembarcou em Ru-Ywa, em apoio a ofensiva pelo General Sir William Slim, comandante do 14º Exército, no sentido de Mandalay, passando por Irrawaddy. A missão dos Gurkhas era realizar ações diversionistas desviando assim a atenção dos japoneses e mantê-los longe do principal avanço do 14º Exército. Os Gurkhas tiveram que a veterana 54ª Divisão japonesa e um batalhão de metralhadoras. Em seu avanço os Gurkhas tomaram duas colinas, "Snowdon" e "Snowdon-East", mas foram atacados pelos japoneses e foram forçados a recuar. Eles foram obrigados a retomar as colinas. Com cerca de 24 anos de idade Bhanbhakta Gurung e sua unidade receberam ordens em 5 de Março de 1945, de atacar e retomar a colina "Snowdon-East", perto Tamandu, Birmânia (atual Mianmar). A colina era uma posição estratégica que havia sido invadida pelos japoneses que, no processo, mataram cerca de metade de uma Companhia Gurkha após os Gurkhas terem ficado sem munição e terem que forçar a sua retirada através das linhas inimigas com nada além de facas debaixo de fogo pesado. O pelotão de Bhanbhagta recebeu a ordem de tomar o morro de volta "independentemente do custo". Bhanbhagta aparentemente tomou este comando literalmente. Gurung e sua unidade, a Companhia B, estavam se aproximando de "Snowdon-East" quando sua Companhia ficou retida por um atirador inimigo e estava sofrendo muitas baixas. Devido a proximidade com o inimigo os Gurkhas não podiam solicitar fogo de artilharia. O sniper japonês estava em um arvore a uns 75 metros e tinha uma boa posição para escolher seus alvos e foi abatendo os seus alvos um a um. Como este atirador estava infligindo baixas em seu pelotão, o fuzileiro Bhanbhagta Gurung, se viu incapaz de disparar a partir de uma posição deitada, então ele levantou-se totalmente se expondo ao fogo pesado inimigo e calmamente matou o atirador inimigo com seu rifle, salvando assim o seu pelotão de sofrer mais baixas.O pelotão avançou novamente, mas ficou sob fogo pesado, mais uma vez.Sem esperar por ordens, Gurung saiu para atacar o inimigo na trincheira mais próxima, jogando duas granadas, ele matou os dois ocupantes e sem qualquer hesitação correram para a próxima trincheira inimiga e matou os japoneses que estavam nela com sua baioneta. Ele limpou mais duas trincheiras com baioneta e granada. Durante seus ataques com uma única mão sobre estas quatro trincheira, Bhanbhagta Gurung foi submetido a quase contínuo fogo à queima-roupa de uma metralhadora leve instalada em um bunker na ponta norte do objetivo. Pela quinta vez, Gurung avançou sozinho diante do fogo inimigo para destruir essa posição. Ele avançou para a frente e pulou para o telhado do bunker de onde ele atirou duas granadas de fumaça (suas granadas de fragmentação acabaram) na fenda do bunker. Gurung matou dois soldados japoneses que correram para fora do bunker com sua Kukri, e depois avançou para dentro do bunker apertado e matou o soldado japonês com uma pedra. Com a maioria dos objetivos inimigos agora tomados e o inimigo expulso, Bhanbhagta ordenou a um artilheiro de Bren e dois fuzileiros que segurassem com ele o bunker capturado. Sob o comando de Bhanbhagta, o pequeno destacamento manteve o bunker e repeliu pesados contra-ataque. A coragem extraordinária do Bhanbhagta foi contagiante e inspirou seus companheiros Gurkhas a lutarem como tigres. E "Snowdon-East" foi tomada. Por sua bravura ele recebeu a Victoria Cross. Bhanbhagta Gurung recebeu a sua Victoria Cross do próprio rei George VI no Palácio de Buckingham em 16 de outubro de 1945. Além da ele também foi condecorado com a Estrela do Nepal, terceira classe. Após a Segunda Guerra Mundial, os superiores de Bhanbhagta tentaram e não conseguiram convencê-lo a continuar a servir. Como se constatou, Bhanbhagta tinha uma mãe idosa e uma jovem esposa para sustentar e ele queria ir para casa para estar com eles e cuidar de suas ovelhas. Antes dele deixar o Exército, Bhanbhagta foi re-promovido à sua posição anterior de Naik quando se descobriu que sua falha anterior não era realmente culpa dele. Ele também recebeu o título honorário de havildar (sargento) por razões óbvias. Seus três filhos seguiram o pai servindo no 2nd Gurkha Rifles. Nos anos após a guerra, ele visitou seu regimento na Malásia, Hong Kong e na Grã-Bretanha, e foi sempre recebido como hóspede de honra. Em 2000, a Companhia de Treinamento Gurkha em Catterick recebeu o seu nome. Bhanubhakta sofria de asma há muitos anos e nos últimos quatro anos de sua vida ficou na casa de seu filho mais novo em Dharapani, Gorkha, Nepal, onde morreu em 1º de março de 2008, com a idade de 86 anos. Rambahadur Limbu
