Perfil da Unidade

SPECIAL AIR SERVICE - SAS

 

ORIGEM

 


Operador do SAS nas Falklands, armado com um Colt Commando.

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Criado em circunstâncias difíceis, o Serviço Aéreo Especial, de David Stirling, foi testado no sufocante calor do deserto. Stirling sempre insistiu em duas coisas: primeiro, que o SAS nascera essencialmente para executar missões estratégicas e, segundo, que a natureza das tarefas exigia homens de caráter, habilidade e treinamento excepcionais.  

Certa manhã de julho de 1941, um jovem oficial de 24 anos, muito alto, de cabelos escuros, com um sorriso encantador e modos aristocráticos, dirigiu-se, claudicante, apoiado em muletas, à entrada do Q-G do Oriente Médio, no Hotel Shephard do Cairo. Não dispondo de um passe que lhe permitisse penetrar, ele conseguiu iludir as sentinelas, percorreu um corredor e entrou no gabinete de um major do Estado-Maior do Ajudante-General. Desculpando-se, o jovem disse chamar-se David Stirling, que seu regimento era a Guarda Real Escocesa (Scots Guards) e que estava servindo no Comando N° 8, como parte da Layforce,  comandada por Robert Laycock. Ele tinha negócios importantes a tratar com o Comandante-Chefe, General Auchinleck, que havia pouco substituíra Wavell no comando. Sem se impressionar, e tendo tomado uma atitude hostil para com Stirling, quando dava instruções num curso de tática, os hábitos sociais deste o tornavam algo sonolento nas manhãs, o major recusou-se a ajudá-lo ou mesmo a ouvir o que tinha a dizer. Então o telefone tocou; era uma informação da portaria adiantando que um oficial entrara no Q-G sem passe. 

 

O fundador do SAS: o lendário David Stirling

Enquanto o major atendia ao telefone, Stirling saiu despercebidamente do gabinete, deu alguns passos hesitantes pelo corredor e entrou por uma porta em que havia a inscrição DCGS. As iniciais não lhe significavam nada, mas o homem sentado à mesa era-lhe muito familiar: o General Neil Ritchie, Subchefe do Estado-Maior das Forças do Oriente Médio. 

Um tenente entrar no gabinete de um general, sem entrevista marcada, é incomum, mas entrar sem ser convidado, é inadmissível. Se Stirling não fosse um personagem extraordinário, teria resmungado algumas palavras de desculpa e fugido. Mas, sendo quem era, manteve-se firme, pediu desculpas pela maneira pouco convencional de entrar e disse-lhe que tinha questões de vital importância operacional a apresentar ao general. Por instantes, houve uma pausa incomoda e então, talvez devido aos vínculos existentes entre os escoceses, ou talvez por vislumbrar em Stirling um ar incomum de autoridade, Ritchie convidou-o a sentar-se. Assim começou a conversa. Tirando um memorando do bolso e lendo-o rapidamente. As operações que ele propôs eram muito diferentes das realizadas até então por qualquer outra unidade, inclusive as de commandos. Tratava-se de ataques por trás das linhas inimigas, com a finalidade de destruir alvos vulneráveis, como aeroportos, instalações militares e linhas de suprimento. Era importante que as incursões fossem realizadas por grupos pequenos, de quatro ou cinco homens, que poderiam atacar vários alvos simultaneamente - e com maiores chances de sucesso. Grupos assim, infiltrando-se por ar, mar ou terra, poderiam usar explosivos para causar danos significativos ao inimigo e, por serem pequenos, escapar à detecção. Havia uma grande quantidade de alvos sem proteção logo atrás das linhas inimigas. As vias de comunicação eram longas e os campos de pouso, espalhados, mostravam-se especialmente vulneráveis a essa forma de ataque.Stirling explicou que queria principalmente destruir a força aérea de Rommel em terra. 

