Perfil da Unidade

 

(bandeira do império alemão)

 Schutztruppe Colonial de Paul von Lettow-Vorbeck  (1914-1918)


 

Uma das mais brilhantes campanhas de guerrilha da história fora travada na África Oriental entre as potências européias durante a 1ª Guerra Mundial. Com notável força de caráter, entusiasmo e notável capacidade militar, o General alemão Paul von Lettow-Vorbeck comandou a sua Schutztruppe Colonial, travando uma guerra de guerrilha tenaz e vitoriosa, durante quatro anos, ao longo de milhares de quilômetros de matas e savanas, contra as tropas de três potências coloniais (Inglaterra, Bélgica e Portugal), só depondo as armas, voluntariamente, depois do Armistício na Europa. É importante conhecer esta tropa e seu lendário comandante.

Carreira Militar Pré-1ª Guerra Mundial

O general Paul von Lettow-Vorbeck, nasceu em Saarlouis, que fazia fronteira com a França, na Província do Reno, na Prússia (Alemanha) em 20 de Março de 1870. Saarlouis também era um posto militar, que foi atribuído a seu pai, um oficial do exército pertencente à aristocracia da Pomerânia. Paul passou a sua juventude nas escolas de Berlim, quando ele era velho o suficiente, ele pode cumprir o seu sonho de imitar seu pai entrando na Academia Militar de Potsdam, em Berlim, onde se graduou como tenente, em 1890, no Exército Imperial Alemão.

Oficial colonial alemão por excelência, em 1900, Paul von Lettow-Vorbeck foi designado para participar na força expedicionária internacional foi para a China para acabar com o a "rebelião Boxer" e "salvaguardar" os interesses ocidentais no país, em suma, uma aventura colonial de pleno direito desencadeada por potências européias, pelos EUA e o Japão, com a intenção de assumir e partilhar as portas comercial chinesa e dominar politicamente este país próspero.

Após o sucesso da expedição para na China, Paul von Lettow Vorbeck, foi enviado para a colônia alemã de "South-West Africa, agora Namíbia. Em 1904, o líder da "tribo Herero", Samuel Maharero comandou uma rebelião armada contra o colonialismo alemão selvagem que estava exterminando seu povo e gerou um conflito ainda mais sangrento em que os nativos seriam dizimados. Paul von Lettow-Vorbeck foi envolvido nesta guerra sob o comando do General alemão Lothar von Trotha, que em agosto do mesmo ano de 1904 esmagou a revolta após sua vitória na batalha de Waterberg.  Após a vitória, o general von Trotha ordenou o assassinato em massa dos sobreviventes dos hereros ou sua deportação para o deserto, provocando um feroz genocídio que quase acabou com essa antiga  tribo africana, só o líder da rebelião, Samuel Maharero, e cerca de 1.000 pessoas da tribo sobreviveram, conseguindo fugir para os territórios ingleses, onde foram abrigados e protegidos. Apesar de não concordar com esse genocídio, von Lettow-Vorbeck teve que acatar as ordens do seu superior hierárquico. Pouco depois deste extermínio os nativos  "Nama", um ramo da tribo Khoikhoi (chamado "hotentotes" no Ocidente), se revoltaram contra os alemães e sofreram o mesmo e infeliz destino dos hereros.

Estas campanhas de genocídio contra os nativos durou entre 1904 e 1906 e estabeleceue fortemente o poder da Alemanha sobre as suas colónias, desde então, os nativos temeram tanto os alemães que se tornaram extremamente leais a eles. 

Durante a luta de 1906, von Lettow-Vorbeck foi ferido no olho esquerdo e teve de passar algum tempo se recuperando em um hospital britânico na África do Sul, onde fez amizade com o grande soldado sul-africano e político Jan Smuts, que curiosamente depois ser tornaria o seu principal inimigo.

Em 1907, von Lettow-Vorbeck foi destinado ao Estado-Maior do 11 º Exército, para que pudesse descansar da feroz campanha em solo africano e melhora a recuperação dos seus olhos. 

Em 1909, Paul foi promovido por sua grande capacidade e mérito a comandante do 2 º Batalhão da Infantaria Marinha do Kaiser, uma tropa de elite de reserva sediada em Wilhelmshaven, na Baixa Saxónia, na Alemanha.

Em outubro de 1913, von Lettow-Vorbeck foi novamente para a sua amada África, desta vez como comandante da "Schutztruppe" ou tropas de proteção da colônia alemã dos Camarões. Mas antes que ele pudesse assumir o novo comando, em 13 de abril de 1914 chegou uma ordem para que ele se transferisse para um novo destino, pois foi nomeado comandante das tropas alemãs que defendiam a colônia da "África Oriental Alemã", atual Tanzânia. Esta colônia, tinha baixa importância política e econômica era o sua única importância consistia em seus portos comerciais. Na época o império africano alemão, era constituído pela atual Namíbia, Togo, Camarões e Tanganica.

Apesar disso, era uma colônia cobiçada pelos britânicos e belgas, por sua importância estratégica, sendo um território delimitado a norte pela África Oriental Britânica , agora Quênia e Uganda, ao leste pelo Congo Belga e a Rodésia britânica ou Zâmbia e ao sul por Moçambique, uma colônia portuguesa. Os belgas e portugueses eram tradicionais aliados dos britânicos. Os britânicos ambicionavam a colônia alemã com o interessa de unir suas colônias e ter mais saídas para o mar, como também era o interesse belga.

Os bons tempos coloniais antes da 1ª Guerra Mundial. O coronel Paul von Lettow-Vorbeck (segundo da direita) com oficiais da Schutztruppe e amigos na África Oriental Alemã.

A colônia alemã estava, portanto, cercada por inimigos e com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em julho de 1914, a mesma estava em sérios problemas para ser protegida pelas tropas alemãs. Os alemães, conscientes da sua inferioridade militar na África, afirmaram que o grande conflito deveria ser limitado a Europa e as colônias deveriam ser respeitadas, mas a invasão alemã da "neutra" Bélgica fez mudar tudo isso, e assim a guerra também chegou na África.

Começa a 1ª Guerra Mundial
Quando começou a guerra em 1914, Lettow-Vorbeck comandava uma pequena guarnição alemã de 260 oficiais e sargentos brancos e 2.472 askaris, organizados em 14 Feldkompaniens (Companhias de Campo) na África Oriental Alemã.