Rambahadur Limbu pertence ao clã Begha de Limbu, do Nepal. Limbu nasceu na aldeia Chyangthapu, Yangrop Thum, Limbuwan , no leste do Nepal , e agora vive em Damak, no Nepal. Limbu tinha aproximadamente 26 anos, e era um Lance Corporal no 2º Batalhão, do 10th Princess Mary's Own Gurkha Rifles do Exército britânico durante a confrontação indonésia quando, em 21 de Novembro de 1965, em Sarawak , Borneo, o Lance Corporal Rambahadur Limbu estava com um destacamento de 16 Gurkhas quando encontraram cerca de 30 indonésios que detinham uma posição no topo de uma colina coberta de selva. Limbu foi para a frente com dois homens, mas quando eles estavam a apenas 10 jardas da posição da metralhadora inimigo, o sentinela abriu fogo contra eles, após o que Limbu correu para a frente e o matou com uma granada. O restante dos combatentes inimigos, em seguida, abriram fogo contra o pequeno destacamento, ferindo os dois homens que estavam com Limbu que, mesmo sob fogo pesado, o bravo Gurkha fez três viagens, duas para arrastar seus camaradas feridos para a segurança e uma para recuperar uma arma Bren abandonada por um dos feridos, ele usou a arma para matar mais do inimigo. O Lance Corporal Rambahadur Limbu recebeu sua VC da própria Rainha no Palácio de Buckingham em 12 de julho de 1966, uma ocasião ensombrada pela morte de sua esposa alguns meses antes. Ele estava acompanhado de seu filho de 5 anos de idade. Infelizmente a sua Victoria Cross foi roubada, junto com todos os seus outros bens, enquanto ele dormia durante uma viagem de trem da Índia para Nepal em 1967. Ela nunca foi encontrada, e ele recebeu uma outra VC substituta. Aposentou-se com o título honorário de Capitão em 1985. Dipprasad Pun
Um
soldado que, sozinho, derrotou mais de 30 combatentes do Talibã, foi
premiado com o Conspicuous Galantry Cross, uma espécie de medalha de
honra extremamente importante, pela própria rainha da Inglaterra. O
sargento Dipprasad Pun, de 31 anos, descreveu como ele agiu achando que
iria morrer e por isso não tinha nada a perder, ao matar todos os
terroristas que invadiram seu posto de controle no Afeganistão. Seu
prêmio é quase tão importante quanto a Victoria Cross – a mais alta
honraria por bravura em face do inimigo. *
Os Gurkhas como uma unidade de infantaria de elite, usam o mesmo equipamento moderno das outras unidades do Exército britânico, com uma exceção notável: o kukri, arma nacional nepalesa. Os Gurkhas não dispensam essa arma por nada e se aplicam no treinamento do seu manuseio, o qual lhes é ministrado por instrutores habitualmente de idade avançada, cuja técnica foi obtida de ancestrais. Embora essa faca seja produzida em vários tamanhos (cerca de 25 a 40 cm de lâmina), todas elas têm em comum a lâmina curva.
Uma sólida empunhadura de madeira nativa da índia e mais o fato de que o fio é também curvo, são os principais fatores que intensificam a energia aplicada a golpes com essas facas. A partir de uma espiga redonda, a lâmina se achata e se alarga, tomando a forma de uma folha, com a ponta aguçada. A parte externa da lâmina é rombuda e grossa, mas o lado interno é como um fio de navalha. Feito de aço de primeira qualidade, o kukri é muito eficiente quando usado como cutelo. Projetado com vistas à versatilidade, pode ser utilizado para abrir caminho na mata fechada, construir abrigos, rachar lenha ou como uma perigosa arma de combate. Os simétricos dentes constantes ao início do fio de uma kukri não servem - como se propaga - para arrebentar, logo ao início, a jugular do inimigo, mas sim para evitar que o sangue penetre na empunhadura, aumentando a possibilidade de comprometer o espigão da faca. A kukri não se trata, de modo algum, de uma faca para ser lançada; ela é reservada para combate corpo a corpo. A curta distância, o kukri pode ser manejado com mais facilidade que a baioneta dos fuzis, além de provocar ferimentos mais graves. Desde que foram incorporados ao Exército britânico, os Gurkhas levam o kukri numa bainha presa ao cinto, junto aos outros itens do equipamento comum. Nessa posição, a faca pode ser puxada com rapidez. Os Gurkhas em muitas guerras passadas as utilizavam para, aproximando-se silenciosamente de seus inimigos, deceparem-lhe a veia jugular, causando morte quase imediata; em combate aproximado, a kukri normalmente era empunhada com a ponta para cima, possibilitando, assim, assestar terríveis (e na maioria das vezes, mortais) golpes na fronte dos inimigos.Hoje na guerra moderna mais que tudo, a arma provoca um efeito psicológico devastador, e muitos soldados inimigos preferem fugir a ter de enfrentar os assustadores kukris dos combatentes Gurkhas. Segundo uma lenda, quando desembainham a kukri (inclusive só para limpá-la) sempre têm que haver derramamento de sangue, pois isso quando não está em combate um Gurkha deve ter um corte em um dedo ou em uma das mãos antes de guardá-lo, mas isso é apenas uma lenda.