A estratégia de Stirling, porém, ia mais longe. Visualizando a Europa, ele reconhecia a importância da montagem de operações ofensivas - executadas por seus homens ou por guerrilheiros locais, recrutados e treinados pela SAS, a partir de bases clandestinas dentro do próprio território inimigo. Isso explicava por que Stirling insistiu, desde o início, em dotar o SAS dos mais altos padrões de seleção, treinamento, versatilidade e disciplina. Stirling estava determinado a contornar a burocracia asfixiante dos oficiais do estado-maior e, por isso, deixou bem claro que o SAS deveria reportar-se diretamente ao próprio Comandante-em-Chefe, com o que concordava o próprio general Auchinleck. Sendo assim Stirling evitava ficar subordinado ao SOE no Oriente Médio e ao Diretor de Operações Combinadas. 

Ritchie pegou o documento, leu-o com atenção e então ergueu os olhos dizendo-lhe que aquilo talvez fosse o plano que o Comandante-em-Chefe estava procurando. Depois que o documento fosse minuciosamente estudado, Stirling seria chamado para outros debates. Com isto, ele convocou o chefe do Departamento do Ajudante-General que, procurando dissimular a surpresa, concordou em encarregar-se dos arranjos administrativos, caso o plano fosse aprovado.

No Exército Britânico, as famílias e as relações familiares têm muito, valor, talvez até demais. Investigando, Ritchie tranquilizou-se quando soube que Stirling vinha de boa família e que seus antepassados tinham lutado, durante séculos, nos confins do império; além disso, ele tinha dois irmãos nos Scots Guards e um outro era Terceiro-Secretário na Embaixada Britânica no Cairo. Talvez também lhe interessasse saber que, antes da guerra, David treinara para tornar-se o primeiro homem a conquistar o Monte Everest. O problema que o obrigava a claudicar e ao apoio da muleta havia sido causado por um acidente ocorrido num salto de pára-quedas, quando a seda deste se rasgou na cauda do avião. Ele estava treinando com Jock Lewes novas táticas de ataque usando pára-quedas no aeroporto de Mersa Matruh. Com isto, ele descera rápido demais, batendo mais forte contra o solo. Stirling passou dois meses num hospital de Alexandria, e teve tempo, como ele mesmo disse, "para avaliar os fatores que justificariam a criação de uma unidade de serviço especial para desempenhar o papel de comando". Ele ponderava sobre a organização do Comando Nº 8, e via que ele era grande demais e "pesadão". O que ele precisava era de uma unidade muito menor, onde pudesse locomover-se com rapidez, fazer seu trabalho em uma ou duas horas e dar o fora. Se a incursão fosse bem sucedida, então o inimigo teria grandes perdas; se fracassasse, a perda para a unidade seria mínima. Stirling arrazoava que, como exemplo de uso econômico do potencial humano, dificilmente se poderia aperfeiçoar a sua idéia.

As circunstâncias da guerra no deserto mostravam-se bastante favoráveis as idéias de Stirling. As forças de Rommel espalhavam-se pela região da Cirenaica, até a fronteira egípcia; o general Auchinleck, pressionado por Churchill, planejava e preparava a ofensiva Crusader, programada para novembro; e a Alemanha desviara seus esforços do Mediterrâneo para a Drang nach Osten (Ofensiva do Leste), com o objetivo de destruir a União Soviética. Nessa conjuntura, qualquer idéia de ação ofensiva dotada de grandes virtudes, como a originalidade e a ousadia, em especial, se tivesse muito a oferecer e pouco a exigir, certamente seria aceita, como ocorreu com a de Stirling.

Esse raciocínio não escapou a Auchinleck. Assim, três dias depois da sua entrevista com Ritchie, Stirling viu-se novamente no Q-G, onde lhe deram permissão para ir em frente. Ele poderia recrutar seis oficiais e 60 soldados e fazer um campo de treinamento na zona do Canal de Suez. Sua unidade ficaria sob o comando direto do Comandante-Chefe e sua primeira tarefa seria fazer uma incursão contra os aeródromos avançados alemães na noite anterior à ofensiva de novembro. Stirling seria promovido ao posto de capitão e seu comando passaria à designação de Destacamento L da Brigada de Serviço Aéreo Especial (SAS - Special Air Service). 