Tropas coloniais alemães da Schutztruppe (força de proteção) de Paul von Lettow-Vorbeck na África Oriental Alemã.

Além disso, o governador da colônia tinha outros 60 oficiais alemães e 2.000 Askaris enquadrados na força policial e usados como reserva em caso de invasão. As forças de von Lettow-Vorbeck eram bem comandadas e treinadas, mas tinham uma principal deficiência: a falta de unidades de artilharia. Os alemães só tinham alguns pequenos canhões de 37 mm, uteis só para tiros de curto alcance. Também não tinham unidades de cavalaria ou tropas de mulas, devido as hordas de moscas Tse-Tsé que impediam a utilização de animais eqüinos. O transporte de suprimentos para o exército alemão na colônia tinha de ser realizados através de cerca de 250 carregadores nativos carregando os pacotes nas costas e na cabeça.

Para piorar, os askaris só tinha um punhado de excelentes rifles Mauser Gewehr 98, usado pelo exército alemão na Europa e nas colônias economicamente mais importantes na África, o que não era o caso da África Oriental Alemã. A maioria dos rifles usados pelos askaris eram os velhos Mauser de 1871, que utilizavam munição de 11 mm que disparava pólvora negra, produzindo uma fumaça que cegava, além de denunciar a posição do atirador. Três das 14 companhias estavam equipadas com modernos rifle K98, sendo quer as 11 restantes restantes estavam armadas com o Mauser 1871.

Finalmente, von Lettow tinha apenas um punhado de metralhadoras estilo Maxim, que eram operados por suboficiais  brancos e, caso estes fossem feridos ou mortos em ação essas armas seriam inúteis, pois os askaris não sabiam usá-las. Esta desvantagem em armas era um séria problema para os alemães, mas von Lettow estava disposto a superar isso com um melhor treinamento de seus homens, sua maior agressividade em combate e dinamismo nas ações. Apesar de serem numericamente inferiores às forças aliadas, os alemães tinham a vantagem de conhecerem o terreno e tinham efetuado os seus treinos no ambiente da África Oriental.

As tropas askari ("Askari" era o termo árabe para "soldado", principalmente nas tribos Bantu), recrutados entre as mais aguerridas tribos da região, eram todas bem treinadas e bem disciplinadas. Os askaris ganharam especialmente uma reputação por suas habilidades de luta e lealdade, e conheciam o terreno onde lutavam e eram bem aclimatados. O General von Lettow-Vorbeck chegou a reunir 12.000 deles. Os seus askaris ensinaram os alemães a viver da terra, a fabricar as próprias roupas e medicamentos, a encontrar comida e água. Comandados por oficias com altíssimos padrões prussianos de disciplina e instrução militar, essas tropas eram temíveis.

A capacidade das tropas coloniais alemãs para atacar as forças aliadas exaustas e mal treinadas assentava numa superior mobilidade e independência. Utilizavam uma táctica de guerrilha, um emprego massivo das metralhadoras e de ações de reconhecimento, aliada a uma estratégia desprendida da posse do terreno, visando, numa manobra de ação indireta, atrair o Inimigo, desgastá-lo e ocupar ao máximo o seu tempo. Procuravam sempre obter a superioridade local nos pontos que lhe eram mais favoráveis, evitavam o combate decisivo, retiravam sempre que em desvantagem, concentrando para combater outro dia de forma implacável. Sendo assim, os alemães, além de forçarem os aliados a um esforço relativamente grande para alcançarem objetivos limitados, contribuíam para fixar e mesmo mobilizar recursos que não poderiam ser usados no teatro europeu onde a luta se decidia.

Mapa do Teatro de Operação da África Oriental Alemã

Uma das desvantagens iniciais que Von Lettow-Vorbeck transformou em vantagem foi a de ter conquistado uma completa autonomia: com o Reino Unido a dominar os mares, as comunicações da colônia com a metrópole alemã foram rapidamente rompidas. Por esse fato, as suas decisões eram soberanas, nomeadamente a liberdade de requisitar e mobilizar os recursos que entendesse. A questão de armar as unidades africanas, por exemplo, nunca se levantou, ao contrário do que se passava com os seus rivais britânicos e os sul-africanos.

Os askaris da Schutztruppe ganharam especialmente uma reputação por suas habilidades de luta e lealdade, e conheciam o terreno onde lutavam e eram bem aclimatados.

Já por outro lado as forças aliadas que conseguiram sempre manter a ligação com as respectivas metrópoles, acumularam no período do confronto um efetivo entre 210.000 e 250.000, segundo o próprio Lettow Worbeck o seu inimigo chegou a mobilizar 300.000 homens. Os ingleses e sul-africanos constituíam o grosso da força aliada, bem comandados por oficiais experientes no teatro de operações. As forças britânicas era uma mescla de soldados ingleses, indianos e nativos da África

No início da guerra na Europa, Lettow-Vorbeck ignorou as ordens do governador da colônia, Heinrich von Schnee, de manter a neutralidade na África e não causar conflitos na área, sabendo que mais cedo ou mais tarde a guerra iria se espalhar para África e devido a sua inferioridade numérica ele deveria pelo menos tomar a iniciativa. O governador baseou suas posições no Ato do Congo em 1885 onde as forças coloniais Européias absurdamente prometeram umas às outras manter suas posses além-mar separadas e neutras das guerras Européias. O primeiro projeto de ataque, um ataque para cortar a vital estrada de ferro britânica para Uganda, foi desestimulado pelo governador da colônia.

Um grave erro estratégico que von Lettow-Vorbeck não cometeria de novo, e desde então decidiu agir sem a permissão do governador, mas já era tarde demais, o atraso nas operações causadas pela falta de apoio do governador, favoreceu que a iniciativa passasse para as mãos britânicas e estes seriam aqueles que começaram a guerra na África.

A Batalha de Tanga

Para conquistar a África Oriental Alemã, os britânicos decidiram enviar uma expedição da Índia liderada pelo General Arthur Aitken, a Força Expedicionária B, que consistia de 8.000 soldados indianos transportados em 14 navios e protegidos por 2 cruzadores britânicos. Essa força foi reunida às presas na Índia e embarcados em Bombaim. A maioria dos soldados nunca haviam disparado um tiro e eram comandados por oficiais que não os conheciam e nunca tinham posto os pés na África. Mas era com isto, e com o auxílio de mapas rasgados de velhos atlas escolares, que o Império Britânico se preparava para tomar posse da África Oriental Alemã.