Vida pós-baixa
Como são cidadãos nepaleses após darem baixa do Exército britânico os Gurkhas normalmente voltam para seu país. Porém nos últimos anos muitos veteranos Gurkhas tem reclamado do valor de suas pensões pois as consideram menores do que as de outros soldados reformados do Reino Unido. Quando se aposentam os Gurkhas ganham por mês um média entre £60 a £70 libras esterlinas (cerca de US$ 88 a US$ 104). Os soldados britânicos ganham entre £400 a £500 (US$ 550 a US$ 750) por mês. Entretanto o governo britânico argumenta que o valor do pagamento está ditado pelo acordo tripartite, que foi assinado pela Inglaterra, Índia e Nepal, quando os britânicos deixaram o subcontinente indiano. Segundo o acordo os Gurkhas que servissem o Exército inglês seriam pagos de acordo com a escala de valores do Exército indiano. O porta-voz do Ministério da Defesa disse que as pensões são pagas tento em vista o custo de vida do Nepal, que é mais baixo do que o da Grã- Bretanha. Certamente os veteranos Gurkhas vivem melhor do que seus compatriotas, mas os advogados dos Gurkhas argumentam que nem sempre os custo de vida é mais barato no Nepal, pois aqui o sistema de saúde é precário e gastasse mais com saúde por isso. Ironicamente, apesar de ser o menos procurado por voluntários Gurkhas, o Exército indiano trata bem os Gurkhas reformados, pois eles podem viver com suas famílias na Índia e começar um novo trabalho sem problemas. Visando corrigir injustiças em Julho de 2006, autoridades britânicas concederam o direito à plena cidadania britânica de todos os nepaleses que serviram no Exército britânico e seus dependentes durante a sua estada na Grã-Bretanha do ex-territórios coloniais, entre elas a Malásia, Singapura e Hong Kong, o que lhes dá direito de permanecer e trabalhar na Reino Unido. Em 30 de Setembro de 2008, o Alto Tribunal de Londres decidiu que os Gurkhas que deixaram o Exército antes de 1997 tem o direito automático de residência no Reino Unido. Antes desta decisão só os Gurkhas que tinham dado baixa no Exército Britânico após 1997 é que tinham concedida automática a residência e benefícios. O Reino Unido agora paga aos soldados Gurkhas aposentados a mesma taxa que outros soldados britânicos recebem. Isso significa uma pensão anual paga aos Gurkhas de cerca de US $ 12.000. A renda média no Nepal é de cerca de US $ 200 por ano. A pensão britânica (por 15 anos de serviço) faz com que os veteranos que vivem no Nepal sejam bastante ricos, diante da realidade do Nepal. No entanto, um número crescente de Gurkhas aposentados foram morar na Grã-Bretanha, em vez de voltar para o Nepal. A Grã-Bretanha é na verdade um excelente lugar para que os soldados Gurkhas aposentados possam encontrar um emprego. A profissão de guarda-costas é uma das segundas carreiras mais atraentes para os Gurkhas aposentados na Grã-Bretanha. Existem várias empresas na Grã-Bretanha que se especializaram em fornecer Gurkhas para o trabalho de segurança. Muitos Gurkhas foram contratados para cargos-chave de segurança no Iraque, e depois no Afeganistão. Estes Gurkhas ganharam uma reputação de fiabilidade que se espalhou, assim como o número de potenciais empregadores oriundos da Private Military Companies (PMCs). Existem várias dessas empresas especializadas em recrutar e trabalhar com Gurkhas que serviram no Exército britânico, como a Gurkha Security Services (GSS) ou a G4S Gurkha Services. Muitos ex-Gurkhas e suas famílias vivem em Hong Kong, trabalhando na segurança privada. A Marinha dos Estados Unidos também emprega Gurkhas como sentinelas em sua base naval em Bahrain. Os Gurkhas não são apenas bons profissionais, eles são bem disciplinado e extremamente leais, e também honestos, respeitosos e gratos. Na verdade, eles são tão leais que se você dar-lhes um guarda-chuva para transportar, eles não vão usá-lo mesmo se estiverem na chuva. Além disso, sua bravura, força de vontade e habilidades em combate são famosos em todo o mundo como já mostramos aqui.
Gurkha da Gurkha Security Guards Limited (GSG) subcontratado pela Kellogg Brown & Root Services (KBR) para prover segurança na Green Zone em Bagdá entre 2004-2006 para o acampamento Camp Hope
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