A razão do nome é a seguinte: O brigadeiro Dudiey Clarke, que fazia parte do estado-maior do Q-G do Oriente Médio, tentava enganar o inimigo sobre a ordem de combate exata dos aliados na região. Ademais, ele queria convencer o serviço de espionagem do Eixo de que os britânicos possuíam uma brigada de pára-quedistas aerotransportada completa, que contava inclusive com esquadrilhas de planadores. Quando o brigadeiro soube que Stirling pretendia formar uma unidade especial cujas habilidades incluiriam o pára-quedismo, persuadiu-o a chamá-la de Destacamento L (já que existia um obscuro Destacamento K), da Brigada de Serviço Aéreo Especial. Talvez o "L" tenha surgido porque muitos homens do SAS foram recrutados do Commando Nº 8 da Layforce.

Esses detalhes foram explicados pelo próprio Auchinleck que, ao fim da entrevista, apertou a mão de Stirling, desejando-lhe boa sorte. Stirling passou então aos acertos com o Diretor do Serviço de Inteligência militar e depois para a Equipe de Administração e Suprimentos, para cuidar dos detalhes da seleção e operação da sua unidade. Não é de surpreender que a atmosfera fosse um tanto reservada, se não hostil.

A razão será óbvia para qualquer um que tenha servido no exército (e não apenas no Exército Britânico). Normalmente, os soldados profissionais detestam as forças especiais, ou "exércitos particulares", como são freqüentemente chamados. Isto se deve em parte à inveja da publicidade e das oportunidades de promoção que tais unidades criam e, em parte, à crença de  que os resultados que conseguem não justificam em geral o dispêndio de homens e suprimentos que fazem. A opinião militar ortodoxa é que uma boa unidade padronizada pode ser treinada para fazer qualquer coisa. Sem dúvida cônscio dessa atitude, Stirling praticamente não se surpreendeu quando o pessoal da Administração lhe disse que não havia barracas disponíveis, e que ele teria de esperar que arrumasse. Era também óbvio que ele teria de lutar por outros suprimentos, a começar pelas canecas e equipamento de cozinha. Contudo, o que o tranqüilizava era saber que sua unidade estava diretamente subordinada ao Comandante-Chefe e, com o tempo, os suprimentos que solicitara teriam de vir de algum lugar _ ou Auchinleck iria querer saber a razão. Assim, sem se perturbar muito, Stirling concentrou-se rio recrutamento.

Como era de esperar, não houve escassez de voluntários. Para oficiais, ele escolheu Jock Lewes, do Welsh Guards, um soldado arrojado, mas também excelente organizador; um irlandês, McGonigal; dois ingleses, Bonnington e Thomas; e um escocês, Bill Fraser, cujos pai e avô haviam sido sargentos nos Gordon Highianders. Finalmente, ele recrutou Paddy Mayne,  um irlandês, jogador de rugby conhecido, de enorme físico, que se encontrava cumprindo pena de prisão por haver atacado um oficial superior. Mayne, quando se convenceu que havia uma oportunidade real de poder atacar o inimigo, concordou em servir. Sob que condições consentiram na sua libertação, é coisa ainda não esclarecida, mas no dia seguinte ele já estava trabalhando com Stirling.

Paddy Mayne.

Paddy Mayne,  um irlandês, jogador de rugby conhecido, de enorme físico e bem temperamental

 

Duas figuras lendárias do SAS conversam sob a sobra de um veículo no deserto: David Stiring a esquerda e Jock Lewes a direita

 O campo foi instalado em Kabrit, uma aldeia à margem do Grande Lago Amargo, a 160 km ao sul do Cairo, próximo ao Canal de Suez, consistindo de apenas três barracas _ duas pequenas, para os homens, e uma grande, para os mantimentos - um cartaz com o nome da unidade e umas poucas mesas, bancos e cadeiras. Excetuando-se o seu pequeno tamanho, ele era igual a qualquer outro existente na Zona do Canal. O calor, a poeira, as moscas e a paisagem nua e monótona eram também comuns a todos.

Mas Stirling não pretendia continuar nesse nível de subsistência e já explorara um campo exuberante, pertencente aos neozelandeses, situado a alguns quilômetros dali, que estava desocupado, guardado por algumas sentinelas indianas. A incursão noturna _ a primeira operação da sua unidade _ foi um grande sucesso e lhe rendeu não só 15 pequenas barracas, como também grande quantidade de móveis e equipamentos, incluindo um piano. Passadas 24 horas, Stirling encontrava-se na posse do campo mais elegante, num raio de quilômetros.