O primeiro objetivo da Aitken era capturar o porto de Tanga, o mais importante da colônia alemã, situada ao norte dela, no sopé do famoso Monte Kilimanjaro e perto da fronteira com as colônias britânicas do norte. A conquista da Tanga era vital para os britânicos que poderiam desembarca novas tropas e suprimentos para avançar com os quais facilmente para o sul e conquistar o resto da colônia alemã.

Em 2 de novembro de 1914 os britânicos chegaram na zona de operações, tomando de surpresa os alemães, que em primeiro lugar, decidiram não defender o porto e declará-lo aberto, para impedi-lo de ser bombardeada por navios britânicos.

Mas depois de ouvir a notícia, von Lettow-Vorbeck decidiu ignorar as autoridades civis e defender o porto a todo o custo. Os britânicos acreditavam nesses rumores e por vários dias, e o general britânico, Arthur Aitken se manteve hesitante, sem saber se devi ou não desembarcar suas tropas. Esse tempo foi fundamental para von Lettow reunir todos os reforços que ele poderia, ao todo 1.100 homens, e enviá-los rapidamente para a área (usando a ferroviária), para impedir o desembarque do inimigo.

Finalmente, o general Arthur Aitken, cansado de esperar e temeroso de se deparar com minas caso desembarcasse no porto, decidiu desembarcar as suas tropas a poucos quilômetros ao sul do porto e a partir daí tomar a cidade por terra.

As forças britânicas era uma mescla de soldados ingleses, indianos e nativos da África

A decisão britânica de ataque por terra foi um grave erro, uma vez que anteriormente tinham que atravessar a selva africana, um habitat extremamente hostis aos soldados indianos, que tiveram de enfrentar os askaris em contínuas emboscadas que causaram pesadas baixas. A partir do milharal, os alemães fizeram um verdadeiro massacre entre as tropas indianas. Os indianos foram também atacados ferozmente por abelhas na área. Por isso os ingleses chamam essa batalha de “Battle of the Bees” ou a “Batalha das Abelhas”.

Depois de várias tentativas frustradas de conquistar Tanga, os britânicos decidiram fazer uma pausa em sua ofensiva para se recompor e reorganizar as suas tropas, essa pausa foi utilizado por von Lettow-Vorbeck para lançar um contra-ataque agressivo, que causou grandes baixas nos indianos e obrigou os britânicos a reembarcarem e deixar a área. Embora a maior parte do contingente britânico tenha invadido as ruas de Tanga confiante de uma vitória rápida, Lettow ordenou um ataque suicida no flanco esquerdo causando a debandada para as praias das tropas indianas. Logo depois, quando pensavam que Von Lettow estava na própria cidade de Tanga, outra tropa britânicas atacou pela área de Kilimanjaro, apenas para descobrir que os askaris alemães tinham se movido com uma velocidade tremenda. Mais uma vez os ingleses foram expulsos. A Grã-Bretanha sofreu uma derrota inesperada e humilhante. Durante a batalha o próprio von Lettow, de bicicleta, com o rosto enegrecido, entrou em Tanga sem problemas se aproximando das linhas britânicas para realizar uma missão de reconhecimento. Ele descobriu que os seus homens estavam em desvantagem de 4-1.

Essa vitória mostrou a grande capacidade de  von Lettow como comandante militar, pois suas tropas eram superadas em uma margem de 8-1 e mesmo assim ele encontrou as condições favoráveis de atacar o inimigo, e sua ousadia foi recompensada com uma merecida vitória que lhe permitiu conquistar uma grande quantidade de armas e munições abandonadas pelos soldados britânicos na sua fuga precipitada para os navios.

Em vez de massacrar as tropas indianas em sua retirada, von Lettow lhes permitia embarcar em seus barcos e solicitou uma conferencia com o General Aitken na praia, para a qual ele concordou de bom grado. Incrivelmente, os dois generais, como cavaleiros antigos, começaram a caminhar na praia e discutir a batalha, bebendo juntos uma garrafa de brandy. Outro sinal da cavalheirismo foi que von Lettow ordenou a seus médicos que estes atendessem a todos os soldados indianos feridos. O ataque anfíbio contra a cidade de Tanga, aos pés do Kilimanjaro, realizado pelos britânicos que foram repelidos pelas tropas de von Lettow-Vorbeck, se converteu na maior batalha da 1ª Guerra Mundial em solo africano.

O General Aitken teve de reembarcar deixando no terreno 2.000 mortos e toneladas de material, que iriam permitir aos alemães armar novas unidades. A vitória dos alemães foi tremenda, pois eles derrotaram 8.000 soldados, 16 metralhadoras, uma bateria de montanha e os canhões de 6 pol. do HMS Fox, com apenas 1.000 homens, 4 metralhadoras e nenhuma peça de artilharia.

A 8 de novembro, a Força Expedicionária B chegou a Mobasa com mais de 800 baixas, sem virtualmente qualquer metralhadora e com tão fraco moral que tornara muitas unidades inaptas para lutar durante algum tempo. Por outro lado, os vencedores alemães recolheram grande quantidade de munição , armas e roupas que os britânicos haviam deixado nas praias. Desse modo, rearmaram três companhias com armas modernas e descartaram alguns dos velhos fuzis 1871 que possuíam, e, o que é mais, haviam conseguido a vitória sobre adversário mais numeroso que eles, perdendo apenas 60 homens. O moral dos germânicos e askaris, por tudo isso, manteve-se alto pelo resto da guerra. Lettow Vorbeck escreveu, mais tarde, que: "Tanga foi o berço do espírito de luta que esteve sempre com nossas tropas." Aitken foi rebaixado e é dito que desde então só ao ouvir o nome de Von Lettow caia em depressão.

As baixas indianas em Tanga foram pesadas, cerca de 2.000 mortos. Aqui cadáveres de soldados do 13º Rajputs.