A tarefa seguinte era o treinamento. Desde o começo, Stirling deixou claro que, a despeito das características da tropa, não seria tolerado o descumprimento das obrigações impostas ao soldado regular, sobretudo as concernentes à disciplina. Do programa de adestramento fazia parte a leitura de mapas, tiro, uso de explosivos, desmonte de armas aliadas e inimigas, incluindo Berettas italianas e Schmeissers alemãs, saltos de pára-quedas, sobrevivência, fuga e evasão e exercícios noturnos no deserto. Os homens deveriam estar aptos a caminhar mais de 65 km com 30 kg em uma mochila. 

Refeitório do SAS em Kabrit

 

O segundo salto de pára-quedas do SAS

 

Homens do SAS em treinamento no deserto.

Homens do SAS em treinamento no deserto.

  

Um dos recrutas de Stirling, Fitzroy Maclean, lembra: "Por dias e noites seguidas, marchávamos sobre a areia fofa e os pedregulhos do deserto, com pesadas cargas explosivas, comendo e bebendo somente o que podíamos levar conosco. Nos intervalos, fazíamos treinamentos com armas, exercícios físicos e treinos de demolição e navegação".

Stirling preocupava-se bastante com a preparação física e psicológica dos homens. Stirling insistia tanto na manutenção dos mais altos padrões, que qualquer homem que não se mostrasse à altura deles ou mostra-se pânico nas emergências era imediatamente devolvido à unidade de origem. Ele também exigia que a disciplina, a limpeza, o rendimento e o comportamento do destacamento fossem tão bons como os da Brigada de Guardas. Em compensação, não admitia atos de violência entre seus homens quando estavam de folga no Cairo. A dureza deveria ser guardada para o inimigo. 

Como Stirling decidira que o SAS operaria em pequenos grupos, mostrava-se necessário que os diferentes membros de cada um deles, além de todas as habilidades gerais comuns aos integrantes da força, tivessem uma qualificação específica - em navegação (inclusive noturna), explosivos, rádio ou armas. E também como a natureza das operações, em geral, baseadas em fontes de informações extremamente sensíveis, necessitava de  segurança absoluta, ele exigia que seus homens fossem o mais discretos possível e não vazassem nada durante os seus períodos de folga ou em conversas com soldados de outras unidades. 

O treinamento de pára-quedismo foi um tanto superficial e improvisado. Dois homens morreram por não se terem aberto os pára-quedas. Todavia, tal desastre deu a Stirling a oportunidade de demonstrar a coragem e o sangue-frio que tinha, sendo ele o primeiro a saltar no dia seguinte.

No começo de novembro, os preparativos para a primeira operação passaram a ocupar-lhe a atenção. O plano, ambicioso, era fazer incursão contra cinco aeródromos avançados simultaneamente, mexendo assim com o grosso da força de caça de Rommel 

Havia, no entanto, grandes problemas a superar, e um dos importantes dizia respeito aos explosivos a ser usados. Como poderia um pequeno grupo transportar explosivos e bombas incendiárias suficientes para destruir os aviões e os motores extras ali existentes? Depois de muita discussão, concluíram que o melhor seria empregar uma bomba com as duas funções, mas um perito que veio do Cairo não se mostrou otimista. Os testes demorariam meses, anos talvez, advertiu ele, para fúria de Stirling. Quando o perito partiu, sentiu Stirling que se a unidade quisesse uma bomba especial, ela teria de inventá-la ali mesmo, e Jock Lewes começou as experiências. Depois de duas barulhentas semanas e muitos fracassos, ele conseguiu preparar uma bomba incendiária e explosiva, feita de plástico, óleo e térmita, pequena e leve, pesando pouco menos de meio quilo, mas bastante poderosa para destruir um avião. Calculando que um homem pudesse carregar doze bombas, era considerado ótimo o poder destrutivo da unidade, desde que, naturalmente, conseguisse chegar aos aviões.