Enquanto von Lettow defendia Tanga, outra coluna inimiga avançava das colônias britânicas do norte para o sul para invadir a África Oriental Alemã.  No entanto, a força invasora teve seu avanço detido ao tentar atravessar a fortes defesas alemãs no Monte Kilimanjaro.

Em resposta à ofensiva britânica, von Lettow decidiu lançar “raids” ou rápidos ataques de surpresa contras as principais vias da estrada de ferro da África Oriental Britânica. Esta guerra de guerrilha e ataques surpresa continuou durante o resto do ano e início do próximo. O plano de von Lettow era de prolongar a guerra na região tanto quanto possível, forçando assim os britânicos a desviar muitas forças que caso contrário poderiam estar lutando contra a Alemanha na Europa.

Comandados por oficias com altíssimos padrões prussianos de disciplina e instrução militar, os askaris eram temíveis em combate.

A Batalha de Yasini

Não contente com a ação de guerrilha, von Lettow também decidiu avançar para o norte, capturando uma parcela pequena da faixa costeira, e assim, remover a fronteira  britânica da importante cidade portuária de Tanga. Seu sucesso foi curto, porque os britânicos recuperaram o terreno perdido e logo depois avançaram para Yasini, cidade fronteiriça com a colônia alemã, localizada a apenas 50 km de Tanga.

Vendo que ele estava perdendo a iniciativa, e temendo um novo avanço das tropas do Reino Unido contra Tanga, von Lettow decidiu retomar a fronteira norte, no início de 1915 atacando Yasini, que estava guarnecida por apenas 300 soldados indianos. Ele lançou nove Feldkompaniens contra a posição britânica.

Oficial alemão passa em revista uma Feldkompanien

Na Batalha de Yasini, que ocorreu em 18 de janeiro de 1915, von Lettow derrotou mais uma  vez os britânicos, mas essa batalha custou muito caro para o comandante alemão, pois ele perdeu 27 oficiais e sargentos alemães, incluindo o capitão Tom von Prince, seu substituto e confidente.

Esses homens eram experientes e insubstituível, porque era impossível chegar reforços vindos da Alemanha, por causa do domínio marítimo britânico. Apesar destas perdas dolorosas, von Lettow felicitou os capitães britânicos Hanson e Turner, responsáveis pela defesa de Yasini e os liberou sob a promessa de que eles não voltariam a lutar com ele novamente.

A saga do SMS Koenigsberg
Quando a 1ª Guerra Mundial foi declarada em Agosto de 1914, a principal frota alemã de cruzadores fora do Mar do Norte e Mar Báltico, se baseava na esquadra da Ásia Oriental, comandado pelo Vice-Almirante Maximilian Von Spee e baseada em Tsigtao (possessão alemã na China, atual Qing-Dao), composta dos Cruzadores Pesados (blindados) Scharnhorst (capitania) e Gneisenau, e de três Cruzadores Leves, o Emden, o Leipzig e o Nürnberg. No Caribe estavam dois dos mais rápidos Cruzadores Leves, o Karlsruhe e o Dresden, e no Oceano Índico o Königsberg.

O Königsberg, sob o comando do Capitão Max Looff, continuou operando no Índico a partir da colônia alemã da África oriental. Isso representava uma ameaça em potencial aos comboios ingleses, contendo reforços essenciais de tropas aliadas vindas da Austrália e Nova Zelândia, que chegariam á Europa através do Mar Vermelho e Canal de Suez. O Cruzador conseguiu operar a partir de sua base em Dar es Salaam – cuja localização era completamente ignorada pelos ingleses – e espalhar o terror á navegação mercante aliada durante um ano, com ataques esporádicos ás bases britânicas na área, até ser localizado nos intrincados canais pantanosos do delta do rio Rufiji, na África Oriental Alemã. Tendo sido encurralado, o Königsberg se embrenhou ainda mais pelas florestas e pântanos, fora do alcance dos canhões da esquadra britânica composta pelos Cruzadores Chatham, Dartmouth and Weymouth enviados para caçá-lo.

Foi então que os ingleses decidiram bloquear o canal mais largo do delta, afundando o navio mercante Newbridge, e a 11 de Julho de 1915 enviaram uma força conjunta de dois antigos monitores Severn e Mersey, armados com canhões pesados (12 pol.) e com calado reduzido, apoiados por 2 hidroaviões Sopwith 920 usados para observação aérea e direcionando as salvas dos dois monitores para atingir o Königsberg, e isso somente na segunda tentativa de ataque naquele que foi o primeiro ataque combinado aeronaval da história da guerra moderna. Após severamente atingido Loof ordenou que se abandonasse o navio e se detonassem as cargas explosivas no fundo do casco. Mas os alemães conseguiram salvar as armas pesadas do Königsberg e Lettow-Vorbeck usou as 10 peças de 105 mm e 2 de 88 mm e o grupo de artilharia do cruzador como artilharia de terra de sua Schutztruppe.

O "Konigsberg" no porto de Dar es Salaam na África Orienal Alemã


Curiosamente, um evento desastroso para a Alemanha, o afundamento do cruzador alemão "Konigsberg", seria uma bênção para von Lettow, no que diz respeito a homens e armamentos. Alegremente von Lettow recebeu o reforço eficaz dos 188 marinheiros e oficiais sobreviventes do "Konigsberg" e acima de tudo, poderia, transformar os seus canhões em artilharia móvel, para apoio a suas tropas. Da tripulação original do Königsberg de 350 homens, apenas 15, incluindo o capitão Looff, sobreviveu à guerra e voltou para a Alemanha.

Este canhão de 4.13 pol do "Konigsberg" foi montado em reparos improvisados, para aumentar o poder

da artilharia à disposição de Lettow Verbeck

A reorganização das forças de von Lettow

A fim de não sofrer muitas baixas, von Lettow retornou à sua estratégia defesiva-guerrilheira, lançando ataques relâmpagos contra a estrada de ferro britânica de Uganda. von Lettow também se dedicou ao fortalecimento das suas forças, nelas integrando as forças policias de askaris e recrutando vários contingentes de cidadãos austríacos que vivem na colônia e até mesmo ex-militares aposentados alemães, incluindo a General aposentado, Wahle, a quem von Lettow deu o comando do setor defensivo oeste, para defender a colônia contra possíveis ataques belgas.

Alguns voluntários não se juntaram ao exército regular, mas formaram companhias irregulares que atuaram como guerrilheiros realizando pequenas incursões contra o inimigo. No início de 1916, von Lettow tinha aumentado as suas forças para 3.000 alemães e 12.000 askaris, embora muitos destes soldados não tivessem a capacidade necessária e necessitavam de muito treinamento.

Com cavalos capturados von Lettow Vorbeck conseguiu montar companhias montadas que davam mais mobilidade

e maior alcance aos ataques alemães contra os postos avançados e as linhas de comunicação dos britânicos, obrigando-os

a manter forças em serviço de guarda estático

O sucesso de von Lettow em recrutar os nativos foi devido à alta consideração que estes tinham por ele. von Lettow era capaz de falar fluentemente a língua deles, o swahili, e acima de tudo, eles foram tratados com grande respeito e igualdade, para ele, todos os soldados brancos e negros eram "africanos" e lutavam pela mesma pátria.

Apesar do aumento de tropas, e equipamentos capturados aos britânicos, von Lettow ainda carecia de artilharia, munições para os fuzis e só tinha 96 metralhadoras, (17 delas capturadas aos ingleses), para defender a colônia inteira. Com essa deficiência em equipamentos e não podendo perder mais homens, von Lettow teve que continuar com seus eficazes métodos de guerrilha.

Com o aumento das suas tropas e agora podendo contar com artilharia pesada vinda das armas do Königsberg, von Lettow incrementou os seus ataques relâmpagos contra as ferrovias e as comunicações do inimigo, gerando muita tensão para os britânicos e forçando-os a mover mais tropas para a área, tropas essas que eram necessárias nas trincheiras da Europa, mas que devido as ações de von Lettow tinham que ser utilizada na África. A estratégia de von Lettow estava dando certo.

Um espaldão de metralhadora Maxim alemã na área do Monte Kilimanjaro.

O General Jan Christiaan Smuts no comando das forças britânicas

No início de 1916, os britânicos decidiram acabar de uma vez por todas com a colônia da África Oriental Alemã e as guerrilhas de von Lettow-Vorbeck. Da África do Sul foi enviada uma força expedicionária com 45.000 homens comandados pelo general sul-africano Jan Smuts, um perito oficial, especialista em combates de guerrilha na África e, como dito acima, um amigo pessoal de von Lettow em tempos de paz. Durante a Segunda Guerra dos Boers Smuts, herói deste conflito, liderou commandos Boers contra as tropas britânicas.

As operações no Protetorado Alemão da África do Sudoeste (atual Namíbia) tinham terminado com a vitória britânica e assim as forças sul-africanas podiam ser enviadas para reforçar as operações na África Oriental Alemã.

Tropas sul-africanas em operação na África Oriental. Essas tropas eram bem treinadas e comandada, e tinham experiência em combaterem no ambiente africano.

Essa expedição britânica desembarcou na África Oriental, com a intenção de atacar a colônia alemã do norte. Os britânicos estavam confiantes de que sua superioridade numérica, a disponibilidade de uma brigada de cavalaria, alguns veículos blindados (tanques primitivos) e, sobretudo, uma brigada de artilharia com cinco baterias de canhões, lhes daria uma vitória fácil sobre o esquivo von Lettow.

Para piorar as coisas para os alemães, os belgas iriam começar ao mesmo tempo uma ofensiva no oeste da colônia, a fim de prender os alemães no meio do fogo cruzado e logo depois os portugueses entrariam na guerra do lado dos aliados, ameaçando o flanco sul da colônia alemã.

Para defender-se contra esta poderosa ofensiva dupla, von Lettow tinha na época de 2.712 soldados alemães, 11.367 askaris e 2.531 irregulares (voluntários brancos que operavam como guerrilheiros e eram liderados por oficiais da reserva).

Com uma tropa tão inferior em número e armamento em comparação com a Grã-Bretanha, von Lettow decidiu não travar nenhuma batalha convencional e se esquivar de seus inimigos até que se apresentasse uma oportunidade de goleá-los.

Smuts começou a avançar sobre a colônia alemã, dividindo suas forças em duas colunas, a fim de cercar o exército de von Lettow e destruí-lo. Smuts confiava na velocidade de sua cavalaria para cortar a retirada de von Lettow e pegá-lo, mas curiosamente os seus planos seriam frustrados pela ação de um pequeno inseto: a mosca Tsé-tsé.

Embora Smuts tinham sido avisado dos perigo desta mosca para a saúde dos eqüinos, não acreditou que era um perigo tão importante, pensando que poderia substituir os animais mortos com novas remessas vindas do Norte, no entanto, o número de perdas de animais por dia, foi muito superior à dos animais que ele poderia receber, o que impediu que a sua cavalaria fosse eficaz e conseguisse cavalgar para capturar os alemães.

Mais uma vez von Lettow se esquivou de todas as tentativas de cerco projetadas por Smuts, porém uma coluna belga comandada por Van Geral Deventers conseguiu cortar as estradas de ferro da colônia, evitando assim que von Lettow conseguisse de abastecer. Smuts pensou que von Lettow com sua linha de suprimento cortada iria se entregar depois disso, mas ele nunca sequer pensou em tal idéia, sua estratégia era de apenas prolongar a guerra para desviar do front europeu tantos soldados inimigos quanto fosse possível, então ao invés de defender Tanga e as cidades da colônia, decidiu deixá-las e se dirigiu para o sul.

Por seu lado, os belgas continuaram seu avanço bem sucedido, apesar das tentativas desesperadas e mal sucedidas feitas pelo general Wahle e seus irregulares para evitar esse avanço. Finalmente, os belgas ocuparam a maior parte do centro da colônia, em articulação com os ingleses que ocuparam o norte.  Teoricamente a Deutsch-Ostafrika desaparecia.

Até o final de setembro de 1916, tudo parecia perdido para os alemães de von Lettow, que apenas manteve nas mãos o sul da colônia. Os britânicos dominaram todos os seus portos e cidades importantes do norte, os belgas, os do leste e central e no topo os portugueses decidira atacar em direção ao sul da sua colônia, mas havia sido temporariamente derrotados.