Para testar o dispositivo, foi planejado um ataque simulado ao aeródromo de Heliópolis. Após marchar 150 km através do deserto durante a noite, escondendo-se durante o dia, foram colocados rótulos no lugar de bombas de aviões da RAF. Apesar de todo o ceticismo da Força Aérea britânica e de suas precauções quanto à segurança, o Destacamento L provou que a ação era viável.

A opinião no Cairo, exceto a de Auchinleck e Ritchie, era de que não o conseguiria. Durante o período de treinamento, oficiais de Estado-Maior do Exército e da RAF foram a Kabrit e mostraram-se espantados com o que estava acontecendo. Não podiam imaginar como é que Stirling conseguira vender sua idéia maluca . .. acrescentando que o poder de persuasão que revelou possuir era bem maior que seus conhecimentos militares.

Stirling, porém, não desanimava. Na verdade, a perseguição do Q-G aguçou ainda mais a sua decisão e, depois de alguns comentários irritantes feitos por um coronel-aviador da RAF, ele apostou que sua unidade poderia fazer uma incursão contra o aeródromo de Heliópolis e colar rótulos nos aviões, em lugar de bombas. A operação foi planejada com todo o cuidado e 40 homens participariam dela; eles teriam de chegar ao aeródromo sem ser notados, colocar 45 rótulos nos aviões e dar o fora. Após marchar 150 km através do deserto durante a noite, escondendo-se durante o dia, foram colocados rótulos no lugar de bombas de aviões da RAF. Apesar de todo o ceticismo da Força Aérea britânica e de suas precauções quanto à segurança, o Destacamento L provou que a ação era viável.

Um tanto atônito, o coronel que pegou a aposta com Stirling enviou-lhe um cheque de 10 libras e uma carta, dizendo que as defesas do aeródromo seriam melhoradas. Dizem as noticias que "foguetes" voaram em todas as direções por algum tempo e que o pessoal do serviço de segurança, em Heliópolis, ficou bastante abalado. O que importava para Stirling é que ele provara o que vinha afirmando.

Aeródromos do Eixo: O grande alvo do SAS no Norte da África. Na foto aeronaves Ju52 e Me110.

 


UM HOMEM DE VISÃO

David Stirling nasceu em 15 de novembro de 1915, em Keir, Stirlingshire e era filho do general-de-brigada Archibald Stirling. Ele foi educado no Ampleforth College e em Cambridge, mas dizem que muito da sua educação também veio das pistas de corrida de Newmarket e do White's Club.

Passou dois períodos em Cambridge, foi estudante de arte em Paris, depois foi trainee arquiteto. Em 1937 ele foi para os EUA e o Canadá, para escalar as montanhas Rochosas com o objetivo de treinar para ser o primeiro homem a escalar o Monte Everest. Pela sua passagem pela América do Norte ele trabalhou até como trabalhou como vaqueiro no Canadá e nos EUA.

Como era costume em sua família pouco antes de da sua viagem ele se alistou na reserva dos Scots Guards, pois acreditava que podia aprender algo de útil para a sua viagem a América. Nos Scots Guards ele detestou o treinamento básico e dormia freqüentemente durante as conferências sobre as táticas de infantaria da Primeira Guerra Mundial. 

Para fugir ao convencional ele se apresentou como voluntário para servir no 5º Batalhão de Guardas escoceses - uma unidade que treinou para usar esquis, sobrevivência em baixas temperaturas e pára-quedismo. O 5º batalhão seria enviado para a Finlândia para ajudar os finlandeses na sua guerra. Mas antes que esta unidade pudesse ser enviada para a Finlândia  e ver ação, os finlandeses foram derrotadas e forçados a assinar um tratado com os russos que na época tinham um pacto de não agressão com os alemães.Diante disso o 5º Batalhão foi licenciado. 

Logo após isso David entrou no Comando 8 (Guards) em meados de 1940. Como parte da Layforce, o comando partiu para o Oriente Médio para realizar ataques do tipo "destruir-e-fugir" contra as linhas de suprimento do Eixo.