As tropas coloniais belgas

No entanto, von Lettow não desistiu, ele sabia que suas esperanças eram poucas, especialmente porque ele não poderia substituir as perdas sofridas e tinha pouco um pequeno estoque de munição, mas também sabia que seus inimigos estavam muito esgotados e essa era a sua vantagem.

Os britânicos sofreram várias baixas nas emboscadas da guerrilha alemã, mas este era um problema menor se comparado ao grande número de baixas causadas pelas doenças que começaram a dizimar as suas tropas e a sua cadeia logística começou sofrer panes, pois era muito difícil abastecer um exército tão grande e tão espalhado em um terreno de selva extremamente difícil.

A doença causou tantas muitas baixas, que em outubro de 1916, os britânicos tiveram de parar a sua ofensiva, porque as suas tropas não estavam com efetivos suficientes. Essas enfermidades significaram a salvação para von Lettow, que pode assim ter tempo para se reagrupar e planejar seus contra-ataques.

No entanto, um de seus oficiais, o capitão Wintgens não quis esperar por esses reagrupamento e seguiu com um pequeno grupo de homens para o norte em fevereiro de 1917 para atacar os ingleses. As ações deste corajoso oficial permitiu a von Lettow contar com mais tempo para se reorganizar, visto que os britânicos passaram vários meses caçando e finalmente capturando Wintgens em outubro do mesmo ano.

No entanto, nem tudo era alegria para von Lettow, pois o mesmo sofria com a partida de muitos homens que, cansados dos sofrimentos sofridos, desertaram para roubar suprimentos no norte em Moçambique, ou regressavam para as suas casas assim como súditos britânicos. Isso fez com que as tropas de von Lettow fossem reduzidos para menos de 3.000 homens.

Finalmente, os britânicos substituíram suas enormes baixas, mas com soldados novatos, e decidiram enviar uma coluna de 5.000 homens para destruir os restos do exército de von Lettow-Vorbeck atacando Mahiwa em meados de outubro de 1917, a base de von Lettow no sul.

Neste momento von Lettow tinha apenas 1.500 homens disponíveis para defender a sua base, mas tinha as suas posições fortificadas com trincheiras e metralhadoras e os britânicos sofreram uma perda semelhante à que tais defesas causaram para os seus pares na Europa, quando atacavam massivamente de forma frontal defesas bem estabelecidas.

Os britânicos perderam 2.700 homens, mais da metade de seus homens, no entanto, os alemães tiveram 95 mortos e 400 feridos, mas essas baixas eram bem sérias para uma força tão pequena e que não podia receber mais reforços como a força de von Lettow, e eliminou o poder ofensivo alemão. Após a chegada da notícia da batalha na Alemanha, Lettow foi promovido a Generalmajor.

Ataque a Moçambique

Esta importante vitória permitiu a von Lettow obter novo fôlego, pois os britânicos levariam algum tempo para montar uma nova expedição similar. Mas o general alemão compreendia bem as suas limitações, ela sabia que seus suprimentos só durariam mais umas seis semanas e tomou a seguinte decisão: Para continuar a lutar, sua força deveria se retirar da África Oriental Alemã e se lançar contra a África Oriental Portuguesa (Moçambique) atrás de suprimentos que pudessem permitir que ele a partir da colônia portuguesa, continuasse sua campanha na África. Na sua essência, Lettow cortou sua própria linha de abastecimento e a Schutztruppe tornou-se praticamente uma tribo nômade.

Faltava as tropas portuguesas vontade de lutar. Diante dos experientes lemães e seus askaris os portugueses foram vencidos facilmente.

Como não podia ser deslocar com uma força que viessem a consumir muitos suprimentos o general von Lettow-Vorbeck tomou uma decisão simples: reduziu sua força para cerca de 2.000 homens e deixar para trás número considerável de europeus e africanos que haviam lutado com ele todo esse tempo. Por isso quando em 25 de novembro de 1917 von Lettow-Vorbeck e seu exército "nômade" cruzaram o rio Rovuma, que dividia as duas colônias, a sua força era formada por 300 europeus, 1.700 askaris e 3.000 carregadores.

Mesmo com essa força reduzida, von Lettow-Vorbeck e seus homens foram derrotando facilmente as guarnições de fronteira portuguesas e tomando a cidade de Ngomano e capturando vários depósitos de munições e suprimentos para suas tropas, que ficariam bem providas de forma adequada por um longo tempo.

A facilidade com que o portugueses foram derrotados forçou os britânicos a enviarem reforços, e um exército Inglês desembarcou em Porto Amélia, lançando um movimento de flanco a fim de cercar von Lettow entre as forças britânicas e portugueses. Porém, von Lettow percebeu o perigo de cerco com antecedência e facilmente escapou dele.

Pouco depois, von Lettow capturou um navio hospital e foi capaz de estocar medicamentos tão necessários aos seus homens, especialmente quinino para combater a malária mortal. Sua campanha em Moçambique foi extremamente útil para von Lettow, suas vitórias constante sobre os britânicos e portugueses permitiu-lhe plenamente rearmar e obter uma capacidade ofensiva visando atacar objetivos de maior importância. Quando dominou a guarnição portuguesa de Ngomano as tropas alemãs resolveram seu problema de abastecimento, se servindo generosamente de armas, munições e alimentos. Eles também capturaram um navio a vapor com um carregamento de suprimentos médicos, incluindo o quinino, e pelo menos alguns dos seus problemas médicos foram resolvidos.

Só encontram oposição digna desse nome num isolado posto da serra Mecula, por parte de um punhado de homens comandados pelo capitão Francisco Curado. Os mal treinados recrutas enviados de Portugal para guarnecer a colônia são comandados por oficias desmotivados, muito longe da enérgica geração de militares que vinte anos antes haviam consolidado o poder português na região.

Em julho de 1918, von Lettow derrotou a guarnição britânico-portuguesa que defendia a importante cidade de Namakura (Nhamacurra no moderno Moçambique), e apreendeu uma grande quantidade de armas e suprimentos. Eles tinham mais munição do que eles poderiam carregar. Após esta vitória, von Lettow ameaçou atacar a capital de Moçambique, forçando os britânicos e portugueses a concentrar as suas tropas na defesa da capital, graças a isso, von Lettow pode facilmente ir para o norte e voltar à África Oriental Alemã no dia 28 de setembro de 1918, com os britânicos ainda no seu encalço. Ele então se virou para oeste e invadiu a Rodésia do Norte , assim evitando uma armadilha que os britânicos tinham preparado para ele na África Oriental Alemã.