O fracasso em ações contra alvos inimigos no litoral da Cirenaica levou Stirling a pensar em outros meios de realizar ataques de comando. Em meados de 1941, com o tenente Jock Lewes, do Welsh Guards, começou a experimentar o uso de pára-quedistas no aeroporto de Mersa Matruh. Acidentado quando saltou de um velho avião Valencia (ele bateu na cauda do avião e na queda machucou a sua espinha), Stirling passou dois meses num hospital de Alexandria, e teve tempo, como ele mesmo disse, "para avaliar os fatores que justificariam a criação de uma unidade de serviço especial para desempenhar o papel de comando".

Em julho, Stirling apresentou sua idéia ao QG do Comando do Oriente Médio, e recebeu permissão para recrutar 66 homens da Layforce. Stirling  foi promovido a capitão e apesar de uma certa indiferença oficial a força inicialmente conhecida como Destacamento L do Serviço Aéreo Especial , foi gradualmente ampliada nos meses seguintes. O nome da nova unidade era parte de um plano para convencer os alemães  que existia uma  brigada de tropas aerotransportadas no Egito. O Destacamento L tinha o seu acampamento localizado em Kabrit perto do Canal de Suez, o seu primeiro “assalto” foi a um acampamento neozelandês, para roubar equipamentos de que precisava.

David Stirling junto ao Ten. Edward McDonald e sua patrulha de Jeeps

O primeiro assalto contra as forças do Eixo na Líbia coincidiu com Operação Cruzado, que tinha o objetivo de aliviar a pressão sobre Tobruk, em novembro de 1941. A primeira operação de Stirling foi um desastre completo. Alguns homens foram lançados de pára-quedas próximo aos objetivos intencionais, aeródromos alemães, e só vinte e dois fizeram o encontro com a patrulha do LRDG que os levaria de volta  para território aliado.

Porém os sobreviventes regressaram logo aos combates ação, para Stirling era importante eles lançarem imediatamente outro assalto. Durante esse tempo o SAS contava com os veículos do LRDG para leva-los e traze-los de volta nas sua ações atrás das linhas inimigas.Em pouco tempo 61 aeronaves inimigas foram destruídas sem nenhuma perda para o SAS.

Logo depois Stirling foi promovido a Major e recebeu permissão de recrutar mais homens. Logo o SAS em cooperação com o LRDG, cuja missão principal era o reconhecimento profundo, estava invadindo com bastante regularidade a retaguarda inimiga. Às vezes, atacavam alvos no litoral com a ajuda do pessoal do SBS, mas a ênfase permaneceu nos aeródromos; freqüentemente várias pequenas equipes lançavam ataques em uma única noite, se movendo furtivamente pelo perímetro inimigo para colocar explosivos. O próprio Stirling certa vez dirigiu um Ford V8 modificado para se parecer com um  veículo de comando alemão, conhecido como  "Blitz Buggy". Ele certa vez em um de seus assaltos sofreu um sério acidente de carro. Dentro do carro estava o Capitão Randolph Churchill ,  o filho do primeiro-ministro, que serviu um tempo com o SAS.  Randolph se feriu no acidente. Além de lidar com as responsabilidades do comando, lidando inclusive com problemas de falta de recursos materiais e humanos, a oposição sempre presente dos oficiais do alto-comando, Stirling planejava todas as operações, como tomava parte na maioria delas.

Em 1942, Stirling recebeu maios reforços para o SAS. Ele também adquiriu jeeps e caminhões, o que lhe deu uma maior independência em relação LRDG e permitiu ao SAS empreender operações que duravam semanas em lugar de dias. Com este crescimento e sucesso veio também problemas maiores.

A maioria dos assaltos menores teve êxito, mas um assalto em setembro de 1942 a Benghazi não foi um sucesso. Lançado na mesma noite da ofensiva a Tobruk, envolveu quase todo o Destacamento L. Cerca de aproximadamente 100 homens do SAS atacaram  diretamente o perímetro do porto, que estava fortemente guardado. Diante de uma forte resistência o assalto foi cancelado; depois alguns dos jeeps do SAS foram atacados por aeronaves alemãs e foram destruídos.

Porém Stirling voltou ao Cairo com boas notícias. Ele foi promovido a Tenente-Coronel e se tornou oficial do 1º Regimento do Serviço Aéreo Especial. O 1 SAS foi reforçado também com uma companhia de pára-quedistas dos franceses livres, o nadadores-canoeiros do SBS, a unidade grega Esquadrão Sagrado, membros do Grupo Especial de Interrogação (SIG - Special Interrogation Group) e outros voluntários  das sobras dos comandos do Oriente Médio.