Na Rodésia do Norte os homens de Lettow-Vorbeck enfrentaram uma força policial rodesiana e voluntários civis fortemente determinados a bloquear seu caminho. Mesmo com toda resistência os alemães capturam a cidade de Kasama, que os britânicos haviam evacuado, em 13 de novembro de 1918, dois dias após o armistício, continuam avançando na direção oeste-sul para Katanga.

As tropas de von Lettow eram extremamente móveis e hábeis em combate em qualquer terreno da África Oriental Alemã.

Aqui um oficial alemão comanda uma patrulha askari.

Rendição

Porém a Alemanha tinha se rendido aos aliados na Europa, acabando assim com a Primeira Guerra Mundial. Entretanto, a notícia da rendição só chegou para von Lettow  dias depois, porque este estava em uma área escondida e isolada das comunicações. Quando chegou ao Rio Chambeshi na manhã de 14 de Novembro, o magistrado Britânico Hector Croad apareceu com uma bandeira branca e entregou uma mensagem do General van Deventer, informando-o do armistício. Lettow-Vorbeck concordou com um cessar- fogo no local agora marcado pelo Von Lettow-Vorbeck Memorial na atual Zâmbia. Ele foi instruído pelos britânicos a marchar para norte, para Abercorn (atual Mbala), nas margens do lago Tanganyika, para render seu exército invicto, o que ele fez em 25 de Novembro de 1918, dez dias após o fim da guerra. A rendição foi acertada e houve uma cerimônia um pouco bizarra, pois era a capitulação de um exército que não havia perdido para um exército que não tinha vencido.

Na época de sua rendição, von Lettow tinha apenas 30 oficiais Alemães, 125 oficiais não comissionados e outros postos, 1.168 askaris e 3.000 carregadores, um pequeno exército que tinha sobrevivido heroicamente por quatro anos de guerra derrotado e humilhado milhares de inimigos. Foram entregues na rendição trinta metralhadoras britânica, milhares de fuzis britânicos e belgas, uma bateria antiaérea portuguesa, vários obuses e morteiros belga e centenas de caixas de munição aliados. De armamento original tinham sete metralhadoras e alguns rifles. Todas as suas tropas também estavam vestidas com uniformes do inimigo modificados.

O General von Lettow-Vorbeck regressa à Europa com os restantes alemães, a quem foi permitido que levassem as armas – deixando no cais milhares de askaris lavados em lágrimas.

Legado e Carreira Pós-Guerra

No dia 19 de março de 1919, a Schutztruppe de Lettow-Vorbeck, representada por 144 soldados, foi o único exército Alemão permitido à uma parada vitoriosa através do Portão de Brandemburgo em Berlim depois da 1ª Guerra Mundial, pois foi o único que não foi derrotado, e seu comandante foi o único a invadir território britânico com sucesso na 1ª Guerra Mundial.


O General
von Lettow-Vorbeck durante a sua parada militar em Berlim em março de 1919

A campanha de 1914-1918 travada na África Oriental foi muito diferente da campanha que se desenrolava ao mesmo tempo na Europa. No velho continente a guerra era eminentemente estática, de ataques massacrantes e pouco criativos, cabendo a vantagem aos defensores. Por outro lado a guerra em solo africano era de movimento, pertencendo a vantagem a quem tomasse a iniciativa.

Paul von Lettow-Vorbeck nunca comandou mais de 14 mil homens. Mas, em quatro anos, fez sofrer 300 mil soldados e 130 generais inimigos, infligindo mais de 60 mil baixas (entre as forças britânicas, sul-africanas, portuguesas, belgas e indianas ) e obrigando o Império Britânico a gastar mais de 15 milhões de dólares, a preços atuais. Ao contrário dos combates noutros teatros da Primeira Guerra Mundial, estes não haviam sido muito sangrentos, mas o clima e as deploráveis condições higiênicas em que as operações se realizaram ceifaram muitas vidas por doença. O general alemão nunca foi vencido. O respeito que ganhou dos adversários foi tanto que o seu maior oponente, o general Smuts, fez questão de garantir que os alemães recebessem sempre o seu correio da Europa, enquanto os combatia.

O General Paul von Lettow-Vorbeck comandou de forma magistral a sua Schutztruppe Colonial na África Oriental Alemã contra forças dez vezes superiores a sua.

O Exército von Lettow como o único exército alemão que não foi derrotado no campo de batalha, e por isso o Kaiser decidiu premiar premiar os seus serviços em um dos últimos editais emitidos antes de sua deposição. Por este edital, von Lettow foi promovido ao posto de general e foi premiado com a maior medalha alemã da época: a medalha Pour le Mérite. Nesse mesmo ano de 1919, von Lettow se casou com Martha Walroth, com quem teve duas filhas, Heloise (1923) e Ursula (1927). Ele tinha dois filhos homens de um outro casamento.

Após a guerra, Lettow-Vorbeck organizou esforços para repatriar soldados alemães e prisioneiros de guerra e certificar-se de que os askaris receberiam tratamento igual. Também conheceu Sir Richard Meinertzhagen, o Oficial da Inteligência Britânica com quem ele disputou uma guerra pessoal durante o conflito. Mais tarde, Lettow-Vorbeck escreveu dois livros sobre sua história na Grande Guerra: "Heia Safari" (1919) e "Minhas memórias da África Oriental" (1920).

Durante a guerra na África geralmente os combates, em geral, eram caracterizados por um comportamento cavalheiresco. Por exemplo, após a Batalha de Tanga os vencedores alemães, e os britânicos vencido, reuniram-se sob uma bandeira branca com uma garrafa de conhaque para comparar as opiniões da batalha e discutir o atendimento dos feridos. Ambos os lados trocaram fotos autografadas, compartilharam um jantar excelente, e se despediram como cavalheiros. Mais uma vez, depois do armistício de 1918, os oficiais britânicos ficaram encantados por finalmente terem a oportunidade de conhecer o lendário general alemão. Quando se entregou Lettow-Vorbeck não foi preso, mas lhe foi dado o uso de um carro e um convite para jantar com o general Van Deventer.

De volta à Alemanha, von Lettow sofreu, como todos os alemães, a penúria do seu país. Ele tornou-se comandante da Brigada Militar 9 em Schwerin (força paramilitar dos Freikorps) em 1919. Ele se envolveu, juntamente com outros oficiais superiores imperiais, do Putsch Kapp, que foi um golpe de direita para tomar o poder em 1920. Ele permaneceu no exército e depois comandou tropas alemãs para suprimir a revolta comunista em Hamburgo em 1923.

Ele e Smuts formaram uma amizade duradoura e se sentou ao lado de Smuts como convidado de honra no jantar de aniversário da Força Expedicionária da África Oriental. Smuts sequer teve tempo para parabenizá-lo quando ele tinha recebido a ordem imperial em 1916. No início de dezembro de 1929, a convite do general Smuts, von Lettow-Vorbeck participou em Londres, como convidado de celebrações para os combatentes da África Oriental. Quando Jan Smuts soube da situação difícil do seu antigo adversário na Alemanha do pós-guerra, ele instituiu com outros oficias britânicos e sul-africanos um fundo através do qual lhe foi paga uma pequena pensão até à sua morte.

Em 1920 ele se tornou um político e serviu por 10 anos no Reichstag. Quando Hitler subiu ao poder, von Lettow-Vorbeck tentou, sem sucesso, organizar uma oposição conservadora. Mas, como os nazistas reforçaram a sua posição, e von Lettow, desgostoso, renunciou a seu posto.  Em 1938, aos 68 anos de idade, foi nomeado General para Propósitos Especiais, mas não foi convocado para serviço. Hitler ofereceu von Lettow, um herói da Primeira Guerra, o posto de embaixador na Inglaterra, mas von Lettow recusou. Em retaliação a este insulto, Hitler e seus colaboradores iniciaram uma campanha difamatória contra o general, arruinando a sua carreira.

Perseguido e abandonado, ele permaneceu sob prisão domiciliar durante a Segunda Guerra Mundial, von Lettow quase morreu de fome. Seus dois filhos homens, Rüdiger e Arnd foram mortos em ação com o Exército Alemão na Frente Leste, sua casa em Bremen foi destruída por bombas Aliadas, e ele dependeu por algum tempo de pacotes de comida de Meinertzhagen e Smuts.

Quando a 2ª Guerra Mundial terminou, von Lettow recuperou seu antigo prestígio. Com o estabelecimento da República Federal da Alemanha (Alemanha Oriental) e recuperação econômica, ele veio a desfrutar de circunstâncias confortáveis novamente, recebendo pensões do governo por seus serviços militares e parlamentares.

Na idade de oitenta e três anos, em 1953, ele voou até a África para visitar seus velhos soldados askaris sobreviventes e a viúva de Smuts, seu colega. Na África ele foi recebido com cortesia e honras militares por oficiais coloniais Britânicos. Em 1956 ele recebeu o título de cidadão de honra da cidade onde nasceu, Saarlouis. Ele faleceu em 9 de março de 1964 na idade de quase 94 anos em Hamburgo. Ele foi enterrado em 13 de Março de 1964, com todas as honras militares em Pronstorf e sobre o seu caixão estava o seu chapéu colonial e sua espada. Alguns askaris veteranos estiveram presentes ao sepultamento.

Paul von Lettow-Vorbeck foi considerado um comandante audaz, todavia prudente, que mostrou habilidade incomum em disputar uma guerra de guerrilha em terreno desconhecido. Com poucos homens e virtualmente sem suprimentos, barrou forças britânicas de dez a doze vezes maiores. Ao final, permaneceu invicto, e tendo desviado as forças britânicas, marchava para atacar a ferrovia e minas Aliadas em Katanga. Ganhou muito respeito de seus askari bem como de oficiais brancos, amigos ou inimigos. Ele alcançou o seu objetivo de mobilizar uma grande força inimiga usando uma pequena força de combate.

Suas táticas foram alvo de interesse de Mao Tse Tung e Che Guevara. Pois as ações de Lettow-Vorbeck na África foram a maior operação isolada de guerrilha na história, e a mais bem sucedida. Um de seus oficiais juniores, Theodor von Hippel, usou sua experiência sob o comando de Lettow-Vorbeck para formar os Brandenburgers, a unidade de commandos da agência de inteligência Alemã Abwehr na 2ª Guerra Mundial.

No ano da morte de von Lettow-Vorbeck, 1964, meio século após sua chegada em Dar es Salaam, a Bundestag da Alemanha Oriental votou por financiar o salário atrasado aos askari ainda vivos. Um escritório de caixa temporário foi instalado em Mwanza no Lago Victoria. Dos 350 velhos homens que acumularam apenas uma quantia limitada pode desfrutar dos certificados que von Lettow os havia entregado em 1918. Outros apresentaram pedaços de seus velhos uniformes como prova de serviço. O funcionário alemão que trouxe o dinheiro teve então uma idéia. A cada requerente que desse um passo à frente, seria dado uma vassoura e ordenado em alemão que executasse o manejo da arma. Nenhum dos homens falhou no teste.

Quatro quartéis do Exército Alemão (Bundeswehr) em Leer, Hamburg-Jenfeld, Bremen e Bad Segeberg foram nomeados em sua honra. Com reduções de pessoal e fechamento das bases de 178 instalações militares, o último dos quartéis nomeados de Lettow-Vorbeck (em Bad Segeberg) foi fechado em 2004.


Algumas das armas usadas pela Schutztruppe de Lettow-Vorbeck na África Oriental Alemã:

Mauser Gewehr 1898 7.92x57mm Mauser

 

Metralhadora Maxim MG08 7.92x57mm Mause

 

Reichsrevolver M/1879 com calibre 10,6 mm, cilindro de seis tiros e ação simples

 


 

Fontes:

www.militar.com.br

http://caminhosdamemoria.wordpress.com

http://pt.wikilingue.com/es/Paul_von_Lettow-Vorbeck

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Emil_von_Lettow-Vorbeck

http://triplov.com/miguel_garcia/mozamb/mozamb_03.htm

http://www.angelfire.com/de/greatwar/vorbeck.html

http://www.revistanaval.kit.net/bww1.htm

 

Free web templates by Nuvio – Our tip: Webdesign, Webhosting