A boina bege, a adaga alada e as asas azuis dos pára-quedistas foram reconhecidas oficialmente, depois de terem sido usados em desafio ao regulamento durante algum tempo (o general Auchinleck tinha dado apenas a sua aprovação pessoal em relação a eles).

Quando se iniciou a ofensiva Aliada a El Alamein em novembro de 1942, Paddy Mayne e o Esquadrão A já estavam bem atrás das linhas inimigas. Stirling estava a caminho com Esquadrão B, para juntos atacarem as linhas de comunicação inimiga.

Eles realizavam patrulhas pequenas, de 2 ou 3 jipes cada, atacando objetivos ao longo de uma frente de 600km. Depois as operações foram direcionadas mais para o oeste diante da retirada das forças do Eixo para a Tunísia.

Jeep do SAS bem carregado e armado. Na frente tem uma .50 (carona) e uma Vickers K .303 simples (motorista).

Atrás está instalada uma Vickers K dupla.

Em janeiro de 1943 o SAS operava a frente do 8º Exército e procura fazer contato como 1º Exército britânico, que era parte das forças anglo-americanas que tinham desembarcado na Argélia durante a operação Tocha e estavam avançando para a Tunísia. Stirling e uma pequena patrulha estavam tentando entrar em contato com unidades do 1º Exército quando eles foram surpreendidos e capturados. Ele conseguiu escapar, mas foi novamente por uma patrulha italiana vários dias depois. 

David Stirling foi inicialmente enviado para o acampamento prisioneiros de guerra italiano em Gavi, mas depois de quatro tentativas de fuga ele foi transportado para um campo de prisioneiros de guerra de segurança máxima, o Castelo de Colditz, na Alemanha, onde passou o resto da guerra contra os alemães.

Quando foi soltou ele voltou ao SAS e se preparava para executar assaltos com unidades do SAS contra o Japão, especialmente na Malásia e na Manchúria. Mas com o final da guerra foi desmobilizado. Ele considerou a possibilidade de servir o exército em tempo de paz, mas logo rejeitou essa idéia.

 

David Stirling décadas depois da II Guerra

Em 1946 Stirling foi morar na África passou pela Rodésia e o Quênia onde se envolveu com a igualdade racial e teve vários negócios, incluindo a agricultura e a indústria de madeira. Também trabalhou como um alto executiva de um canal de televisão em Hong Kong. Depois ele voltou ao Reino Unido e durante os anos sessenta se envolveu com o apoio a guerrilha no Iêmen, que lutava contra as tropas do Egito que tinha deposto a realeza iemita. Uma força de cerca de cinqüenta mercenários britânicos e franceses lutaram nesta campanha que em última instância terminou em fracasso devido ao grande número de soldados egípcios (aproximadamente 50.000) e a retirada britânica do Protetorado de Aden.  

Em 1967 Stirling fundou a companhia de segurança  Watchguard, com um ex-comandante do 22SAS, John Woodhouse. A companhia usava ex-membros do SAS e era principalmente usada para treinar os militares dos sultanatos do Golfo Pérsico (normalmente a guarda palaciana e unidades de forças especiais), também proporcionava apoio para as suas operações contra movimentos rebeldes e dissidentes internos; a companhia rapidamente se expandiu para proporcionar equipes de consultores militares para vários governos estrangeiros, particularmente no Oriente Médio, mas também na África, América Latina e no Extremo Oriente.Stirling também esteve envolvido com uma companhia de televisão. 

Stirling não ficou muito tempo com a Watchguard e nos anos setenta o seu interesse principal era com o Better Britain Society, um grupo interessado na reforma constitucional do Reino Unido.

Ele voltou para a indústria de segurança nos anos oitenta. Em 1986, Stirling criou a Empresa Kilo Alpha Services  - KAS, com Ian Crooke (ex-comandante do 23 SAS), responsável em conduzir a ”Operation Lock'' (Lock era o nome de solteira da esposa de Crooke ) que tinha o objetivo de lutar contra a caçar clandestina na África do sul, com o apoio da World Wildlife Federation - WWF.

Na verdade a Operação Lock era uma fachada, pois a força mercenária da KAS esteve envolvida no combate a dissidentes políticos e movimentos rebeldes hostis ao governo da  África do Sul, durante 1987-90. A KAS operou na própria África do Sul, Namíbia e possivelmente em Angola e Moçambique, sobre a cobertura de estar dando combate a caçadores que estavam caçando os rinocerontes negros em extinção da África do Sul, para vender suas peles e chifres no mercado negro.

Ele recebeu o título de Cavaleiro pouco antes de sua morte em 4 de novembro de 1990. Sir Archibald David Stirling morreu com 75 anos e foi enterrado em St Cumins, nas margens de Loch Morar, Escócia. No ano seguinte o SAS completaria 50 anos de fundação. O impacto de Stirling nas operações especiais foi destacado pelo Chefe da Força Delta, a unidade ultra-secreta de operações especial dos EUA, que posteriormente disse: “Nós da Força Delta construímos a  nossa filosofia, organização e conceitos operacionais a partir do SAS criado por Sir David Stirling  Seus princípios e idéias são tão atuais hoje como eram na época da 2ª Guerra Mundial. O laço comum entre as forças especiais do Mundo Ocidental é que todos nós localizamos nossas raízes nele e em sua visão inovadora.”

Acredita-se que durante toda a sua vida pós-2ª guerra mundial ele esteve a serviço do império britânico, usando empresas de seguranças que empregavam ex-membros do SAS para realizar operações clandestinas para a Inglaterra, seja a serviço encoberto do próprio SAS ou do MI6.

David Stirling teve uma relação próxima com a família real durante todo sua carreira. Stirling, que era membro de uma das famílias mais tradicionais e ricas da Escócia, serviu como o "Goldstick" na coroação em 1952 da rainha Elizabeth. O Goldstick é o oficial real, exigido na solenidade para prover  a proteção do soberano. Até sua morte em 1990, Stirling era o principal conselheiro militar para o WWF - World Wide Fund for Nature do príncipe Philip, que era a mais importante agência de inteligência privada da família real. O SAS é o braço militar do WWF.


A BASE DE KABRIT

 

Treinamento em Kabrit

Depois de receber permissão para criar o Destacamento L, Stirling reuniu os recrutas num acampamento em Kabrit, perto do canal de Suez, em julho de 1941. O primeiro ataque já estava programado para novembro. Bob Bennett, membro da equipe original, lembra a agitada rotina: "Quando chegamos a Kabrit, um dos colegas perguntou: 'Onde está o acampamento?' Stirling então respondeu: 'Essa é sua primeira missão'. 

Ao escurecer, descemos até um acampamento neozelandês, que era guardado por sentinelas indianos, e roubamos tudo, inclusive toldos e tendas para todos nós. Então, o treinamento intensivo começou, comandado pelo tenente Jock Lewes -  um homem muito duro, que nos fazia trabalhar como condenados. Fazíamos exercícios físicos, travessias de canais, marchas noturnas, leitura de mapas e exercícios de tiro.

Depois, começamos o curso de pára-quedismo. Primeiro, saltamos de plataformas de 4 m de altura, mas, depois, alguém teve a 'brilhante' idéia de nos fazer pular de caminhões em movimento, a 50 km/h. Após três tentativas, estávamos todos machucados e cheios de escoriações, e a idéia foi abandonada. 

O primeiro salto real, a partir de aviões British Bombay, também abortou, devido à morte de dois homens. Naquela noite, fomos para a cama com o máximo de cigarros possível, e fumamos até o amanhecer. No dia seguinte, todo mundo saltou. Foi nesse momento que percebi que estava com um grupo de colegas extraordinários. 

Um pouco antes da primeira missão, fizemos uma marcha forçada de quatro dias pelo deserto, de Kabrit ao aeroporto de Heliópolis. Quando chegamos, colocamos rótulos nos aviões da RAF. Stirling tinha apostado que o destacamento poderia penetrar furtivamente no aeroporto e depois escapar, sem ser percebido. O sucesso da ação contribuiu para comprovar suas idéias".


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